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Ártico: palco de novas disputas geopolíticas. Parte IV: Groenlândia.



O Blog vem acompanhando o cenário geopolítico da região ártica, e com isso este artigo é o quarto da série sobre o tema, os anteriores, que recomendamos a releitura, podem ser acessados nos links: https://www.atitoxavier.com/post/ártico-palco-de-novas-disputas-geopolíticas-parte-iii-da-cooperação-para-competição, https://www.atitoxavier.com/post/ártico-palco-de-novas-disputas-geopolíticas-parte-ii-início-do-atrito, e https://www.atitoxavier.com/post/ártico-palco-de-novas-disputas-geopolíticas-como-no-passado. Em que pese a Groenlândia possuir uma localização estratégica, bem como ser alvo de cobiça por importantes atores internacionais, só recentemente ela entrou no radar do interesse do público em geral, em virtude dos recentes discursos do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Assim, o presente o artigo tem a intenção de apresentar ao leitor os motivos da importância dessa imensa ilha no cenário geopolítico atual.

A Groenlândia, a maior ilha do mundo, localizada entre o Oceano Atlântico Norte e o Oceano Ártico, possui uma posição geográfica estratégica que a torna um ponto focal nas disputas geopolíticas contemporâneas envolvendo Estados Unidos, Rússia, OTAN e China. Sua importância é amplificada pelas mudanças climáticas, que estão transformando o Ártico em uma região mais acessível e economicamente viável, despertando o interesse de diversas potências mundiais.


Convém relembrar que o Ártico é uma região rica em recursos naturais, incluindo petróleo, gás natural e minerais estratégicos. Estima-se que cerca de 13% das reservas não descobertas de petróleo e 30% das de gás natural do mundo estejam localizadas nessa área. Além disso, o derretimento das calotas polares está abrindo novas rotas marítimas, como a Passagem do Noroeste e a Rota do Mar do Norte, reduzindo significativamente o tempo de viagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Esse cenário faz do Ártico um território estratégico para o comércio, segurança e exploração de recursos.

Nesse sentido, a Groenlândia, território autônomo sob soberania do Reino da Dinamarca, possui uma localização que a coloca no centro das rotas transárticas emergentes. Sua proximidade com o subcontinente norte-americano e o Ártico a torna uma peça-chave para o monitoramento e controle das atividades na região, principalmente no tocante a movimentação das forças russas, em especial os seus submarinos. Além disso, a ilha abriga a Base Aérea de Thule, a instalação militar mais ao norte dos EUA, essencial para o sistema de alerta de mísseis e defesa espacial. Ademais, a Groenlândia possui um grande potencial de exploração de terras raras, que são fundamentais para o desenvolvimento tecnológico e para a Geopolítica dos Microchips - sugerimos a leitura do nosso artigo "A Geopolítica dos Microchips: a nova guerra entre o Ocidente e a China e os possíveis impactos no mundo", de 12 de janeiro de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-geopolítica-dos-microchips-a-nova-guerra-entre-o-ocidente-e-a-china-e-os-possíveis-impactos-no-mu. Além disso, possui grandes reservas de petróleo e gás natural. Outro ponto importante é a quantidade de gelo que a ilha possui, sendo muito relevante para a emergência climática.


Fonte: Modified from a Simplified Map by the Geological Survey of Denmark and Greenland. Figura disponível em https://www.nature.com/articles/532296a

Os EUA têm demonstrado um incremento no interesse pela Groenlândia, devido a sua relevância estratégica no contexto do Ártico, pois neste século estamos na era da competição entre as grandes potências: EUA, China e Rússia. No artigo "Ártico: palco de novas disputas geopolíticas, como no passado", de 24 de maio de 2020, afirmamos que o Ártico é mais um grande palco para a disputa entre as grandes potências atuais: EUA, Rússia e China, que elevará a tensão na região, como no período da Guerra Fria.

Esse interesse foi evidenciado em 2019, quando o então presidente Donald Trump sugeriu, de forma controversa, a compra da Groenlândia. À época, a proposta foi amplamente rejeitada por autoridades dinamarquesas e groenlandesas, sendo vista como um gesto simbólico das aspirações estadunidenses para a região.

No entanto, durante sua mais recente campanha presidencial, Donald Trump elevou o tom ao sugerir que os EUA poderiam usar o poder militar para "proteger seus interesses estratégicos no Ártico, incluindo a Groenlândia". Embora não tenha declarado diretamente a intenção de invadir ou anexar o território, Trump argumentou que o domínio sobre a Groenlândia seria essencial para conter a crescente influência russa e chinesa na região, o que suscitou grande preocupação em toda a Europa Ocidental. É digno de nota que o governo de Pequim vem tentando aumentar a sua influência na região com a iniciativa da Rota da Seda Polar - Polar Silk Road, em especial na Groenlândia com projetos de mineração e de infraestrutura.



O discurso de Trump reforçou o movimento groenlandês pela independência da Dinamarca, o que poderá ser uma oportunidade tanto para os EUA quanto para a China ganhar proximidade com um futuro governo groenlandês, em virtude de uma possível parceria comercial, quiçá militar.

Seguem outras possíveis implicações geopolíticas do discurso de Trump:

1. Pressões sobre a Dinamarca: A declaração de Trump coloca o Reino da Dinamarca, que administra a Groenlândia, sob pressão significativa. A Dinamarca já enfrenta desafios para justificar investimentos na ilha e fortalecer sua presença militar no Ártico. A retórica de Trump pode levar a uma intensificação das tensões diplomáticas entre os EUA e a Dinamarca, especialmente considerando a recusa dinamarquesa anterior de qualquer negociação sobre o território.

2. Escalada Militar no Ártico: A menção ao uso do poder militar pode levar outras potências, como Rússia e China, a reforçar suas capacidades no Ártico. A Rússia, que já possui a maior presença militar na região, poderia usar os discursos de Trump como justificativa para expandir ainda mais suas bases no Ártico, consolidando sua posição estratégica.

3. Dilema da OTAN no Ártico: A OTAN tem intensificado suas atividades no Ártico em resposta às ações russas e ao crescente interesse chinês. Os discursos de Trump também podem pressionar, ainda mais, os países europeus da OTAN a intensificar sua atuação no Ártico. Países como Noruega e Canadá, membros-chave da aliança, podem aumentar seus esforços para monitorar e conter possíveis ameaças à estabilidade regional. Cabe pontuar que os EUA são o principal país da OTAN, o que traz um dilema para a aliança. A retórica de Trump pode representar um novo desafio para a aliança, ao forçá-la a equilibrar os interesses individuais dos EUA com a necessidade de manter a estabilidade regional e evitar conflitos diretos no Ártico

4. Repercussões Internacionais: A proposta de Trump pode ser percebida como um desafio direto ao direito internacional e à soberania dinamarquesa sobre a Groenlândia. Essa postura pode gerar condenações globais e levar ao isolamento diplomático dos EUA em fóruns multilaterais.

Portanto, em nossa visão, os discursos recentes de Donald Trump sobre a Groenlândia reforçam a centralidade estratégica da ilha nas disputas pelo Ártico. Embora possam ser vistos como uma retórica exagerada, como vários analistas e alguns Chefes de Estado acreditam, suas declarações aumentam as tensões geopolíticas na região, potencialmente levando a uma maior militarização e competição entre grandes potências.

O Blog é de opinião que a Groenlândia, com sua localização estratégica e recursos abundantes, continuará sendo uma peça-chave no tabuleiro geopolítico do Ártico. No entanto, a recente assertividade dos EUA, combinada com a possível resposta de outras potências, destaca a necessidade urgente de governança cooperativa para garantir que o Ártico permaneça uma região de oportunidades e não de conflitos.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 11/01/2025:

Matéria de 10/01/2025:

Matéria de 08/01/2025:

Matéria de 08/01/2025:

Matéria de 10/01/2025:


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