Estima-se que haja no Ártico, ainda não descobertas, 30% das reservas mundiais de gás, 13% das reservas de petróleo globais, 1 trilhão de dólares em minerais raros, grande reserva pesqueira. Aliado a isso, existe a expectativa da abertura da navegação na região, para as próximas 2 décadas, que fará com que o tráfego marítimo entre a Ásia e a Europa diminua em cerca de 10 dias trazendo uma elevada economia para as empresas de navegação, e melhorando a cadeia logística mundial. Nesse diapasão, verifica-se que essa região, que sempre foi importante geopoliticamente, ganha um maior destaque no cenário internacional e seja alvo de interesse de vários países.
Em 2020 chamamos a atenção para a região ártica com o nosso artigo "Ártico: palco de novas disputas geopolíticas, como no passado", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/ártico-palco-de-novas-disputas-geopolíticas-como-no-passado, onde afirmamos que:
o Ártico tem ganhado cada vez mais destaque internacional por causa dos possíveis recursos naturais que poderão ser mais facilmente explorados devido a diminuição da sua camada de gelo.
a Rússia vem aumentando a militarização da região com a instalação de várias bases militares, tem aumentado a presença naval com submarinos balísticos com capacidade de lançar mísseis com ogivas nucleares e com outros meios navais, bem como possui a maior frota de navios quebra-gelos da região.
a China obviamente vem mostrando interesse na região, tanto no aspecto da navegação marítima, quanto no econômico (devido aos potenciais recursos a serem explorados) que são estratégicos para esse país. Isso faz com que o governo chinês deseje colocar essa região no empreendimento da "nova rota da seda".
os EUA reativaram a Segunda Frota, e pela primeira vez, depois de mais de 30 anos após o fim da Guerra Fria, a marinha estadunidense (US Navy) tem realizado viagens regulares ao círculo ártico, deixando claro que está de volta a região, e que está pronta para questionar o "reinado"da força submarina russa na área, bem como defender os seus interesses.
a OTAN também tem demonstrado preocupação com a ameaça russa na região da Europa do Norte, onde ficou traduzida pela realização do exercício Trident Juncture 2018, que foi o mais complexo e maior exercício desde a Guerra Fria, demonstrando que a Noruega está apta para servir como base logística para o desenvolvimento de ações pela aliança no Ártico e na Europa do Norte.
o retorno da importância da guerra antissubmarino, e que o Ártico seria mais um grande palco para a disputa entre as grandes potências atuais: EUA, Rússia e China, que elevará a tensão na região, como no período da Guerra Fria.
A diminuição da camada de gelo da região ártica está relacionada à emergência climática em que analisamos esse tema no nosso artigo "A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-emergência-climática-e-os-seus-possíveis-impactos-na-geopolítica-mundial, em que dissemos que uma consequência do aquecimento global tem sido a nova disputa geopolítica da região do Ártico entre as grandes potências atuais: EUA, Rússia e China, que elevará a tensão na região, como no período da Guerra Fria, devido a nova rota marítima que se descortina. Sugerimos a releitura desse artigo.
A OTAN, promulgou em 25 de novembro de 2020, o documento intitulado NATO 2030: United for a New Era Analysis and Recommendations of the Reflection Group Appointed by the NATO Secretary Generall, e que foi analisado no Blog em seu artigo "OTAN 2030 - possíveis impactos geopolíticos no cenário internacional. O Brasil será impactado?", que pode ser acessado em https://www.atitoxavier.com/post/otan-2030-possíveis-impactos-geopolíticos-no-cenário-internacional-o-brasil-será-impactado, demonstrando a sua preocupação com o Ártico e com as ameaças sino-russa nessa região.
Nesse cenário, o Departamento da Marinha dos EUA promulgou, em 05 de janeiro deste ano, a sua nova estratégia para o Ártico chamada A Strategic Blueprint for the Arctic, disponível no Blog no link: https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_0faece8a08c9406eb3d5c79651a29cf9.pdf, que se baseia no tripé: presença constante no Ártico - cooperação com os aliados e agências estadunidenses - modernização de suas forças para operar no Ártico, com o intuito de fazer frente as ameaças da Rússia e da China, manter a liberdade de navegação na região ártica e aumentar a segurança na região. Dessa forma, a US Navy deverá atuar de forma mais assertiva no Ártico por meio de patrulhas constantes e de operações conhecidas como Operações de Liberdade de Navegação (Freedom of Navagation Operations - FONOPS), o que certamente irá marcar o início de possíveis atritos. Porém, os EUA possuem uma fragilidade no tocante a navio quebra-gelos, que terá de solicitar apoio aos seus aliados da região, pois atualmente o governo estadunidense só possui um navio desse tipo operacional, e que pertence a US Coast Guard. Sendo assim, foi aprovado pelo congresso estadunidense, em 2020, recursos para aquisição de novos navios quebra-gelos.
Outrossim, é esperada a realização, nos próximos anos, de exercícios militares regulares no Ártico pela OTAN, bem como uma maior presença da Guarda Costeira estadunidense. Além disso, é muito provável o aumento da cooperação entre a China e a Rússia na exploração da região Ártica, bem como o incremento de suas presenças militares.
Existe uma grande preocupação por parte de instituições ambientalistas internacionais no tocante a uma possível degradação do meio ambiente ártico, em virtude das atividades exploratórias que começam a acontecer em maior grau na região, principalmente pelos russos. Convém mencionar, que o governo russo vem tentando atrair investimentos estrangeiros para aperfeiçoar a sua infraestrutura na região ártica, com o intuito de modernizar e implementar uma maior capacidade de exploração dos recursos naturais. É digno de nota que o governo de Moscou vem "apostando alto" no Ártico, visando dinamizar a sua debilitada economia.
O Blog é de opinião que a partir de 2021 haverá um aumento da militarização no Ártico, e que favorecerá a ocorrência de atritos e tensões entre os países ocidentais (OTAN), Rússia e China, a exemplo do que ocorre no Mar do Sul da China. Outrossim, a navegação pela região ártica diminuirá a importância do Canal de Suez para os asiáticos, devido a maior rapidez e economia proporcionada pela navegação austral, que dinamizará a cadeia logística mundial.
É interessante que acompanhemos o desenrolar dos eventos com atenção, pois os efeitos do aquecimento global poderão afetar a Antártica em mais longo prazo, e poderemos ter a ocorrência de um cenário semelhante nessa região que é do nosso interesse. Com isso, devemos nos preparar adequadamente. Relembramos que os termos do Tratado Antártico terminam em 2048.
Qual a sua opinião sobre o assunto?
Seguem alguns vídeos para ajudar as nossas análises:
Matéria de 08/01/2021:
Matéria de 14/08/2020:
Matéria de 08/01/2021:
Matéria de 15/12/2020:
Matéria de 09/09/2020:
Matéria de 17/07/2019:
Matéria de 12/12/2020:
Matéria de 19/06/2019:
Matéria de 30/06/2020:
Matéria de 08/01/2021:
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