A região ártica consiste do Oceano Ártico e das áreas terrestres da Rússia, EUA (Alaska), Canadá, Noruega e Dinamarca (Groenlândia). Alguns desses países têm reivindicado territórios nessa região junto as Nações Unidas, como a Noruega e a Rússia.
Nos últimos anos com o aumento da temperatura ao redor do mundo, o Ártico tem ganhado cada vez mais destaque internacional por causa dos possíveis recursos naturais como petróleo e gás, que poderão ser mais facilmente explorados, além de outros recursos (pesca, minerais etc) que estão avaliados potencialmente em cerca de 30 trilhões de dólares, bem como pelas futuras rotas de navegação marítimas, que conseguiriam economizar aproximadamente 40 porcento dos custos de combustível, além de menor tempo de viagem.
Atenta a importância geopolítica do Ártico, a Rússia vem aumentando a militarização da região com a instalação de várias bases militares, tem aumentando a presença naval com submarinos balísticos com capacidade de lançar mísseis com ogivas nucleares e com outros meios navais, bem como possui a maior frota de navios quebra-gelos da região, visando manter a Rota Marítima do Norte (Northern Sea Route - NSR), que passa pela Zona Econômica Exclusiva russa, aberta para navegação no maior tempo possível, interligando os Oceanos Pacífico e Atlântico, fazendo com que o comércio marítimo entre a Ásia, principalmente a China, com a Europa do Norte seja mais barato e rápido em relação ao Canal de Suez (40%) ou Cabo da boa Esperança (60%).
Com isso, o governo russo vem impondo aos navios que transitam no local que solicitem autorização para utilizar essa rota marítima, utilizem o serviço de praticagem russa, e paguem uma taxa, alegando que tais custos seriam para compensar o esforço russo de manter a NSR aberta.
Nesse sentido, com a diminuição da camada de gelo, a navegação na região tem aumentado.
A China obviamente vem mostrando interesse na região, tanto no aspecto da navegação marítima, quanto no econômico (devido aos potenciais recursos a serem explorados) que são estratégicos para esse país. Isso faz com que o governo chinês deseje colocar essa região no empreendimento da "nova rota da seda"(já comentado em post anterior sobre a China).
Desde 1999, a China vem realizando várias expedições ao Ártico, bem como construiu uma base de pesquisa em 2004, chamada Yelow River Station, no arquipélago norueguês de Svalbard. Em 2018, em sua política para o Ártico, o governo chinês se proclamou como o "próximo Estado Ártico", trazendo muita controvérsia ao tema. Além disso, tem-se verificado uma presença maior de meios navais chineses no Atlântico Norte, que é quase indissociável do Ártico, sendo mais uma ameaça aos interesses e à segurança dos EUA.
Neste cenário de militarização russa do Ártico, com o rejuvenescimento da sua Força de Submarinos, e o interesse chinês na região, e a maior presença das marinhas russa e chinesa no Atlântico Norte, os EUA reativaram a Segunda Frota, e pela primeira vez, depois de mais de 30 anos após o fim da Guerra Fria, a marinha estadunidense (US Navy) tem realizado viagens regulares ao círculo ártico, deixando claro que está de volta a região, e que está pronta para questionar o "reinado"da força submarina russa na área, bem como defender os seus interesses. Isso faz voltar a importância da guerra antissubmarino, e deixar a área tensa. Além disso, o governo Trump tentou adquirir a Groenlândia, como parte da estratégia estadunidense em incrementar a sua deterrência contra os seus principais competidores (Rússia e China), com a instalação de defesa antimísseis, mas não obteve sucesso.
A OTAN também tem demonstrado preocupação com a ameaça russa na região da Europa do Norte, onde ficou traduzida pela realização do exercício Trident Juncture 2018, que foi o mais complexo e maior exercício desde a Guerra Fria, demonstrando que a Noruega está apta para servir como base logística para o desenvolvimento de ações pela aliança no Ártico e na Europa do Norte.
Porém, por enquanto, a Rússia é o maior poder militar na área, além de possuir a melhor infraestrutura para operar e explorar a região.
Em 2016, Rússia e China realizaram uma expedição conjunta no Ártico, que poderá tornar realidade a "nova rota da seda"pela região, e consolidar a NSR, o que corrobora a teoria do blog sobre a aliança geopolítica sino-russa para contestar a supremacia dos EUA no mundo, bem como do mundo estar menos previsível e menos seguro.
Como podemos ver o Ártico é mais um grande palco para a disputa entre as grandes potências atuais: EUA, Rússia e China, que elevará a tensão na região, como no período da Guerra Fria.
Sugiro a releitura da postagem: Nova realidade: A competição entre as grandes potências é prioridade sobre o combate ao terrorismo.
Seguem alguns vídeos sobre o tema (legendas podem ser inseridas):
Qual a sua opinião sobre o tema? Estamos retornando ao período da "Guerra Fria"?
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