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África, palco de disputas geopolíticas. Parte III: Níger.


Figura disponível em https://www.saberespractico.com/geografia/paises-de-africa/

O Blog considera a África um continente muito importante por várias razões, como história, geopolítica, especialmente impacto para o Brasil, e pelos laços que unem os brasileiros e os africanos, e por isso tem uma Seção dedicada a ela que pode ser acessada em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1frica.

Nesse sentido, temos observado um aumento da instabilidade política, desde 2020, por meio de Golpes de Estado e de algumas tentativas sem sucesso, o que vem demonstrando um enfraquecimento dos regimes democráticos da região, ainda mais quando regimes militares estão sendo estabelecidos no poder.

A análise acima pode ser verificada no nosso artigo "Instabilidade no Entorno Estratégico Brasileiro: Golpes de Estado na África Ocidental", de 12 de fevereiro de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/instabilidade-no-entorno-estratégico-brasileiro-golpes-de-estado-na-áfrica-ocidental, que recomendamos a leitura. Nesse artigo, dentre várias análises, dissemos que tem havido um deslocamento de grupos terroristas fundamentalistas islâmicos, notadamente de grupos afiliados a Al Qaeda e ao Estado Islâmico, da Líbia para o Sahel, a fim de lutar contra a presença francesa, considerada colonialista na região. Nesse quadro, observamos o aumento da presença de mercenários russos no Mali, como o Wagner Group, ocupando o espaço francês. Dessa forma, fica nítida uma disputa geopolítica entre os russos e franceses no Sahel.

O insucesso no combate ao terrorismo na região pelos governos africanos que contam com o apoio do Ocidente, mais precisamente franceses e estadunidenses, tem contribuído para agravar a instabilidade política, o que tem sido aproveitado pelos russos, especialmente o Grupo Wagner, que tem incrementada a sua atuação na África.

Com o exposto acima, podemos concluir que os países africanos possuem uma grande dificuldade em combater grupos insurgentes, denotando que as suas forças armadas não estão preparadas e organizadas para esse fim, precisando terceirizar essa tarefa para Empresas Militares Privadas e para outros países, que anteriormente eram as forças ocidentais, como a França, EUA etc.

Além disso, os recentes discursos de Yevgeny Prigozhin - líder do Grupo Wagner -, vêm inflamando a opinião pública de alguns países africanos contra as potências ocidentais, conhecidas como colonialistas - EUA e aliados europeus.

Nesse cenário, em 26 de julho de 2023, aconteceu um Golpe de Estado no Níger, em que o Presidente do país, Mohamed Bazoum que era considerado como um aliado relevante do Ocidente na luta contra grupos militantes islâmicos na África Ocidental, foi preso por uma junta militar. Convém mencionar que o Níger é um dos principais fornecedores de urânio para a União Europeia - UE, principalmente a França.

É digno de nota que tanto Mali e Burkina Faso quanto agora o Níger romperam suas relações com a França, o que para o Blog não se trata de uma coincidência, ainda mais que são países vizinhos. Com isso, podemos inferir a construção de um bloco antiocidental na África.

O Níger, antes do Golpe, vinha enfrentando insurgentes islâmicos no sudoeste - provenientes do Mali - e no sudeste - Boko Haram, originário da região norte da Nigéria. Dessa forma, o líder do Grupo Wagner se apresentou como um possível aliado no combate aos insurgentes, como fez no Mali, e conforme constante na matéria da CNN intitulada "Líder golpista do Níger se reúne com junta aliada do Grupo Wagner no Mali", disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/lider-golpista-do-niger-se-reune-com-junta-aliada-do-grupo-wagner-no-mali/:


"O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, comemorou na semana passada o golpe no país da África Ocidental, dizendo que sua companhia militar privada também poderia ajudar em situações como a que está ocorrendo no Níger."


Figura disponível em https://www.bbc.com/news/world-africa-13943662

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental manifestou a intenção de intervir militarmente no Niger para restabelecer o governo deposto, o que tem gerado discursos belicosos pelo atual governo nigerino, bem como pelos governos do Mali e de Burkina Faso, que apresentaram a disposição de apoiar a junta militar num possível conflito entre o Niger e países que tentarem usar a força para restabelecer o governo deposto.

Assim, Nigéria, Senegal e Costa do Marfim teriam confirmado a disponibilidade de empregar as suas forças armadas para restabelecer a ordem no Niger, o que poderá escalar a crise.

Outrossim, países como a França e a Alemanha estão aplicando sanções econômicas contra o Niger.

É importante frisar que a China é o segundo maior investidor no país, após a França, em que seus maiores interesses estão na exploração de petróleo, via PetroChina, e urânio, por meio da China National Nuclear Corporation, conforme matéria da REUTERS, chamada "China's oil and uranium business in Niger", que pode ser lida em https://www.reuters.com/markets/commodities/chinas-oil-uranium-business-niger-2023-07-31/. Logo, com as sanções econômicas francesas e o rompimento das relações, a China poderá se transformar no principal investidor econômico no Niger, aumentando a sua influência no país.

Portanto, com a crise no Niger, vemos que a África continua sendo um palco de disputas geopolíticas entre as grandes potências, como analisamos em nossos artigos, como "África, palco de disputas geopolíticas. Parte II", de 25 de abril de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/áfrica-palco-de-disputas-geopolíticas-parte-ii , em que mostramos os principais protagonistas naquele continente.

Nesse sentido, podemos verificar que vem ocorrendo um declínio da influência ocidental e um aumento das influências russa e chinesa.

Ademais, em nossa opinião, russos e chineses têm sido os principais competidores na África, em que pese terem uma "parceria estratégica" e com adversários comuns - Ocidente -, sendo que a Rússia o faz por meio de acordos militares, e a China por intermédio de acordos econômicos.

Figura disponível em https://twitter.com/thecradlemedia/status/1687103033522716673?s=12&t=0J6e15K6Xp9AjKfCxAYrIQ

A figura acima corrobora as nossas análises constantes no artigo "O conflito na Ucrânia e o aumento da importância geopolítica da África", de 03 de abril de 2022, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/o-conflito-na-ucrânia-e-o-aumento-da-importância-geopolítica-da-áfrica, em que afirmamos a importância da Rússia para os africanos, pois esse país é o principal exportador de armas para a África, principalmente quando alguns governos locais sofrem embargos ocidentais no mercado armamentista.

Figura disponível em https://www.poder360.com.br/economia/china-investiu-us-34-bilhoes-na-africa-na-ultima-decada/

Para o caso chinês sugerimos a leitura dos nossos artigos "A Nova Rota da Seda e seus impactos na África", de 03 de julho de 2020, e "Global Gateway: o projeto europeu para tentar conter a influência chinesa", de 07 de dezembro de 2021, disponíveis respectivamente em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-rota-da-seda-e-seus-impactos-na-áfrica, e https://www.atitoxavier.com/post/global-gateway-o-projeto-europeu-para-tentar-conter-a-influência-chinesa.

Portanto, vemos na África a disputa sino-russa contra o Ocidente, o que pode se apresentar como uma ameaça ou oportunidade para o Brasil:


- ameaça: perda da influência brasileira junto à África, e risco de instabilidade na África Ocidental, por meio de ações de grupos insurgentes islâmicos que poderão contribuir para Golpes de Estado. Cabe relembrar que a África Ocidental faz parte do Entorno Estratégico Brasileiro - EEB, e que não nos interessa problemas de grande magnitude nessa região, pois poderá nos afetar no futuro. O problema insurgente africano, que pode afetar os interesses nacionais, sinaliza para o Ministério da Defesa brasileiro que deve ter atenção a isso, visando preparar adequadamente as suas Forças Armadas; e


- oportunidade: o Brasil poderá oferecer à África aquilo que as potências não têm feito, como apoio a segurança alimentar, com o intuito de recuperar o seu protagonismo na região. Além disso, o Brasil pode se tornar em um grande fornecedor de urânio para a UE.


O Blog é de opinião que o Golpe de Estado no Niger, com a aproximação do Grupo Wagner, demonstra e corrobora as nossas análises de que a África continua sendo um palco de disputas geopolíticas entre as grandes potências.

Além disso, o artigo demonstra que a China e a Rússia têm competido na região por influência usando modus operandi distintos, o que podemos concluir que, no momento, acaba sendo benéfico para ambos os países, pois "minam" o Ocidente na África, mas que no futuro poderá fazer os "parceiros" colidirem.

Outrossim, sugere-se que o governo brasileiro acompanhe com atenção as instabilidades políticas africanas, e que adote uma estratégia que possa maximizar as oportunidades e mitigar as ameaças apontadas.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar as nossas análises:

Matéria de 28/07/2023:

Matéria de 29/07/2023:

Matéria de 07/09/2018:

Matéria de 29/07/2023:

Matéria de 02/08/2023:

Matéria de 02/08/2023:




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