O Blog acompanha com extrema atenção e interesse os eventos que acontecem na África, pois é um continente importante e estratégico para o futuro. Nesse sentido, em nossa seção que estuda essa região, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1frica, temos demonstrado que existem vários atores internacionais que vêm competindo geopoliticamente na África, como os EUA e os países europeus, representando o Ocidente, a Rússia, a China e outros Estados.
Entretanto, a Turquia tem nos chamado atenção, desde a criação do Blog, pois pouco se fala sobre a sua crescente influência junto aos países africanos. Muitos analistas de defesa no Brasil, se quer demonstram interesse no avanço geopolítico turco na África Ocidental, que faz parte do Entorno Estratégico Brasileiro - EEB, ficando arraigados as tradicionais disputas geopolíticas.
Dessa forma, temos analisado o interesse turco na África, por meio dos nossos artigos, que selecionamos abaixo, com o intuito de prover ao leitor uma contextualização inicial:
"Líbia: palco de interesses geopolíticos", de 01 de junho de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/líbia-palco-de-interesses-geopolíticos, afirmamos que a Líbia era considerada estratégica para a Turquia, principalmente no contexto da geopolítica do Mediterrâneo Oriental, que desejava aumentar a sua presença na região e vem tentando aumentar o seu protagonismo no cenário internacional. Nesse diapasão, assinou um acordo com a Líbia para a definição de águas jurisdições, e também demonstrou que estava determinada em proteger o governo de Trípoli (GNA), contra a coligação do partido de Haftar, aplicando um acordo de cooperação militar. Além disso, a influência sobre o governo líbio poderia render a Turquia bônus geopolíticos importantes no controle da migração para a Europa, ferramenta que utilizou para obter benefícios junto a União Europeia, no caso dos refugiados sírios;
"Líbia: palco de interesses geopolíticos. II parte", de 08 de junho de 2020, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/líbia-palco-de-interesses-geopolíticos-ii-parte, apresentamos várias apreciações, sendo que uma delas foi referente a participação turca no conflito líbio;
"Pirataria no Golfo da Guiné: aumento da militarização no entorno estratégico brasileiro. III parte", de 18 de junho de 2020, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/pirataria-no-golfo-da-guiné-aumento-da-militarização-no-entorno-estratégico-brasileiro-iii-parte, dentre várias análises realizadas, falamos dos interesses de alguns atores internacionais no Golfo da Guiné, e dentre eles, destacamos a Turquia, pois navios e tripulações turcos estavam sendo alvos de ataques piratas nas águas do Golfo da Guiné, inclusive com sequestro de tripulantes. Sendo assim, o parlamento turco, em junho de 2020, ratificou o acordo de cooperação militar entre a Turquia e a Guiné no tocante a segurança marítima na região, que havia sido firmado em 2016. Nesse acordo, estão incluídos assistência em segurança marítima, cooperação na indústria de defesa, inteligência militar, sistemas logísticos e realização de exercícios combinados. Ademais, a Turquia importa petróleo da Guiné, e tem realizado negociações com a Nigéria, visando estabelecer uma cooperação política e econômica, principalmente nos setores de infraestrutura e de petróleo e gás; e
"África, palco de disputas geopolíticas. Parte II", de 25 de abril de 2021, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/áfrica-palco-de-disputas-geopolíticas-parte-ii, dissemos que a Turquia, como um dos principais protagonistas no continente africano, vem implementando acordos de cooperação militar com alguns países, visando tentar aumentar a sua influência no continente. Nesse sentido, destacava-se o apoio que deu ao governo de Trípoli, no conflito da Líbia, bem como o acordo de cooperação com a Guiné.
Nas figuras a seguir podemos verificar o crescimento da influência turca, em pouco tempo, junto aos países da África, o que fica bastante claro quando se observa o aumento do número de embaixadas de 12 para 43 - número superior ao que o Brasil possui, como podemos ver na reportagem de Mariana Haubert, de 01 de fevereiro de 2024, disponível em https://www.poder360.com.br/governo/itamaraty-quer-reforcar-presenca-brasileira-na-africa/:
"A região tem atualmente 9 embaixadas ou representações brasileiras com apenas 1 diplomata em atuação, que pode ser desde o embaixador até um secretário. No total, a África tem 35 embaixadas, consulados ou representações diplomáticas do Brasil com 84 funcionários e 41 vagas não preenchidas."
Em relação ao comércio, também podemos verificar que no período da figura (2021), o volume de comércio foi superior ao do Brasil com a África, conforme os dados abaixo:
"Em 2021, o Brasil e o continente africano tiveram um comércio total de US$ 15,911 bilhões. Este ano (2022), de janeiro a outubro, as trocas bilaterais somaram US$ 17,254 bilhões, com uma alta de 36,9% comparativamente com o mesmo período de 2021". (fonte: https://www.investe.sp.gov.br/noticia/fluxo-de-comercio-entre-brasil-e-africa-cresce-36-9-ate-outubro/#:~:text=Em%202021%2C%20o%20Brasil%20e,o%20mesmo%20per%C3%ADodo%20de%202021.)
Em 2022, a relação comercial turco-africana alcançou os 40 bilhões de dólares:
Bilateral trade between Türkiye and the continent reached 40,7 billion USD in 2022 up from 5,4 billion USD in 2003, while the contract value of the construction projects undertaken by Turkish contractors across the continent rose to 85 billion USD. The market value of Turkish investments in Africa amounts nowadays to 6 billion USD and the flag-carrier Turkish Airlines serves actually no less than 62 destinations in Africa. These figures being impressive, there are still things to be done in order to bring the economic and commercial partnership between Türkiye-Africa further and thus closer to its immense potential level, in a way to touch and improve the lives of every single person of the peoples of the two Sides. (fonte: Ministério do Comércio Turco - http://tabef.org/bilateral-relations.html)
Além disso, a Turquia vem empregando muito bem o seu Soft Power, por meio da implementação de escolas, formação militar, programas culturais etc.
Entretanto, é no setor da Defesa que, a nosso ver, a Turquia vem ganhando terreno rápido, muito devido a sua indústria de defesa, com os seus drones e navios, fazendo da África um mercado promissor para os seus produtos bélicos.
Nesse contexto, os turcos vêm estabelecendo parcerias estratégicas e acordos de defesa, em que podemos citar: Etiópia, Sudão, Nigéria, Ruanda, Quênia e Gana.
Além dos citados acima, podemos observar o exemplo da Somália, que possui a maior base militar turca fora do seu território - Camp TURKSOM (figura e vídeos abaixo) - que fica localizada perto de Mogadíscio, servindo tanto como um hub logístico para as forças operando no território somali e ao seu redor, quanto como um centro de formação militar para as forças de defesa da Somália.
Nesse cenário, a Turquia e a Somália, assinaram, em 08 de fevereiro, um importante acordo de defesa e de cooperação econômica, Defense and Economic Cooperation Framework Agreement. Por este acordo a Turquia irá formar, treinar e equipar a marinha da Somália, permitindo, também, a operação de navios da marinha turca nas águas jurisdicionais somalis, atuando na defesa da soberania e na proteção dos recursos marinhos.
Lógico que este acordo chamou a atenção da Etiópia, pois atualmente os etíopes e somalis vivem uma tensão geopolítica, conforme analisamos no artigo "Etiópia: fator de instabilidade na África Oriental. Parte II: possível conflito com a Somália?", de 05 de fevereiro de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/etiópia-fator-de-instabilidade-na-áfrica-oriental-parte-ii-possível-conflito-com-a-somália, e a parceria estratégica entre os governos de Istambul e de Mogadíscio veio logo após o acirramento da tensão.
Logo, ao vermos as parcerias da Turquia com a Etiópia, o Sudão e a Somália, podemos concluir como os turcos consideram o Mar Vermelho importante para os seus objetivos geopolíticos, pois não podemos esquecer que ele é a passagem do Mediterrâneo para o Oceano Índico.
A figura abaixo nos mostra o que afirmamos acima:
Portanto, acreditamos que a Turquia começa a ser vista pelos africanos como uma alternativa ao mundo Ocidental, bem como à China, e quiçá à Rússia. O que reforça essa possibilidade de alternativa seriam a religião muçulmana e de não possuir um passado colonialista, como os Ocidentais. Outrossim, o governo turco tem se mostrado um ator importante no tocante a área de Defesa, podendo ser, no futuro próximo, um dos principais fornecedores de armamento ao lado dos russos.
Assim, podemos concluir que a Turquia vê na África uma oportunidade de se impulsionar como uma liderança no mundo muçulmano e um grande player no cenário internacional.
Nesse sentido, se o Brasil deseja ser um protagonista no Hemisfério Sul, e notadamente junto à África Ocidental, que faz parte do EEB, deveria aprender um pouco com os turcos. Dessa forma, fica a pergunta: "Afinal, qual é a grande estratégia do Brasil?".
O Blog é de opinião que a Turquia vem consolidando a sua influência geopolítica na África, o que contribuirá para o atingimento de alguns dos seus objetivos geopolíticos, como ser uma liderança no mundo muçulmano e um ator importante no cenário internacional.
Outrossim, podemos ver que o Brasil vai ficando mais distante de ser um protagonista na África, que é um continente estratégico para o futuro e vem sendo cada vez mais um palco de disputas geopolíticas.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 27/05/2024:
Matéria de 12/03/2024:
Matéria de 13/11/2023:
Matéria de 25/04/2024:
Matéria de 22/02/2024:
Matéria de 18/12/2021:
Matéria de 22/10/2021:
Matéria de 01/10/2017:
Matéria de 01/10/2017:
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