As relações entre a Sérvia e o Kosovo voltaram a ficar bastante tensas, desde o último conflito de 2005, e após os 22 anos da Guerra do Kosovo (1998-1999).
A origem da recente tensão, que se iniciou em setembro deste ano, teve como causa a decisão do governo de Pristina em retaliar na mesma medida o governo de Belgrado, que havia determinado que os veículos procedentes do Kosovo ao adentrarem o território sérvio deveriam colocar placas provisórias durante a permanência naquele país. A decisão kosovar foi veemente reprovada pela Sérvia.
Dessa forma, no dia 20 de setembro o Kosovo iniciou uma operação policial em sua porção norte fronteiriça com a Sérvia, com a implementação de check point visando cumprir a determinação do seu governo. Essa operação teve como consequência a realização de protestos por caminhoneiros sérvios que bloquearam a estrada, e que foi dispersa por unidades especiais da polícia kosovar. Em contrapartida, a governo sérvio enviou algumas unidades militares para junto a essa área conturbada, iniciando a escalada da crise.
A crise que estava escalando foi mediada pela União Europeia - UE, e com isso as tropas da Força do Kosovo (KFOR), pertencentes a OTAN, assumiram o controle dessa região fronteiriça, e diminuindo assim a possibilidade de uma evolução para um conflito de baixa intensidade.
Convém mencionar que a região em questão possui uma população de maioria de etnia sérvia, e que demonstra um sentimento de nacionalidade pró-Servia, bem como não aceita a autoridade do governo de Pristina. Ademais existem alguns "bolsões" menores dessa etnia em outras áreas do Kosovo. O restante da população é de etnia albanesa, e que podemos verificar no mapa abaixo.
É digno de nota que a Sérvia considera o Kosovo como uma província rebelde, e com isso não reconhece a sua independência, em que pese a sua emancipação, decretada em 2008, ter sido reconhecida por cerca de 100 países, dentre eles destacam-se os EUA, Reino Unido, França Alemanha e Turquia. Porém, outros países relevantes que não reconhecem a sua independência são a Rússia e a China.
Em sua campanha pelo reconhecimento de sua independência pela Sérvia, o Kosovo adota uma atitude política soberana e desafiadora em relação ao governo de Belgrado, onde destacamos a taxação de 100% nos produtos sérvios importados. Essa medida é entendida por alguns analistas como uma forma de pressionar a Sérvia a reconhecer o Kosovo como Estado soberano.
As tensões de setembro que foram amenizadas pela mediação da UE, foram retomadas de forma mais aguda no dia 13 de outubro com uma nova operação na região norte pelas Forças Especiais Policiais kosovares com a finalidade de combater o contrabando de produtos importados praticado pela população da região (maioria de etnia sérvia). É interessante informar que estão previstas eleições no Kosovo em outubro, e que essas atitudes do governo de Pristina tenham como objetivo mostrar força ao público interno, de maioria albanesa, e com isso conseguir mais votos para o partido do governo.
Essa operação teve como consequência a realização de fortes protestos, em que tiveram cerca de 20 feridos dentre os manifestantes e policiais, além de algumas prisões. O principal foco de tensão tem sido na região de Kosovska Mitrovica. De acordo com informações de mídias locais alguns manifestantes baleados deram entrada nos hospitais da região.
Como houve o envolvimento de pessoas de etnia sérvia, o governo de Belgrado recorreu a comunidade internacional para que esse grupo seja protegido da violência kosovar, por meio do restabelecimento da ordem e da segurança na região.
Representantes dos manifestantes de etnia sérvia recorreram ao governo de Belgrado em busca de proteção, sugerindo a intervenção daquele país na região conflagrada. No encontro com esses manifestantes, o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, afirmou que se houver conflito para defender a população de maioria sérvia, ele vencerá com certeza:
"If we have to start the fight in order to protect the lives of our children and their survival in Kosovo and Metohija, not just that we will protect our children, but I promise you, for the first time, that we are going to win that fight for sure" (disponível em https://www.ruptly.tv/en/videos/20211013-050-Serbia--President-Vucic-promises-Kosovo-Serbs-to--win-fight--as-border-tensions-escalate).
"Let me be crystal clear, we will defend our people...and in that battle we will win," (que pode ser lido em https://www.usnews.com/news/business/articles/2021-10-13/kosovo-police-clash-with-ethnic-serbs-during-smuggling-raids).
As Nações Unidas demonstram preocupação com essa recente crise, conforme podemos observar nas palavras do chefe da missão no Kosovo (UN Interim Administration Mission in Kosovo - UNMIK), Zahir Tanin (acessível em https://news.un.org/en/story/2021/10/1103242):
“History in the region has tragically and repeatedly shown that ostensibly small incidents, misreading of intentions, and outright mistakes, can trigger an unstable security escalation that puts lives at risk and benefits no-one.”
O Blog concorda com a opinião acima, pois a região dos Balcãs sempre foi marcada por uma história de tensões que levaram a conflitos, que por vezes acabaram por envolver outros Estados, como abordamos no artigo "Os Bálcãs Ocidentais: instável, importante geopoliticamente e o fator China - Palco de Tensões", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/os-bálcãs-ocidentais-instável-importante-geopoliticamente-e-o-fator-china-palco-de-tensões.
Alguns analistas acreditam que a Sérvia esteja preparando uma manobra geopolítica para anexar o Kosovo, e com isso devemos acompanhar atentamente a escalada da crise, e o possível emprego de táticas de Guerra Híbrida pelos sérvios. Ressalta-se que a Sérvia realizou grandes aquisições de armamentos como drones, sistema de defesa antiaérea chinês FK-3, modernizou os seus MIG-29, bem como adquiriu armamentos e aeronaves russos, e com isso possui uma boa força militar. Além disso, não podemos esquecer que a Sérvia é uma aliada russa, bem como tem sido vista por Pequim como estratégica para a sua Rota da Seda na Europa, investindo bilhões de dólares no país. Esses fatores a coloca em situação diferente do período da Guerra do Kosovo.
Outra corrente de analistas acredita na ideia na unificação entre a Albânia e o Kosovo, devido aos laços culturais e étnicos, o que poderia ser uma solução para os kosovares não ficarem submetidos a Sérvia. Além disso, a maioria dos albaneses e kosovares são favoráveis a ideia de unificação. Esse cenário não é do interesse sérvio.
A resposta da União Europeia - UE à crise poderá empurrar a Sérvia para mais próximo da Rússia e da China, pois não existe consenso na UE sobre o Kosovo independente, pois Espanha, Grécia, Eslováquia, Romênia e Chipre não a reconhecem como Estado.
O Blog é de opinião de que a questão do Kosovo sempre será um foco de tensão para a região dos Balcãs, e que poderá levar a um conflito de maior intensidade, caso um dos cenários apresentados anteriormente seja concretizado.
Outrossim, também, será interessante observar como os EUA irão se posicionar em caso de um possível conflito na região.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar em nossas análises:
Matéria de 21/09/2021:
Matéria de 26/09/2021:
Matéria de 30/09/2021:
Matéria de 13/10/2021:
Matéria de 29/09/2021:
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