Desde meados de setembro deste ano as relações entre o Irã e o Azerbaijão têm ficado abaladas, culminando com uma tensão política entre esses países que poderá escalar para uma crise militar.
Conforme apuramos, a raiz dessa recente tensão possui duas versões:
- Azerbaijão: está relacionada ao transporte de mercadorias iranianas para a Armênia, que era realizado ilegalmente, por meio de caminhões, via uma estrada que passa por território azeri que era controlado pelos armênios até o final do conflito de Nagorno-Karabakh, e que foi reconquistado pelo Azerbaijão. Após a reconquista, o governo de Baku enviou notas diplomáticas ao governo de Teerã informando que considerava ilegal o referido transporte sem a sua autorização. Tais notas não teriam surtido efeito, e a partir desse momento o Azerbaijão iniciou a cobrança de pedágios e a retenção de caminhões iranianos, irritando profundamente o Irã, e encerrando esse transporte por seu território.
Convém mencionar que o Azerbaijão, juntamente com o Paquistão e a Turquia realizaram exercícios militares combinados nas proximidades da fronteira com o Irã (região de Nagorno-Karabakh), bem como implementou, em 04 de outubro, uma base militar na cidade de Jabrayil, que fica localizada junto a fronteira com os iranianos e que, conforme informações, abrigaria drones de fabricação israelense que foram adquiridos e empregados pelos azeris no conflito contra a Armênia.
Ademais, o Azerbaijão realizou uma compra bilionária de armamento israelense, conforme falamos no nosso artigo "Conflito entre Armênia e Azerbaijão: a consolidação turca, e as relações de Israel com o Azerbaijão" de 08 de outubro de 2020, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/conflito-entre-armênia-e-azerbaijão-a-consolidação-turca-e-as-relações-de-israel-com-o-azerbaijão, em que afirmamos que as relações estratégicas entre os governos israelense e azeri estavam sendo importantes na ofensiva contra a Armênia, devido a venda de cerca de 4 bilhões em material militar israelense para o Azerbaijão, e que estava sendo empregado no conflito, e em que pese o Azerbaijão ser um país de origem muçulmana, Israel sempre teve boas relações com o governo de Baku, com parcerias econômicas e militares importantes. Porém, a importância geopolítica desse vínculo está diretamente ligada ao Irã, pois os israelenses enxergam no parceiro azerbaijano uma oportunidade de se ter uma possível aliança (apoio logístico etc), ou de contenção, contra o governo de Teerã. Além disso, também falamos que o governo iraniano possui uma boa política com a Armênia com várias parcerias estabelecidas, e que vinha tentando melhorar o seu relacionamento com o Azerbaijão, que estava estremecido no passado;
- Irã: acusa o Azerbaijão de abrigar militares israelenses em seu território, o que foi negado pelo governo de Baku, e que na visão iraniana é uma grave ameaça a sua segurança. Segue um trecho do diálogo do Ministro das Relações Exteriores do Irã em com o Embaixador do Azerbaijão em 30 de setembro, disponível em https://www.rferl.org/a/iran-azerbaijan-military-drills-border/31488035.html:
"We do not tolerate the presence and activity against our national security of the Zionist regime next to our borders and will take any necessary action in this regard"
Nesse cenário, os iranianos decidiram realizar, em 01 de outubro, o exercício Conquerors of Khaybar que é uma manobra militar de grande envergadura nas proximidades de sua fronteira com o Azerbaijão, o que não se tem registro, nos últimos trinta anos, de um evento similar na região. O discurso do General iraniano Heidari ao jornal do seu país Tasnin News Agency confirma a fala do ministro do seu país:
“The overt and covert presence of the Zionist regime's proxies and the possibility of a significant number of Daesh terrorists in regional countries add to the importance of this exercise,” (acessível em https://www.tasnimnews.com/en/news/2021/10/01/2582076/army-s-drill-a-message-to-zionist-regime-daesh-terrorists-in-region-commander)
Sugerimos a leitura do artigo "O triângulo Irã-Israel-Azerbaijão: implicações para a
segurança regional", que pode ser acessado no Blog pelo link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_e001358160e64e0a9472dad5a22224b1.pdf, que poderá contribuir para o entendimento da crise.
Em nossa opinião essa tensão aproxima ainda mais o Irã e a Armênia, o que fica comprovada pela iniciativa de ambos os países de implementar uma nova rota para o comércio entre eles, elevando a parceria para o nível estratégico.
Outro fator que causa apreensão no Irã é a Turquia, pois tem a intenção de estabelecer uma rota terrestre com o Azerbaijão, que passaria junto a fronteira iraniana, onde um ponto futuro ponto de tensão, que carecerá negociações com a Armênia, que está fragilizada e precisa de um parceiro militar, no caso o Irã, será o trecho da região conhecido como Zangezur Corridor. Tal corredor poderá, além de ser uma rota comercial, permitir o trânsito de tropas turcas.
Dessa forma, podemos concluir que disputa Israel x Irã chegou a região do Sul do Cáucaso. Essa disputa vem sendo acompanhada pelo Blog em seu artigo "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel.", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel, onde falamos que essa nova configuração do Oriente Médio foi criada pela ameaça iraniana aos países sunitas do Oriente Médio, devido ao aumento do Arco Xiita e do programa nuclear iraniano.
Assim, em nossa análise, acreditamos que Israel tentará realizar e incrementar uma parceria estratégica com o Azerbaijão para pressionar o Irã, pois em caso de conflito os israelenses poderiam ter uma outra frente contra os iranianos, o que poderá tensionar a região. Sendo assim, a Rússia poderá ser um ator fundamental, pois uma grave instabilidade nas proximidades das suas fronteiras com países que lhe são importantes não é do seu interesse.
Com isso, já podemos ver o Irã tentando envolver o governo de Moscou nessa problemática, apelando para que o apoie.
Convém assinalar que mesquitas que possuíam relações com o líder supremo iraniano Ali Khamenei foram fechadas no Azerbaijão, visando evitar um possível problema interno.
O Blog é de opinião de que veremos uma futura polarização na região, com a formação de parcerias e alianças estratégicas, com dois blocos:
- Irã e Armênia;
- Israel, Azerbaijão e Turquia, em que pese o governo de Ankara estar disputando a liderança do mundo sunita com a Arábia Saudita, e com isso ser contra a política israelense em relação aos palestinos.
Assim, será interessante acompanhar o movimento russo.
Teremos, assim, um cenário de constante tensão e que poderá proporcionar crises militares regulares, com possível deflagração de conflitos de baixa intensidade.
Em nossa visão essa situação deve ser acompanhada, pois a situação geopolítica tende-se a deteriorar, sendo o futuro incerto de prever.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos, visando auxiliar em nossa análise.
Matéria de 01/10/2021:
Matéria de 06/10/2021:
Matéria de 05/10/2021:
Matéria de 27/09/2021:
Matéria de 05/10/2021:
Matéria de 05/10/2021:
Matéria de 29/03/2012 (esse vídeo mostra a importância geopolítica do Azerbaijão para Israel):
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