As Forças Armadas brasileiras não possuem um sistema de defesa antiaérea terrestre contra ameaças a média e alta alturas, bem como contra médio e longo alcances, possuindo armamentos somente contra alvos de baixa altura e curto alcance, como os mísseis antiaéreos portáteis RBS 70, MSA Mistral e o IGLA S, que possibilitam uma defesa de cerca de 7 quilômetros de onde se pretende defender, bem como canhões antiaéreos.
Dessa forma, isso apresenta uma séria vulnerabilidade para a defesa de nosso país, ainda mais no novo ambiente de conflito em que se empregam intensivamente drones para vigilância e ataque por meio de bombas inteligentes e mísseis ar-terra, exemplos da afirmação podem ser encontrados na Guerra da Líbia e do conflito entre a Armênia e o Azerbaijão, e que forma analisados no Blog nos artigos "Líbia: palco de interesses geopolíticos. II parte"e "A intensificação do conflito entre Armênia e Azerbaijão: fator Turquia. Qual será o movimento russo?", disponíveis respectivamente em https://www.atitoxavier.com/post/líbia-palco-de-interesses-geopolíticos-ii-parte e https://www.atitoxavier.com/post/a-intensificação-do-conflito-entre-armênia-e-azerbaijão-fator-turquia-qual-será-o-movimento-russo .
Além disso, no nosso artigo "Guerra do futuro: devemos olhar adiante para nos prepararmos, e com isso devemos sair da caixa", que pode ser acessado em https://www.atitoxavier.com/post/guerra-do-futuro-devemos-olhar-adiante-para-nos-prepararmos-e-com-isso-devemos-sair-da-caixa, abordamos que as guerras na Líbia, Síria e Iêmen nos mostram uma mudança na forma de travar conflitos para atingir objetivos geopolíticos, onde o uso de mercenários, drones, desinformação (principalmente devido ao aumento do protagonismo das mídias sociais), guerra híbrida, guerra por procuração (proxy war), guerra cibernética, sistemas de antiacess/area denial (A2/AD), e os mísseis de cruzeiro têm dominado os cenários táticos, e com isso a guerra clássica tem ficado um pouco estagnada, apesar de continuar importante para uma escala maior de conflito, e que faz-se mister que os governos invistam em tecnologias de defesa, visando fazer frente as ameaças citadas acima, e dentro desse contexto está o nosso país, pois somente com forças armadas bem preparadas, atualizadas e treinadas é que poderemos propiciar a segurança externa necessária para garantir as aspirações do Brasil no cenário internacional, dentro das suas capacidades, bem como atingir os objetivos nacionais com paz e desenvolvimento.
É digno de nota que vários países vêm incrementando os seus sistemas de defesa no ambiente aéreo, pois uma vulnerabilidade nesse setor pode comprometer seriamente a soberania do Estado, como ocorre entre Israel e o Líbano, em que o primeiro viola constantemente o espaço aéreo libanês.
Convém mencionar que a Venezuela possui o sistema russo S-300 que permite engajar com alvos aéreos a até 200 quilômetros, provendo uma boa defesa antiaérea de seu território, e isso pôde ser observado durante a problemática envolvendo o Brasil, em Roraima, junto à fronteira com aquele país, em que causou certa apreensão na Força Aérea Brasileira.
Ademais, em nosso artigo "Série Vulnerabilidades do Brasil: Atlântico Sul", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/série-vulnerabilidades-do-brasil-atlântico-sul, onde afirmamos que a maior ameaça a nossa soberania e de possibilidade de futuras tensões virá do Atlântico Sul, e é fundamental termos uma defesa antiaérea que consiga defender as infraestruturas críticas que ficam até 200 quilômetros do nosso litoral, bem como as nossas instalações militares, como as nossas bases navais e portos, contra ataques de mísseis e aeronaves, tripuladas e não tripuladas, provenientes de meios navais hostis. Entretanto, não podemos esquecer das nossas infraestruturas críticas que se localizam no interior do Brasil, fazendo com que seja hercúlea a tarefa de se prover uma defesa antiaérea adequada.
O tema tem sido objeto de preocupação de nossas Forças, e destacamos a iniciativa do Exército Brasileiro no desenvolvimento de radares antiaéreos nacionais, como o SABER M60 e o SABER M200, que podem detectar alvos até 60 KM e 200 KM, respectivamente.
Outrossim, o Ministério da Defesa criou, em janeiro de 2020, um Grupo de Trabalho para estabelecer os Requisitos Operacionais Conjuntos - ROC de um Sistema de Defesa Antiaérea para as três Forças, que contou com representantes da Marinha do Brasil (MB), do Exército Brasileiro (EB) e da Força Aérea Brasileira (FAB).
Sendo assim, em dezembro de 2020 foi dado um passo muito importante por meio da PORTARIA N° 4.181/GM-MD, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2020 que aprovou os ROC para a implementação de um Sistema de Defesa Antiaérea que possa atender os requisitos das nossas Forças e mitigar a nossa vulnerabilidade do nosso país contra as ameaças aéreas. O documento está disponível no Blog no link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_62fa501ec316449d85e666d1684763c0.pdf . Os ROC preveem um Sistema de Artilharia Antiaérea de Média Altura/Médio Alcance que poderá engajar contra alvos aéreos até 40 KM, e que possua possibilidade para incrementar o alcance para até 80 KM. Maiores detalhes estão disponíveis no documento, e recomendamos a leitura. Com isso, começam a serem estudados vários sistemas estrangeiros.
Caso a aquisição se concretize será um avanço importante na capacidade de defesa do nosso espaço aéreo, pois pela primeira vez o Brasil contará com uma defesa antiaérea moderna e eficiente.
O Blog é de opinião de que foi dado um passo importante para mitigar essa vulnerabilidade, com o estabelecimento dos ROC para um Sistema de Defesa Antiaérea de médio alcance. Porém, consideramos que ainda está aquém das nossas necessidades, onde o ideal seria termos um sistema de longo alcance, visando contribuir para a deterrência contra possíveis atos hostis de forças provenientes do mar.
Podemos inferir que estamos, atualmente, muito defasados e que serão necessários vultosos investimentos para podermos dotar o Brasil de uma defesa antiaérea adequada ao tamanho do país e aos novos cenários de conflito, e para tanto faz-se necessário um programa de Estado e que conte com o apoio da sociedade, devido aos recursos financeiros a serem destinados.
Estamos vulneráveis nessa área de defesa faz tempo, e enquanto não solucionarmos essa fragilidade devemos, infelizmente, continuar torcendo para não termos problemas contra possíveis agressores com boa capacidade aérea, pois as aeronaves da FAB (Defesa Aérea) não serão suficientes para uma adequada proteção do Brasil, bem como esperar que a aquisição se concretize no menor tempo possível.
A história da II Guerra e os conflitos modernos nos mostram que é imprescindível termos boas defesas aérea e antiaérea para a proteção de um país, contribuindo para a inviolabilidade do espaço aéreo.
Outrossim, um país forte necessita desenvolver a sua própria tecnologia, o que já se começou com o desenvolvimento dos radares por parte do EB. Investir em defesa é garantir a segurança do país e do seu povo.
Qual a sua opinião sobre o tema?
Seguem alguns vídeos para as nossas análises:
Matéria de 06/05/2016:
Matéria de 09/08/2020:
Matéria de 30/06/2015:
Matéria de 20/06/2017:
Matéria de 11/09/2014:
Kommentare