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Será que a atual Guerra na Ucrânia marcou o fim da Pax Americana?


A expressão "Pax Americana" refere-se ao período de relativa estabilidade e ordem mundial sob a liderança dos EUA após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante aproximadamente sete décadas, especialmente na Europa, essa hegemonia estadunidense foi fundamental para evitar conflitos de larga escala, promovendo a paz e a reconstrução econômica. No entanto, eventos recentes, como a invasão russa da Ucrânia, suscitam questionamentos sobre a continuidade dessa ordem mundial.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo testemunhou a ascensão de duas superpotências: os EUA e a União Soviética (URSS). Esse duopólio de poder deu início à Guerra Fria, caracterizada por tensões políticas, ideológicas e militares entre os blocos ocidental e oriental. Para conter a expansão soviética e assegurar a estabilidade na Europa, os EUA desempenharam um papel central na formação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949. A OTAN serviu como uma aliança militar coletiva, comprometendo seus membros à defesa mútua em caso de agressão externa.

Durante as décadas subsequentes, a presença militar e a influência política dos EUA na Europa Ocidental foram cruciais para dissuadir possíveis agressões e fomentar a cooperação econômica e política entre as nações europeias. A implementação do Plano Marshall, por exemplo, não apenas auxiliou na reconstrução econômica da Europa devastada pela guerra, mas também fortaleceu os laços transatlânticos e consolidou a liderança estadunidense no continente europeu.

Após a Guerra Fria (1947 - 1991), os EUA reinaram quase que soberanos como a potência hegemônica no mundo até 2004, quando começou, em nossa visão, a era da competição entre as Grandes Potências: China - EUA - Rússia.

Em 2014, a Rússia anexou a península da Crimeia, incentivada (em nossa opinião) pelo seu sucesso na Georgia em 2008, uma ação que representou a primeira alteração forçada de fronteiras na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Essa anexação foi amplamente condenada pela comunidade internacional e resultou em sanções econômicas impostas à Rússia por parte dos EUA e da União Europeia. No entanto, a resposta ocidental foi considerada por muitos como insuficiente para reverter a situação ou dissuadir futuras agressões.

A anexação da Crimeia, em 2014, expôs as limitações da ordem mundial vigente e levantou questões sobre a eficácia das instituições internacionais em lidar com violações flagrantes do direito internacional. Além disso, evidenciou a disposição da Rússia em desafiar a hegemonia ocidental e resgatar a sua influência nas ex-repúblicas soviéticas.

A escalada do conflito na Ucrânia, culminando com a invasão russa em 2022, durante o governo estadunidense de Biden, representou um desafio direto à ordem estabelecida sob a égide da Pax Americana. A resposta dos EUA e de seus aliados da OTAN, embora significativa em termos de apoio econômico e militar à Ucrânia, revelou as complexidades e limitações de uma intervenção direta. A relutância em envolver-se militarmente de forma mais assertiva reflete preocupações com uma possível escalada para um conflito mais amplo, possivelmente nuclear, dada a condição da Rússia como potência nuclear.

Analistas geopolíticos apontam que essa situação evidencia uma transição no equilíbrio de poder global. A ascensão de outras potências, como a China, e a reemergência da Rússia como um ator assertivo no cenário internacional sugerem um movimento em direção a uma ordem multipolar. Nesse contexto, a capacidade dos EUA de moldar eventos globais de forma unilateral está sendo contestada, indicando possíveis limitações da Pax Americana.

Sugerimos a releitura dos nossos artigos, que ratificam as nossas análises:


Paralelamente aos conflitos em curso, observa-se um preocupante aumento na corrida armamentista global, conforme vínhamos alertando desde 2020 por meio do nosso artigo "Escalada armamentista, parte II", que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/escalada-armamentista-parte-ii. De acordo com dados mais recentes, o gasto militar mundial atingiu 2,4 trilhões de dólares em 2023, representando um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Esse incremento é impulsionado por tensões geopolíticas e pela percepção de ameaças emergentes, levando nações a modernizarem e expandirem seus arsenais militares.

A proliferação de armamentos sofisticados e o desenvolvimento de novas tecnologias bélicas não apenas intensificam a competição entre as potências, mas também elevam o risco de conflitos inadvertidos. Além disso, o aumento dos gastos militares desvia recursos que poderiam ser alocados para o desenvolvimento socioeconômico, exacerbando desigualdades e potencialmente alimentando instabilidades regionais.

O cenário internacional atual está sendo marcado por uma elevação no número de conflitos armados e uma crescente incerteza quanto ao futuro da ordem global. Conforme destacado por análises recentes, a proporção de áreas afetadas por combates ao redor do mundo aumentou 65% nos últimos três anos, passando de 2,8% para 4,6% da superfície terrestre global. Essa expansão dos conflitos reflete tensões não apenas entre Estados, mas também internas, muitas vezes exacerbadas por questões étnicas, religiosas ou disputas por recursos naturais.

A figura a seguir nos mostra os principais conflitos (internos e externos) em vigor. Maiores detalhes podem ser obtidos no link https://www.cfr.org/global-conflict-tracker:


Nesse sentido sugerimos a releitura dos nossos artigos "Mundo mais imprevisível e menos seguro. Precisamos nos preocupar? Parte II", de 16 de março de 2024, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/mundo-mais-imprevisível-e-menos-seguro-precisamos-nos-preocupar-parte-ii e o artigo "Reflexão: Estamos no prenúncio da Terceira Guerra Mundial ou já a estamos vivenciando?", de 19 de março de 2022, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/reflexão-estamos-no-prenúncio-da-terceira-guerra-mundial-ou-já-a-estamos-vivenciando. Tais artigos confirmam as nossas afirmações acima.

Logo, a incerteza geopolítica é agravada por fatores como mudanças climáticas, crises econômicas e a ascensão de movimentos nacionalistas e populistas. Esses elementos contribuem para a fragilização de instituições internacionais e dificultam a cooperação multilateral, essencial para a resolução pacífica de disputas e a manutenção da estabilidade global.

Portanto, embora seja prematuro afirmar categoricamente que a Guerra na Ucrânia marcou o fim definitivo da Pax Americana, é evidente que o conflito representa um desafio significativo à ordem mundial liderada pelos EUA. A capacidade de Washington de influenciar e controlar eventos globais está sendo testada por dinâmicas geopolíticas complexas e pela assertividade de outras potências. O aumento da corrida armamentista, a elevação no número de conflitos e a crescente incerteza sobre o futuro indicam uma transição potencial para uma ordem internacional mais multipolar e menos previsível. A resposta a esses desafios exigirá uma adaptação estratégica por parte dos EUA, e assim, como o governo de Donald Trump reagirá a isso.

Assim, a nossa afirmação de que vivemos num mundo mais imprevisível e menos seguro é uma realidade cada vez mais presente em nossas vidas, o que nos leva a uma incerteza constante, ainda mais quando se aproxima o prazo, até 2049, para a China realizar o "sonho chinês". Recomendamos a leitura dos nossos artigos "Os "Wolf Warriors" e a diplomacia agressiva chinesa", de 19 de setembro de 2021, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/os-wolf-warriors-e-a-diplomacia-agressiva-chinesa, "Dragão sonhador ou dominador?", de 07 de abril de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/dragão-sonhador-ou-dominador e "A estratégia dos EUA para o Indo-Pacífico: reação contra o expansionismo chinês", de 15 de março de 2022, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-estratégia-dos-eua-para-o-indo-pacífico-reação-contra-o-expansionismo-chinês.

O Blog é de opinião que estamos no fim da Pax Americana, pois os EUA ainda conseguem influenciar alguns acontecimentos, e com isso a incerteza geopolítica no cenário internacional aumentará a cada dia.

Nesse contexto, será muito importante acompanharmos o próximo governo dos EUA, que será liderado novamente por Donald Trump, que promete uma agenda internacional dura.

Logo, o Brasil deve se preparar adequadamente para esse novo período que se descortina.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 25/06/2018:

Matéria de 18/12/2017:



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