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Rússia lançará satélite iraniano.


Figura disponível em: : https://www.i24news.tv/en/news/international/technology-science/1659605292-russia-to-put-iran-satellite-into-orbit-next-week

Figura 1 – O presidente iraniano Ebrahim Raisi cumprimenta o presidente russo Vladimir Putin antes de uma reunião em Teerã, Irã, em 19 de julho de 2022.

Matheus Marculino dos Santos*


Na próxima terça-feira (9), a Rússia lançará a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, o satélite de sensoriamento remoto iraniano Khayyam (SAVOSTYANOV, 2022). Uma das principais funções desse satélite é o monitoramento ambiental e dos desastres naturais que acontecem em território iraniano, diminuindo assim a dependência da utilização de satélites estrangeiros para realizar a mesma atividade. O equipamento espacial será lançado a bordo do foguete Soyuz 2.1B com outros 16 satélites de pequeno porte de universidades e empresas russas (SAVOSTYANOV, 2022).

Conforme Savostyanov (2022), o dispositivo Khayyam foi projetado e fabricado por empresas que fazem parte da corporação estatal Roscosmos, a agência espacial russa. Isso ressalta a influência do país em desenvolver o programa espacial iraniano, em inglês, Iranian Space Agency (ISA), e na possibilidade do país persa receber transferência de tecnologia espacial, que pode ser empregada até mesmo no seu programa nuclear, especialmente nos seus mísseis balísticos.

O satélite será colocado ao espaço pouco tempo após o encontro oficial entre o presidente iraniano Ebrahim Raisi e o presidente russo Vladimir Putin, em 19 de julho deste ano (SAVOSTYANOV, 2022). O Irã é um aliado estratégico da Rússia no Oriente Médio do ponto de vista econômico e em apoio à guerra na Ucrânia. Outrossim, algo que os aproxima ainda mais atualmente são as posições contrárias aos Estados Unidos da América (EUA).

Assim, o lançamento do satélite iraniano por um foguete russo ressalta a aproximação entre os dois países e a intenção de ampliarem as suas parcerias para o âmbito espacial. Isso é estratégico para a Rússia na medida em que o país assegura um parceiro internacional e ganha receita com o lançamento de satélites. Vale mencionar que poucos atores estatais detém a tecnologia de lançamento de satélites e tais dispositivos são colocados em órbita ao custo de milhares de dólares.

O Blog vem analisando de perto na sua seção Seção Poder Naval, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/poder-naval-russo-em-busca-de-maior-protagonismo-oposi%C3%A7%C3%A3o-ao-ocidente-parte-iii a nova doutrina naval da Rússia, sendo esta uma estratégia de defesa e projeção internacional, no qual elenca como as suas principais ameaças os EUA e a OTAN. Bem como os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia no programa espacial russo na sua Seção Geopolítica Espacial, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-conflito-na-ucr%C3%A2nia-e-a-geopol%C3%ADtica-espacial , sendo o programa espacial russo o segundo mais desenvolvido tecnologicamente, atrás apenas do norte-americano.

Levando em consideração os pontos supracitados e a mais recente parceria sem limites realizada entre Rússia e China no início de 2022, houve o aumento das ambições espaciais das grandes potências para exercer presença contínua nesse ambiente cada vez mais competitivo, contestado e congestionado.

No que se refere à Rússia, o primeiro exemplo é a sua intenção de deixar a Estação Espacial Internacional (ISS) após 2024 para construir sua própria estação, marcando um fim a emblemática cooperação internacional envolvendo a ISS iniciada em 1998 (TOBIAS, 2022). As diversas sanções aplicadas por países ocidentais desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia vem aumentando a vontade russa para a presença autônoma no espaço (TOBIAS, 2022). A intenção da Roscosmos é ter a sua própria estação espacial até meados de 2028, chamada de estação orbital russa, em inglês, Russian Orbital Service Station (ROSS) (TOBIAS, 2022). A obtenção de uma estação própria faz parte dos planos de longo prazo da Rússia de realizar as suas atividades científicas, o monitoramento constante da órbita terrestre e o preparo dos cosmonautas para futuras missões à Lua e Marte.

Já o segundo exemplo consiste na missão Luna 25, projetada no início dos anos 2000, mas adiada repetidas vezes. O seu atual lançamento está previsto para o final de setembro de 2022 e marca a volta da Rússia à exploração lunar [1] após mais de 50 anos. Atualmente, há a intenção de EUA, China, União Europeia e Rússia enviarem missões robóticas e tripuladas à Lua para a presença contínua e exploração do satélite. O programa Artemis, da NASA, é o mais adiantado no momento, sendo a sua primeira missão (não tripulada) planejada para final de agosto.


O Blog é de opinião que a atual geopolítica espacial é marcada pela continuação das parcerias realizadas na terra, mar e ar. Sendo que as tensões envolvendo EUA, Rússia e China acirram ainda mais os investimentos das grandes potências no ambiente espacial.


Referências


SAVOSTYANOV, Sergei. Russia to put Iran satellite into orbit next week. i24news [online]. 4 ago 2022. 2022. Disponível em: https://www.i24news.tv/en/news/international/technology-science/1659605292-russia-to-put-iran-satellite-into-orbit-next-week


TOBIAS, Ben. O que a saída da Rússia pode significar para a Estação Espacial Internacional. BBC News Brasil [online]. 26 jul 2022. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62312088

[1] A exploração lunar teve início em 1959 pela sonda Luna 2, da então União Soviética.


* - Editor da Seção Geopolítica Espacial deste Blog e Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI-UERJ); e-mail: matheus_rj96@hotmail.com; Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9859-6823

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