O Blog vem acompanhando o conflito entre a Rússia e a Ucrânia em que alguns analistas internacionais e boa parte dos cidadãos comuns acreditavam que seria um evento rápido e com uma vitória russa inquestionável e esmagadora.
Porém, o conflito tem se prolongado o que permitiu ao Blog continuar realizando outras análises, além das constantes nos artigos abaixo, e que sugiro a leitura, pois permitirá ao leitor uma revisão do que foi tratado anteriormente, e que serão complementados neste novo artigo:
- "O conflito da Ucrânia e o futuro da OTAN", disponível https://www.atitoxavier.com/post/o-conflito-da-ucrânia-e-o-futuro-da-otan;
- "A invasão da Ucrânia: o que pode sinalizar para o mundo?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-invasão-da-ucrânia-o-que-pode-sinalizar-para-o-mundo.
Nesse sentido, apresentarei a partir de agora algumas reflexões ao leitor, visando propiciar uma análise crítica, bem como uma discussão sadia sobre elas:
A) Refugiados de primeira e de segunda classes:
O conflito da Ucrânia revelou de forma cristalina o preconceito europeu com as pessoas que não se enquadram no estereótipo ocidental europeu, ou seja, cristão, branco, e possuidor dos valores ocidentais. Isso pode ser visto pela forma com que todos os Estados da Europa se prontificaram a receber os refugiados ucranianos, proporcionando um tratamento diferenciado, inclusive com a intenção de oferecer aos ucranianos as benesses, ainda que em caráter temporário, dos cidadãos pertencentes à União Europeia.
Além disso, as pessoas pretas e as muçulmanas eram preteridas na entrada dos países vizinhos da Ucrânia, bem como encontram dificuldades para sair do território ucraniano.
Convém lembrar que todos os imigrantes do Oriente Médio e da África, que estão sofrendo pelas mesmas razões há mais tempo nunca tiveram o mesmo tratamento, inclusive são utilizados como arma política, conforme abordamos no artigo "O uso da migração de refugiados como arma política: Guerra Híbrida?", de 14 de agosto de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-uso-da-migração-de-refugiados-como-arma-política-guerra-híbrida.
Dessa forma, a Europa expõe o mesmo pensamento xenófobo e racista do passado de alguns de seus governantes e populações, conforme podemos ver na matéria elaborada pela The Associated Press, que pode ser lida no link https://www.cbc.ca/amp/1.6367932, bem como pelo vídeo que faz uma compilação de reportagens de jornalistas ocidentais constante no endereço https://mobile.twitter.com/redfishstream/status/1497969331484909570/video/1:
[...] refugees from Ukraine clutching children in one arm, belongings in the other. And they're being heartily welcomed, by leaders of countries such as Poland, Hungary, Slovakia, Bulgaria, Moldova and Romania. But while the hospitality has been applauded, it has also highlighted stark differences in treatment given to migrants and refugees from the Middle East and Africa, particularly Syrians who came in 2015. Some among them say the language they are hearing from leaders now welcoming refugees has been disturbing and hurtful. "These are not the refugees we are used to; these people are Europeans," Bulgarian Prime Minister Kiril Petkov told journalists earlier this week. "These people are intelligent. They are educated people.... This is not the refugee wave we have been used to, people we were not sure about their identity, people with unclear pasts, who could have been even terrorists.
Sendo assim, podemos concluir que infelizmente existem refugiados de primeira e de segunda classes, o que é algo inadmissível, e que precisa ser combatido.
B) A importância da Guerra de Informação:
A Guerra de Informação sempre existiu, mas com o desenvolvimento tecnológico e o advento das redes sociais, ela vem se tornando cada vez mais relevante, pois faz com que todos os cidadãos que possuam um smartphone participem ativamente dela. Assim, alguns vêm chamando pejorativamente esse conflito como Tiktok War, devido aos vídeos feitos por cidadãos, militares e os próprios governos em disputa. Destarte, vemos a criação de grupos pró Rússia e os pró Ocidente, inclusive dividindo a mídia.
Isso faz com que os partidos em contenda disputem as suas narrativas em escala global, onde quem tiver uma melhor estratégia, em que pese não ser o mais poderoso militarmente, poderá levar vantagem em relação a opinião pública mundial, conseguindo atingir alguns dos seus objetivos estratégicos, como recrutamento de militantes, apoio de Estados, financiamento, dentre outros.
Nesse sentido, vemos as diferentes versões de como o conflito vem sendo divulgado e explorado, bem como podemos entender o motivo da destruição pelos russos da torre de transmissão ucraniana em Kiev, visando dificultar que os ucranianos recebam notícias. Além disso, entende-se a razão do governo russo em controlar a imprensa do seu país, reprimindo as mídias que não apoiem as suas decisões governamentais.
O Blog vá tinha tratado desse assunto em seu artigo "O uso atual da Mídia como arma da Guerra de Informação - desafio para a Inteligência", de 15 de janeiro de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-uso-atual-da-mídia-como-arma-da-guerra-de-informação-desafio-para-a-inteligência .
C) A China será a grande vencedora do conflito:
A China tem sido uma grande expectadora do conflito por várias razões, sendo a principal a análise do comportamento ocidental em relação a invasão russa, pois o governo de Pequim pretende até 2049 unificar o país com Taiwan.
Em que pese ter firmado uma parceria estratégica com a Rússia, e de não estar condenando a invasão, a China tem se comportado de forma prudente em seus pronunciamentos sobre o conflito, bem como se apresentou como um possível negociador de paz.
Nesse sentido, vemos dois cenários para a China:
1 - a Rússia sai enfraquecida ao término do conflito: isso será vantajoso para os chineses, pois aumentará a dependência econômica russa junto a China; e
2 - a Rússia sai fortalecida ao término do conflito: isso será interessante para os chineses, pois terá ao seu lado um aliado forte.
Em nossa análise, o melhor cenário para a China seria o 1, devido as rivalidades históricas entre a China e a Rússia.
Sugerimos a releitura dos seguintes artigos para uma revisão da parceria sino-russa:
- "A Aliança Estratégica Sino- Russa e a Nova Ordem Mundial", de 06 de fevereiro de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-aliança-estratégica-sino-russa-e-a-nova-ordem-mundial ;
- "China e Rússia: cada vez mais parceiros contra os adversários comuns", de 16 de dezembro de 2021, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/china-e-rússia-cada-vez-mais-parceiros-contra-os-adversários-comuns.
D) A importância da diversificação da matriz energética com energias alternativas:
O conflito que envolve um dos maiores produtores de petróleo e gás mundial terá um efeito muito negativo nas economias dos demais países, pois acarretará em aumento nas tarifas dessas fontes energéticas, em que o gás tem um grande destaque por ser a fonte energética da transição dos combustíveis fósseis para os alternativos (renováveis, nuclear etc).
Assim, vemos como a Rússia empregou a Geopolítica Energética em seu favor, e que agora apresenta um grande dilema para o Ocidente, principalmente a Europa que é dependente de cerca de 40% do gás russo.
Dessa forma, o conflito ratifica a necessidade premente dos países em investirem nas energias alternativas, visando incrementar a sua segurança energética.
O Blog tratou do tema por meio do seu artigo "Geopolítica Energética e a Emergência Climática: crises, tensões, conflitos e perspectivas", de 05 de fevereiro de 2022, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-energética-e-a-emergência-climática-crises-tensões-conflitos-e-perspectivas , e que recomendamos a leitura.
E) Não estamos livres de um possível conflito nuclear:
A decisão de Putin em colocar em alerta máximo as suas forças de dissuasão nuclear trouxe de volta a ideia do conflito nuclear que estava basicamente adormecido desde o fim da Guerra Fria, fazendo com que essa hipótese retornasse ao debate mundial.
Nesse sentido, acreditamos que o tema voltará a ser corrente nos fóruns internacionais, bem como aumentará o interesse por parte de alguns países em conseguir o armamento nuclear, visando propiciar uma melhor dissuasão estratégica. Além disso, as pressões ocidentais sobre os outros países que tentam desenvolver a energia nuclear deverá aumentar, o que poderá impactar no Programa Nuclear da Marinha do Brasil.
F) A Guerra continuará fazendo parte das nossas vidas:
Como não existe um poder capaz de estabilizar o mundo, conforme o Blog vem sempre afirmando em seus artigos, inclusive que estamos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro, podemos entender a atual escalada armamentista global, conforme o nosso artigo "Escalada armamentista, parte II", de 08 de julho de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/escalada-armamentista-parte-ii .
Isso demonstra que apesar de não haver uma grande discussão sobre a possibilidade real de conflitos, o mundo sempre caminha para eles, pois a disputa pelo poder trata-se de um fenômeno social.
Dessa forma, considero não ser inteligente o pensamento de algumas correntes ideológicas que pregam o fim das forças armadas, pois enquanto não houver uma força estabilizadora global e o mundo não estiver evoluído socialmente para o banimento dos conflitos, a Guerra sempre fará parte das nossas vidas, infelizmente. É uma dura realidade que os Estados devem sempre tratar com atenção e zelo. O Blog espera que as seis reflexões apresentadas acima fomentem no leitor uma análise sobre os temas, bem como possamos refletir como o nosso país é impactado por elas.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:
Matéria de 03/03/2022:
Matéria de 02/03/2022:
Matéria de 17/08/2020:
Matéria de 27/02/2022:
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