Este artigo pretende continuar a discussão sobre os Jogos de Guerra (JG), em virtude da importância do tema, bem como pela boa receptividade dos leitores do nosso Blog, contribuindo para retirar um pouco o "véu"sobre o assunto, e fomentar o debate sobre uma metodologia que vem ganhando destaque no cenário internacional, não só no setor de Defesa, mas também no mundo civil.
Dessa forma, o leitor encontrará na nossa Seção Jogos de Guerra (https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/jogos-de-guerra), os artigos que escrevemos sobre o assunto, e que abordaremos abaixo alguns, de forma resumida, para o leitor:
- "A que se destinam os Jogos de Guerra?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-que-se-destinam-os-jogos-de-guerra, em que afirmamos que os JG não possuem a pretensão de dar respostas corretas a um problema, ou seja, não se destinam a predizer, provar ou validar algo, mas de investigar ou analisar um problema ou um planejamento, com o intuito de reduzir surpresas, bem como que ao final do JG aperfeiçoamos a nossa capacidade de tomar decisões, o que, em nossa compreensão, é o cerne de um JG;
- "Jogos de Guerra: porque precisamos criar a cultura de seu uso?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/jogos-de-guerra-porque-precisamos-criar-a-cultura-de-seu-uso, falamos que os JG são uma metodologia multidisciplinar em que cenários (fictícios, hipotéticos ou não) podem ser simulados, visando analisar possíveis desdobramentos, deficiências e conflitos de interesses, bem como testar planejamentos, e que ao seu término poderão antecipar outros cenários que deverão ser investigados ou apresentar tendências, auxiliando no processo decisório do mundo real. Tal metodologia pode ser empregada em problemas civis ou militares. Além disso, JG é uma ciência, pois é uma metodologia multidisciplinar, mas também uma arte, porque na formulação dos cenários requer experiência e uma certa dose de "imaginação racional" relacionada ao problema que se deseja investigar ou analisar, bem como a um planejamento que se queira testar. Verificamos que os Estados que mais os usam, por coincidência, são as potências mais relevantes no cenário internacional. Dessa forma, os JG se prestam também na contribuição de formulação de políticas públicas, política externa, segurança pública, resposta a catástrofes, aperfeiçoamento do setor de Defesa, inclusive melhorando o correto dimensionamento das suas Forças Armadas, dentre outras possibilidades. Nesse sentido, podemos concluir que os mais eficientes e eficazes em realizar Jogos de Guerra conseguem enfrentar melhor os problemas e os seus adversários, seja no ambiente militar, politico ou privado. Porém, infelizmente, o nosso país está muito aquém, pois não os emprega como uma ferramenta de aprimoramento em setores importantes para o nosso Estado.
O período de entre guerras acaba sendo marcado por grandes saltos tecnológicos e de inovação em várias áreas, devido a todo o conhecimento que se obteve pela necessidade de se obter a prevalência sobre o adversário. Já no período de paz, os JG contribuem sobremaneira para que ocorram: inovações tecnológicas, mudanças em doutrina, surgimento de novas teorias dentre outras evoluções, em virtude dos cenários que permitem com que os participantes possam vislumbrar necessidades e carências tecnológicas, vulnerabilidades estratégicas, operacionais e táticas que levarão ao estudo e a análise de como mitigar os problemas vislumbrados perante as ameaças e situações simuladas.
Ao olharmos e estudarmos a figura abaixo intitulada The Cycle of Research constante na obra The Art of Wargaming de Peter P.Perla, podemos retirar outras conclusões sobre a contribuição dos JG, principalmente para o setor de Defesa:
Podemos ler, em nossa análise, a figura acima da seguinte forma:
- Indutiva: a realização de exercícios militares permitirá que sejam colhidas várias observações, que após analisadas devidamente, irão originar uma hipótese, que poderá, ao ser submetido a um Jogo de Guerra analítico, gerar uma teoria que será a semente para mais estudos que possibilitarão vislumbrar a necessidade de decisões de mudança para fazer frente a cenários futuros, e que depois podem gerar novos exercícios para validarem as respectivas mudanças;
- Dedutiva: a realização de um Jogo de Guerra analítico poderá gerar uma hipótese que, após a devida análise, irá sugerir a realização de exercícios militares com o intuito de validá-la (teste), e cujas observações poderão gerar novos Jogos de Guerra.
Tal análise confirma o que dissemos sobre os JG serem uma ciência e uma arte, o que demanda pessoal especializado. Sendo assim, em nossa visão, a especificação de um JG se assemelha a fase de elaboração de um projeto de pesquisa, onde sempre teremos que responder a uma Questão Fundamental (QF) e estabelecermos Elementos Essenciais de Análise (EEA) que nos permitirão a elaboração de um Plano de Condução do JG, ou em inglês Data Management and Collection Plan.
Nesse sentido, podemos concluir que devemos a todo momento estarmos realizando JG analíticos, com o intuito de nos prepararmos para as mudanças no cenário internacional, que estão em constante transformação, e que apresentam ameaças e desafios cada vez mais complexos e mutáveis, ainda mais que estamos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro. Alguns analistas consideram que vivemos no mundo chamado VUCA.
Como exemplo, podemos ver que após a Guerra Fria, vimos o surgimento das chamadas novas ameaças, como o terrorismo, e atualmente estamos vivendo numa competição entre as Grandes Potências, o que leva a diferentes adequações e preparos das Forças.
Destarte, temos observado por vezes interpretações equivocadas de como utilizar Jogos de Guerra analíticos na área da Defesa, pois alguns acreditam que JG seriam meramente exercícios militares entre dois oponentes, ou seja uma disputa, bem como outros acham que seriam uma parte da Teoria dos Jogos. Isso se deve ao pouco estudo sobre o tema em nosso país, não havendo cursos, formação em área acadêmica e bibliografia brasileira relevante.
O Blog é de opinião de que o Setor de Defesa do nosso país deve investir na formação de especialistas em Jogos de Guerra, dando a devida relevância ao tema, onde ao longo dos nossos artigos sobre os JG pudemos analisar e compreender um pouco como empregá-los.
Dessa forma, fica a pergunta: "Queremos nos antecipar aos desafios futuros, evitando surpresas, ou queremos continuar indo a reboque dos acontecimentos?" Caso a resposta seja que desejamos nos antecipar, então devemos empregar os Jogos de Guerra imediatamente.
Qual a sua opinião sobre o assunto?
Em breve, na Página da Escola de Guerra Naval, será disponibilizado o PODCAST sobre os Jogos de Guerra, onde o Encarregado do Centro de Jogos de Guerra - CJG abordará o tema, bem como o que se faz no CJG. Assim que estiver disponível, iremos colocar um link no nosso Blog.
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