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Qual o legado da Guerra ao Terror?


Figura disponível em: https://intpolicydigest.org/wp-content/uploads/2015/12/1544973395187.jpg

Os atentados terroristas às torres gêmeas do World Trade Center perpetrados pelo grupo Al Qaeda, em 11 de setembro de 2001, deram início a Guerra ao Terror que foi concebida e liderada pelos EUA, conforme as palavras do presidente George W. Bush:

“Our war on terror begins with al-Qaeda, but it does not end there. It will not end until every terrorist group of global reach has been found, stopped and defeated.” (disponível em https://www.aljazeera.com/news/2021/9/8/20-years-after-9-11-did-the-us-win-its-war-on)

Porém, outros ataques aos EUA como: World Trade Center em 1993, embaixadas estadunidenses no Quênia e na Tanzânia em 1998, e o navio USS Cole atracado no Iêmen em 2000 já mostravam uma mudança que estava em curso, que era a ascensão de organizações terroristas de alcance global como ameaça a paz e a segurança internacional.

Convém mencionar que tais ataques se iniciam logo após o fim da Guerra da Fria (1991), e do término da primeira Guerra do Golfo (1990-1991) que foi originada pela invasão do Iraque ao Kuwait (1990), onde tropas ocidentais ficaram estacionadas em países muçulmanos. Este último episódio aliado a ocupação do Afeganistão pela ex-União Soviética (1979-1989) dão origem ao pensamento do líder do grupo Al Qaeda, Osama Bin Laden, que pregava a defesa do mundo islâmico contra a ocupação e a exploração das riquezas dos países muçulmanos pelo mundo ocidental, que é entendido como sendo os EUA e os seus aliados europeus, por meio de uma jihad (que na visão desse grupo é uma guerra santa contra os infiéis e inimigos do islã) em escala global.

Ao relembrarmos o cenário geopolítico da época o mundo, após a Guerra Fria, vivia uma unipolaridade com os EUA como potência hegemônica, e sem possíveis ameaças no horizonte, o que fazia com agisse como uma polícia global ou o "xerife do mundo". Dessa forma, conseguia impor a sua agenda militar e econômica liberal à comunidade internacional, bem como atraía uma certa hostilidade por parte de alguns países e de grupos com visão de mundo antagônicos.

Nesse sentido, após o 11 de setembro de 2001, os EUA invadem o Afeganistão em 2001, e em 2003 o Iraque. Sendo que a invasão estadunidense ao território iraquiano, por motivos comprovadamente falsos, reforçam o pensamento da Al Qaeda e legitimam perante os fundamentalistas islâmicos as ações terroristas desse grupo, e que no futuro originará outros grupos terroristas, como o Estado Islâmico, Al Nusra dentre outros. Destarte, começamos a ver que a Guerra ao Terror gerará mais terror no mundo, aumentando a instabilidade mundial.

Assim sendo, torna-se interessante analisarmos algumas consequências desse novo tipo de guerra e os seus impactos no cenário internacional:

- aumento da vigilância eletrônica em escala global, onde a privacidade individual é invadida pelo Estado;

- protagonismo das Forças Especiais;

- violação dos Direitos Humanos pelo Estado, principalmente por parte dos EUA pela implementação da prisão de Guantánamo e do uso de táticas de interrogação especial (tortura);

- uso de forma ostensiva da diplomacia militar coercitiva por parte dos EUA e de seus aliados europeus, inclusive com tentativas de interferência interna em alguns países com o objetivo de derrubar governos;

- início do uso de drones como meio de projeção de poder, que vem moldando as novas formas de conflito;

- estabelecimento da ideia de ataque preventivo a outros países como autodefesa, bem como para garantir os Direitos Humanos, além da preservação da paz e da segurança internacional;

- imposição de legislação mundial sobre segurança interna, como meios de transporte aéreo e marítimo (ISPS CODE);

- fortalecimento das agências de inteligência no mundo;

- aumento do protagonismo dos grupos terroristas como ameaça a paz e a segurança internacional;

- aumento do número de refugiados, principalmente de países muçulmanos, em direção aos países ocidentais, ocasionando o incremento de convulsões sociais; e

- aumento de movimentos discriminatórios contra os muçulmanos.

Outra consequência da Guerra ao Terror foi o surgimento de Estados competidores à hegemonia estadunidense, e que devido aos EUA estarem focados no combate as ameaças assimétricas, acabaram relegando a um segundo plano as ascensões militares chinesa e russa. O Blog abordou um pouco esse tema em seu artigo " Os EUA e os desafios atuais para manter a hegemonia global", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/os-eua-e-os-desafios-atuais-para-manter-a-hegemonia-global, onde afirmamos que após a queda do muro de Berlim, com o consequente fim da União Soviética, os EUA tornaram-se a potência hegemônica durante um tempo, e vivemos a "pax americana", até que novos competidores começaram a surgir. Com o advento da "guerra ao terror", suas forças armadas começaram a serem empregadas em larga escala na "guerra assimétrica" (principalmente as suas forças especiais), e por um período os EUA se descuidaram da "guerra clássica", o que permitiu que os novos competidores pudessem melhorar e desenvolver bastante as suas forças armadas, sem muito alarde, no intuito de tentar a se equipararem ao poderio militar estadunidense, notadamente China e Rússia. Podemos verificar isso ao analisarmos a US Navy, principal fonte de projeção de poder militar dos EUA, que apesar de continuar sendo a marinha mais poderosa do mundo não detém mais o Comando do Mar.

Tal guerra trouxe aos EUA um cenário econômico ruim, pois a sua economia começou a ser drenada para as intervenções militares, tentativa de moldar os países a regimes democráticos de forma "atabalhoada", e investimentos gigantescos na indústria bélica, o que nos leva a concluir que a Guerra ao Terror abala, em certa medida, a economia estadunidense, enfraquecendo a sua hegemonia econômica, e favorecendo a ascensão mundial chinesa nesse campo.

Com a recente saída das tropas estadunidenses do Afeganistão (31 de agosto de 2021), se inicia, teoricamente, o fim do período da Guerra ao Terror por parte dos EUA, onde o presidente Joe Biden afirmou que a política intervencionista e a diplomacia militar coercitiva estadunidenses acabaram, e que a partir de agora o país deve agir na política externa de forma mais diplomática focando nos atuais competidores estatais, o que poderá inaugurar uma nova era da geopolítica mundial no Século XXI.

Tal discurso alinha-se a proposta de Biden para a política externa de seu governo, e que tratamos no nosso artigo "A política externa de Biden e os seus possíveis impactos geopolíticos", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-política-externa-de-biden-e-os-seus-possíveis-impactos-geopolíticos, em que discutimos o documento Interim National Security Strategic Guidance, que tentará fazer com que os EUA voltem a ser o protagonista mundial por meio de políticas a serem conduzidas, a fim de assumir a liderança geopolítica global, onde isso se daria por meio dos organismos multilaterais, reaproximação dos aliados tradicionais, utilização da diplomacia como principal forma de solução de crises e tensões, defesa da democracia e dos direitos humanos em todo o mundo, além de outras iniciativas.

A decisão unilateral dos EUA em se retirar do Afeganistão sem um debate prévio com os seus aliados europeus acabou por criar uma situação politicamente desconfortável entre as partes, o que fomenta a ideia da Europa ser cada vez menos dependente do apoio estadunidense.

O Blog é de opinião de que o legado da Guerra ao Terror foi a instabilidade mundial, contribuindo para a consolidação do conceito de mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), a oportunidade de ascensão de novos competidores a hegemonia estadunidense, e o fim do período dos EUA como polícia global. Ademais, não houve sucesso em acabar com a ameaça terrorista mundial, pelo contrário, potencializou-a trazendo para a comunidade internacional uma pauta que dificilmente perderá a importância, que é a contenção dessa ameaça.

Dessa forma, acreditamos que a implementação pelos EUA da Guerra ao Terror foi um grande erro geopolítico, pois a forma com que foi conduzida acabou por mergulhar o mundo, principalmente o Oriente Médio, África e parte da Ásia Central, num caos.

Outrossim, perdeu-se a oportunidade de mitigar as causas para o surgimento de grupos terroristas como a melhoria da qualidade de vida das populações dos países pobres, com a consequente diminuição das desigualdades sociais e do combate a corrupção.

As conclusões acima ratificam a nossa análise, de artigos anteriores, de que vivemos num mundo imprevisível e menos seguro. Esperamos que, a partir de agora, possamos inaugurar uma nova fase da geopolítica mundial que seja menos tensa.

Resta-nos acompanhar até quando a sociedade estadunidense, que está cansada de lutar durante 20 anos no Afeganistão e tendo de gerenciar os problemas advindos da Guerra ao Terror, manterá o discurso e a proposta de política externa de Biden.

Qual a sua opinião sobre o tema?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:

Matéria de 06/09/2021:

Matéria de 16/08/2021:

Matéria de 31/08/2021:

Matéria de 27/07/2021:

Matéria de 15/11/2018:

Matéria de 01/09/2021:

Matéria de 16/08/2021:

Matéria de 09/09/2021:


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