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Possível ação do Hezbollah no Brasil e os seus impactos.


Figura disponível em https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/wp-content/uploads/sites/20/2023/11/IMG_0337.jpeg

No dia 08 de novembro de 2023 a Polícia Federal brasileira realizou duas prisões, por meio da Operação Trapiche e da cooperação com os serviços de inteligência tanto dos EUA quanto de Israel, de cidadãos brasileiros que, supostamente, teriam sido recrutados pelo grupo Hezbollah para cometer atentados terroristas contra a comunidade israelita brasileira.

O Blog por meio da sua Seção Oriente Médio, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/ori-m%C3%A9dio, vem acompanhando os acontecimentos dessa complexa região, e um dos atores que merece atenção é o grupo libanês Hezbollah, que foi citado em vários de nossos artigos.

Nesse sentido, dedicamos um artigo exclusivo para ele intitulado "Hezbollah e sua importância geopolítica no Oriente Médio", de 16 de julho de 2020, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/hezbollah-e-sua-importância-geopolítica-no-oriente-médio. Dentre as várias análises que realizamos nesse artigo, afirmamos que, devido as suas ligações com o governo de Teerã, ele é empregado por esse país como um braço armado à distância (proxy war). Para tanto, recebe armamento iraniano, dentre eles vários tipos de mísseis e foguetes, além de continuado apoio logístico e ajuda financeira, tanto desse governo quanto da Síria (grande aliado iraniano), bem como de doações de pessoas e de organizações muçulmanas da ramificação xiita. Possui grande importância estratégica para o Irã, como o grande aliado não estatal em sua disputa contra Israel, EUA e na "guerra fria" com a Arábia Saudita. Além disso, o Hezbollah possui capacidade de atuação internacional, conforme informações de fontes que nos dão conta de sua participação na Guerra da Bósnia, Guerra da Síria, Guerra do Iêmen, apoio ao Irã em 2014 por ocasião do conflito no Iraque, atentados no exterior, possível presença na Venezuela, além de acusações de ligações com alguns cartéis de drogas da América do Sul. Algumas dessas atuações não possuem apoio popular libanês, o que por vezes divide a opinião interna daquele Estado, podendo colocar o país em risco. Outrossim, também, dissemos que algumas investigações apontam que esse grupo vem atuando em território brasileiro junto a grupos criminosos.

Logo, não nos causou espanto o possível recrutamento de brasileiros pelo Hezbollah para se juntar as suas fileiras, pois como mostramos acima, ele possui atuação internacional, bem como opera no nosso continente, inclusive com relações no Brasil, notadamente na região da tríplice fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai) - cidade de Foz do Iguaçu -, bem como em São Paulo.

Entretanto, o que chamou atenção e requer prudência e cuidado é a acusação de planejamento de atentados terroristas em território brasileiro, pois o grupo sempre apresentou um perfil de atuação discreto no Brasil, estando mais relacionado com atividades criminosas, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, ou seja, um claro objetivo de conseguir recursos para financiar as suas operações, em virtude das dificuldades econômicas que o Irã, seu principal financiador, vem sofrendo devido as severas sanções ocidentais.

Convém mencionar que existem fortes suspeitas de autoridades argentinas sobre a participação do Hezbollah nos atentados à bomba contra a embaixada de Israel, em 1992, e na Associação Mútua Argentina - Israelense (AMIA), em 1994.

Outro dado importante e que convém analisar, conforme dissemos no artigo "O problema venezuelano parte II. O estreitamento de laços com o Irã", de 05 de dezembro de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-problema-venezuelano-parte-ii-o-estreitamento-de-laços-com-o-irã, é que na Venezuela haveria a presença de militares iranianos da Força Qurds da Guarda Revolucionária, que é responsável por treinar, equipar e fomentar os seus proxies na luta contra os EUA e os seus aliados. Tal Força, em vários cenários, opera em coordenação com o Hezbollah.

Em que pese o Hezbollah ter certa autonomia de ação dentro do território libanês, nenhuma de suas ações são implementadas sem o conhecimento ou anuência do governo de Teerã. Logo, a possibilidade de atentado no Brasil contra judeus, com certeza seria, no mínimo, de conhecimento do Irã.

Ademais, o possível atentado contra cidadãos de um dos seus principais adversários, no caso Israel, teria, em nossa visão, os objetivos de minar o governo de Tel Aviv, bem como as relações entre o Brasil e aquele país, que vêm sofrendo desgastes no atual governo, ainda mais quando existe uma grande polarização na sociedade brasileira entre o apoio à causa palestina e o apoio à Israel.

Além disso, demonstraria que possui capacidade de atingir os israelenses fora do seu território, e em qualquer lugar do mundo, inclusive no "pacífico" Brasil, que possui grandes comunidades de muçulmanos e de judeus. Tal ato, poderia incentivar outros grupos fundamentalistas a seguir esse caminho, ratificando que o terrorismo é um fenômeno global.

Assim, podemos ver uma relação do possível ato com a "profundidade estratégica iraniana", que abordamos no artigo "Profundidade Estratégica - o pensamento iraniano e a política anti estadunidense", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/profundidade-estratégica-o-pensamento-iraniano-e-a-política-anti-estadunidense.

Dessa forma, podemos inferir que, apesar das investigações terem iniciado antes do atual conflito entre Israel e o Hamas, ficou claro para o Blog que a realização do possível atentado estaria sendo antecipada e com isso se relacionaria diretamente com aquele embate.

Alguns analistas brasileiros não acreditam que o Irã estaria envolvido no possível atentado, em virtude das ótimas relações que este país possui com o atual governo brasileiro, notadamente com o Presidente Lula que tentou mediar um acordo nuclear para o Irã, junto com a Turquia, em 2010, pois causaria um problema diplomático entre Brasília e Teerã.

Nesse contexto, discordamos de tais analistas, pois no mundo, infelizmente, não existem amizades, mas interesses, como sempre temos falado e demonstrado.

Entretanto, caso houvesse o atentado, tanto o Hezbollah, que teria dificultada as suas operações ilícitas de levantamento de recursos no Brasil, quanto o Irã, devido ao desgaste político com o governo brasileiro, teriam a perder, o que traz um desafio para o exame dos analistas de geopolítica e de inteligência estratégica.

Assim, caso fique comprovado pela Polícia Federal que o Hezbollah realmente tentou recrutar brasileiros para realizar atentados terroristas em solo brasileiro, será um grande teste para a política externa brasileira em relação ao Irã, por tudo que mostramos neste artigo.

Afinal, não será a primeira vez que os iranianos usaram o governo brasileiro, como falamos nos artigos "Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil", Partes I, II e III, e que podem ser lidos na Seção Brasil, acessível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/brasil.

Dessa forma, pode-se compreender a preocupação das autoridades governamentais brasileiras em lidar com este caso, como verificamos na exposição do Ministro da Justiça, nas redes sociais, sobre a investigação.

O Blog é de opinião que a comprovação da participação do Hezbollah no planejamento de possível atentado em solo brasileiro será um grande problema para o governo brasileiro devido a política de aproximação com o governo iraniano, ainda mais quando esse Estado fará parte do BRICS.

Com base no exposto, infelizmente, mais uma vez fica comprovada a nossa afirmação de que vivemos num mundo mais imprevisível e menos seguro.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise: Matéria de 22/11/2021:

Matéria de 08/11/2023:

Matéria de 17/04/2023:

Matéria de 08/11/2023:

Matéria de 25/09/2018:


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