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Possíveis Impactos Geopolíticos da Queda de Bashar al-Assad para o Irã no Oriente Médio.

A queda do regime de Bashar al-Assad na Síria representa um marco significativo na geopolítica do Oriente Médio, com implicações profundas para a estratégia regional do Irã. Como aliado de longa data de Damasco, Teerã utilizava a Síria como um corredor estratégico para apoiar grupos aliados, como o Hezbollah no Líbano, e para projetar sua influência na região, conforme abordamos no nosso artigo “O Arco Xiita, desejo geopolítico do Irã, e os impactos no Oriente Médio “, de 14 de abril de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-arco-xiita-desejo-geopolítico-do-irã-e-os-impactos-no-oriente-médio.

Nesse sentido, a perda desse aliado altera substancialmente o equilíbrio de poder e desafia a profundidade estratégica iraniana, que apresentamos no artigo “Profundidade Estratégica - o pensamento iraniano e a política antiestadunidense“, de 30 de outubro de 2023, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/profundidade-estratégica-o-pensamento-iraniano-e-a-política-anti-estadunidense. O conceito de "profundidade estratégica" no pensamento iraniano refere-se à criação de uma rede de alianças e influências que permitam ao país projetar poder além de suas fronteiras, garantindo segurança e promovendo seus interesses geopolíticos. Essa estratégia inclui o apoio a grupos não estatais e a formação de parcerias com governos alinhados, como era o caso da Síria sob Assad. A política antiestadunidense do Irã está intrinsecamente ligada a essa profundidade estratégica, buscando contrabalançar a influência dos EUA no Oriente Médio, bem como serviria como uma dissuasão contra Israel.

Assim, a derrocada do regime de Assad desmantela um componente crucial da profundidade estratégica iraniana. A Síria servia como uma ponte terrestre que permitia ao Irã fornecer armas e suporte logístico ao Hezbollah e a outros grupos aliados -proxies, como as milícias xiitas pró iranianas no Iraque, na região. Com a mudança de regime, essa rota é interrompida, forçando Teerã a reconsiderar suas linhas de abastecimento e apoio.

Além disso, a perda de um governo aliado em Damasco enfraquece o chamado "Eixo da Resistência", composto por Irã, Síria, Hezbollah e, em certa medida, grupos como o Hamas. Esse eixo funcionava como um bloco de oposição à influência dos EUA e de Israel na região, não podemos esquecer dos Houthis no Iêmen. Sem o apoio sírio, a coesão e a eficácia desse grupo são significativamente comprometidas.

Dessa forma, em nossa análise, uma resposta estratégica plausível por parte do Irã seria o apoio a grupos simpatizantes do governo iraniano na Síria, mesmo em um cenário pós-Assad. Essa política visaria a preservar uma base mínima de influência no território sírio, garantindo que as conexões com aliados locais possam ser mantidas, ainda que de forma fragmentada. Esse apoio poderia ser canalizado por meio de ajuda financeira, treinamento militar e fornecimento de armas, fortalecendo facções alinhadas com Teerã e criando obstáculos para governos que se afastem da órbita iraniana.

Portanto, ao apoiar grupos pró iranianos, Teerã buscaria não apenas manter a sua presença, mas também influenciar as decisões do novo governo sírio. Essa estratégia seria especialmente importante em um cenário de crescente pressão internacional, em especial dos EUA, e regional, notadamente de Israel, contra as ações do Irã no Oriente Médio.

Outra possível abordagem do Irã seria tentar uma aliança pragmática com o novo governo sírio, "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", especialmente no contexto de ameaças externas, como as incursões israelenses no território sírio. A recente intensificação dos ataques israelenses, justificados como medidas preventivas contra a transferência de armas iranianas para o Hezbollah, cria um terreno comum entre Teerã e Damasco.

A aliança com o novo governo poderia incluir assistência militar e de inteligência para fortalecer as defesas sírias contra Israel. Essa colaboração teria o benefício adicional de permitir que o Irã mantenha alguma influência direta em questões de segurança na Síria, mesmo sob um governo menos alinhado ideologicamente.

Nesse contexto, o Irã enfrenta a necessidade de reavaliar suas relações com outros atores regionais. A Turquia, por exemplo, pode buscar expandir sua influência na Síria pós-Assad, potencialmente em desacordo com os interesses iranianos. Da mesma forma, países do Golfo, como a Arábia Saudita, podem ver na mudança de regime uma oportunidade para conter a influência iraniana. Ademais, esses três países vêm disputando a liderança do mundo muçulmano.

Sugerimos a leitura dos artigos "China como protagonista internacional - será o fim da guerra fria entre o Irã e a Arábia Saudita?", "Guerra fria muçulmana: Arábia Saudita x Irã" e "Ascensão turca: chega de ceder!" que podem ser lidos respectivamente em https://www.atitoxavier.com/post/china-como-protagonista-internacional-será-o-fim-da-guerra-fria-entre-o-irã-e-a-arábia-saudita, https://www.atitoxavier.com/post/guerra-fria-muçulmana-arábia-saudita-x-irã e https://www.atitoxavier.com/post/ascensão-turca-chega-de-ceder.

Internamente, a perda de um aliado estratégico pode intensificar o debate sobre a eficácia da política externa iraniana e sua ênfase na profundidade estratégica. Setores da sociedade iraniana que questionam o envolvimento do país em conflitos regionais podem ganhar voz, pressionando por uma reorientação das prioridades nacionais.

Logo, a nova configuração geopolítica apresenta desafios significativos para o Irã. A necessidade de estabelecer novas rotas de apoio aos seus aliados, a possível intensificação do isolamento regional e a pressão econômica decorrente de sanções internacionais são obstáculos que Teerã precisará enfrentar. Ademais, em nossa visão, uma ascensão fundamentalista sunita em seu entorno estratégico se revelaria uma enorme ameaça para o governo iraniano, e com isso é algo que ele tentará evitar a todo custo

No entanto, a situação também pode oferecer oportunidades para o Irã redefinir sua estratégia regional. A busca por novas alianças, o investimento em soft power e a promoção de iniciativas diplomáticas podem permitir a Teerã manter sua influência, mesmo diante das adversidades.

Nesse cenário, acreditamos que a Rússia será fundamental na futura estratégia iraniana, em virtude dos seus interesses na Síria, como a manutenção de suas bases naval e aérea para projeção de poder.

O Blog é de opinião que a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria representa um golpe significativo para a estratégia de profundidade estratégica do Irã no Oriente Médio. A perda de um aliado chave obriga Teerã a reavaliar suas políticas regionais, enfrentar novos desafios e buscar alternativas para manter sua influência. Uma estratégia que apostasse no apoio a grupos simpatizantes e na cooperação com o novo governo sírio contra ameaças externas, como as invasões israelenses, seriam caminhos que demonstrariam a flexibilidade e a resiliência da política iraniana, e com isso o governo iraniano tentaria manter a sua profundidade estratégica.

Portanto, a capacidade do Irã de se adaptar a essa nova realidade geopolítica será determinante para seu papel futuro na região. Assim, podemos concluir que aumentou a complexidade geopolítica do Oriente Médio.

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Seguem alguns vídeos para ajudar na nossa análise:

Matéria de 01/01/2025:

Matéria de 16/12/2024:

Matéria de 08/12/2024:

Matéria de 09/12/2024:



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© 2020 por Alexandre Tito. Feito Wix.com

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