Recentemente um fato surpreendeu vários analistas internacionais e militares quando foi detectado pelos EUA um balão chinês, com dimensões equivalentes a três ônibus de viagem, sobrevoando o seu território e carregando vários equipamentos eletrônicos. Suspeita-se que o balão estava sendo utilizado pela inteligência chinesa, com o intuito de realizar o reconhecimento de bases estadunidenses, empregando a inteligência de imagens e de sinais. Ademais, o sobrevoo do balão chinês, também, teria a tarefa de verificar a resposta de Washington, ou seja, testar a prontidão e como o governo dos EUA reagiria a violação de seu espaço aéreo.
Entretanto fica a pergunta: porque usar balão como ferramenta de inteligência no Século XXI? Assim, o presente artigo tentará responder a essa pergunta de forma sucinta. Para tanto, é importante olharmos para o passado para chegarmos no presente.
É nítida e notória a necessidade humana de tentar saber o que o seu oponente está planejando, bem como de identificar a localização de suas bases e a disposição de suas forças. Assim, o reconhecimento aéreo e espacial vêm se tornando relevantes na história militar.
No passado distante, o único meio de ver o oponente era a de se posicionar em algum lugar alto, como observatórios naturais (montanhas, etc). Posteriormente surgiu, em 1794, o uso do balão pelos franceses no campo de batalha das Guerras Revolucionárias Francesas, perdurando pela Guerra Civil dos EUA, Primeira Guerra Mundial, e na Segunda Guerra Mundial com menos intensidade, pois os aviões começaram a serem empregados com câmeras fotográficas de boa resolução, melhorando a qualidade da análise de inteligência.
No período da Guerra Fria podemos afirmar que o uso de aeronaves construídas com o propósito de efetuar reconhecimento, como o U-2 estadunidense, e os satélites foram primordiais para a atividade de inteligência. Entretanto, os EUA, em 1956, implementaram o Programa GENETRIX para espionar a ex-União Soviética com balões de alta altitude carregados com câmeras de alta definição, conforme informações disponíveis em https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1950-55Intel/d229 e https://stratocat.com.ar/stratopedia/28.htm.
Com o advento da Guerra ao Terror, os drones começam a ganhar protagonismo, juntamente com os satélites, mas os balões continuaram a serem usados no Afeganistão e no Iraque pelos EUA.
Dessa forma, devemos, como disse Andrew Hammond - historiador do Museu de Espionagem Internacional, analisar as vantagens e desvantagens de se utilizar o balão na atual era tecnológica. Assim, apresentaremos abaixo alguns tópicos para análise:
- Devido a órbita satelital é possível conhecer quando ele passará por uma região de interesse, o que permite ao oponente camuflar ou dificultar, na medida do possível, a obtenção de informações de interesse por parte do seu adversário;
- Atualmente com o desenvolvimento tecnológico, e com o crescimento da Guerra Cibernética alguns países têm conseguido interferir nas informações satelitais, bem como possuem capacidade de destruir satélites inimigos;
- O emprego de satélites requer um custo elevado no tocante ao lançamento, e posterior comando e controle desse recurso;
- As aeronaves de reconhecimento possuem um custo elevado de operação, pois nele está inserido o consumo de combustível, a formação do piloto e a manutenção da aeronave, que são extremamente onerosos;
- Os drones, em que pese serem mais baratos do que as aeronaves pilotadas, ainda apresentam um custo razoável, devido a tecnologia empregada;
- Os balões, devido a sua baixa velocidade, podem permanecer bastante tempo (horas) sobre uma região, diferentemente dos satélites (minutos). São menos suscetíveis a interferências eletrônicas como os satélites, aeronaves e drones. São mais baratos, mais difíceis de serem detectados e podem carregar vários equipamentos, dependendo da dimensão do balão. Além disso, os balões demonstram menos agressividade ao oponente, parecendo inofensivos, em virtude de parecerem um objeto indefeso e passivo. Convém mencionar, também, que os atuais balões podem voar a grandes altitudes, o que dificulta a sua destruição pelo oponente, pois nem todos os Estados possuem recursos para destruí-los a mais de 80.000 pés de altitude (24,4 KM). Os modernos balões espiões possuem um sistema de guiagem, mas apresentam um maior erro de navegabilidade, devido a estarem sob forte influência dos ventos.
Nesse sentido, podemos entender o motivo da China empregar, ainda hoje, os balões como uma ferramenta de reconhecimento para a sua atividade de inteligência. O governo de Washington afirma que a China possui um programa de balões espiões, que opera há vários anos e que teria o propósito de realizar o reconhecimento da região do Indo-Pacífico, notadamente em Índia - Japão - Vietnã - Taiwan - Filipinas, apesar do governo de Pequim negar veementemente. Dessa forma, vemos novamente uma guerra de narrativas entre os EUA e a China.
É digno de nota que os EUA também pretendiam empregar balões para espionar tanto a China quanto a Rússia, como descreve a matéria intitulada "U.S. military’s newest weapon against China and Russia: Hot air", de 07 de maio de 2022, do site POLITICO, disponível em https://www.politico.com/news/2022/07/05/u-s-militarys-newest-weapon-against-china-and-russia-hot-air-00043860, que recomendamos a leitura. O Departamento de Defesa dos EUA estaria implementado um projeto de emprego de balões que voariam entre 60.000 a 90.000 pés de altura (18.3 e 27.4 KM, respectivamente), cuja a principal finalidade seria a de realizar um acompanhamento dos locais lançadores de mísseis hipersônicos.
Porém, no dia 04 de fevereiro, os EUA destruíram um balão chinês sobre o seu território, por meio de sua aeronave F-22 Raptor, e cujos destroços foram recolhidos pela US Navy e encontram-se no FBI, no setor de contrainteligência, para investigação.
A imagem a seguir mostra a trajetória do balão chinês:
Funcionários dos serviços de inteligência dos EUA, de acordo com o site da CNN (https://edition.cnn.com/2023/02/15/politics/us-intel-china-balloon/index.html) analisam a possibilidade do governo chinês não ter tido a intenção de espionar o território estadunidense, pois o balão teria sido levado por ventos fortes inesperados, mas teriam aproveitado a oportunidade para espionar, já que o balão acabou se dirigindo para os EUA. Tais fontes alegam, também, que o objetivo chinês era GUAM, onde os EUA possuem uma base.
Portanto, podemos inferir que a China desenvolveu uma forma de penetrar no espaço aéreo estadunidense para realizar reconhecimento sem realizar uma escalada militar, ou seja, empregou um tecnologia obsoleta (propulsão) com o que há de mais moderno em tecnologia (sensores).
O Blog é de opinião que os Estados continuarão a desenvolver novos métodos para realizar a espionagem aérea e espacial, seja adaptando tecnologias menos invasivas, como os balões, quanto desenvolvendo novas tecnologias, como temos abordado em nossa Seção Geopolítica Espacial.
Logo, pelo que vimos nesse artigo, não há o porquê de menosprezar o uso de balões, pois as duas maiores potências militares ainda o fazem.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:
Matéria de 17/02/2023:
Matéria de 17/02/2023:
Matéria de 18/02/2023:
Matéria de 03/02/2023:
Matéria de 05/02/2023:
Matéria de 08/02/2023:
Matéria de 06/02/2023:
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