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Parceria militar entre Rússia e Coreia do Norte. Parte II: aumento da tensão global.


Figura disponível em https://media.gazetadopovo.com.br/2024/07/01103745/8022109001001-960x540.jpg

O Blog em seu artigo "Parceria militar entre Rússia e Coreia do Norte: fôlego para ambos", de 08 de setembro de 2023, que recomendamos a leitura visando ajudar no entendimento da contextualização geopolítica, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/parceria-militar-entre-rússia-e-coreia-do-norte-fôlego-para-ambos, apresentou várias análises, dentre elas falamos que a Coreia do Norte estava despontando como um novo parceiro russo na atual Guerra da Ucrânia por meio do fornecimento de munições ao governo de Moscou. Com isso, afirmamos que era bastante factível que os russos e os norte-coreanos estabelecessem uma parceria militar. Ademais, alertamos, também, que tal parceria aumentaria a instabilidade geopolítica na região do Pacífico Ocidental e contribuiria para deixar o mundo mais instável e menos seguro, ainda mais quando os atuais líderes desejam se manter no poder, são autoritários e têm comportamentos imprevisíveis.

Nesse sentido, a recente informação de que soldados da Coreia do Norte estão realizando treinamento militar na Rússia levantou questões estratégicas e geopolíticas de grande relevância no contexto da Guerra da Ucrânia e das dinâmicas internacionais mais amplas. Embora a natureza exata e o escopo desse envolvimento ainda sejam objeto de análise, tal movimento implica uma complexa interseção de interesses entre Moscou e Pyongyang, com impactos potenciais para o curso do conflito na Ucrânia e as tensões globais.

Como analisamos no artigo citado acima, a colaboração militar entre a Rússia e a Coreia do Norte não é completamente inédita, mas se intensificou desde o isolamento internacional da Rússia após a invasão da Ucrânia. A pressão das sanções ocidentais empurrou Moscou a buscar novos parceiros estratégicos, sobretudo aqueles igualmente marginalizados pela ordem internacional vigente, como a Coreia do Norte. Para Pyongyang, esse alinhamento representa uma oportunidade de fortalecer laços com um aliado que pode oferecer apoio militar e tecnológico em troca de auxílio tático ou material.

Dessa forma, o envio de tropas norte-coreanas para treinamento na Rússia deve ser compreendido à luz desse alinhamento de conveniência mútua. Pyongyang pode estar procurando aumentar a sua capacidade militar, ao mesmo tempo que demonstra solidariedade a um parceiro estratégico. Em troca, a Rússia pode continuar a obter assistência material, seja através de armamentos, munições ou apoio logístico, como tem sido especulado. Isso indicaria uma possível extensão da guerra por procuração, onde Estados terceiros, como a Coreia do Norte, ampliam sua participação indireta no conflito ucraniano.

O envolvimento de soldados norte-coreanos no treinamento militar na Rússia pode ter consequências imediatas e de longo prazo para o conflito na Ucrânia. A primeira implicação evidente é o reforço das capacidades militares russas. O prolongamento da guerra, com uma demanda contínua por recursos humanos e materiais, coloca Moscou em uma posição de necessidade crescente de apoio externo. Embora não haja confirmação de que tropas norte-coreanas serão diretamente empregadas no campo de batalha, o treinamento de soldados pode permitir uma cooperação mais próxima e, possivelmente, até o envio de equipamentos ou especialistas militares norte-coreanos.

O impacto psicológico também deve ser considerado. A aproximação entre dois regimes conhecidos por sua postura beligerante e pela desconsideração de normas internacionais pode influenciar a percepção dos atores ocidentais, reforçando a necessidade de vigilância e de respostas coordenadas. A OTAN e seus aliados poderão interpretar essa colaboração como um agravamento da ameaça representada pela aliança russo x norte-coreana, o que pode intensificar os esforços de apoio militar e logístico à Ucrânia. A narrativa de uma aliança “antiocidental” ganha força com esse tipo de parceria. Convém mencionar que a Coreia do Sul está cogitando a possibilidade de enviar armamentos ao governo de Kiev.

Por outro lado, a participação norte-coreana levanta questões sobre a qualidade e a eficácia de tal apoio. As forças armadas da Coreia do Norte, embora extensas em número, operam com equipamento muitas vezes obsoleto e com doutrinas militares não necessariamente alinhadas às exigências modernas do campo de batalha, especialmente em uma guerra de alta intensidade como a que ocorre na Ucrânia. O impacto real de soldados norte-coreanos, em que pese serem conhecidos por sua coragem e preparo físico, pode ser limitado em termos operacionais, mas relevante simbolicamente.

Além das consequências diretas no conflito ucraniano, o estreitamento das relações militares entre Rússia e Coreia do Norte tem implicações para o equilíbrio geopolítico na Ásia e no mundo. A presença norte-coreana na Rússia pode aumentar as tensões na península coreana, o que ratifica o nosso alerta constante no artigo acima de 2023, onde a Coreia do Sul, aliada dos Estados Unidos, observa com cautela qualquer movimento de Pyongyang, ainda mais quando pode haver um aumento da capacidade militar norte-coreano, fruto de uma possível transferência de tecnologia militar russa, resultando em submarinos mais letais e mísseis balísticos mais modernos. Além disso, os militares norte-coreanos ganhariam experiência em combate e poderiam testar as suas táticas e armamentos contra um inimigo real que emprega armamento e táticas ocidentais, o que podemos considerar como um ensaio para um possível confronto com a Coreia do Sul.

Portanto, tal colaboração pode ser interpretada por Seul e Washington como uma nova forma de provocação, complicando ainda mais os esforços de contenção e diálogo na região. Cabe lembrar que as tensões entre as Coreias têm aumentado recentemente.

Outrossim, é importante frisar que tanto a Rússia quanto a Coreia do Norte são potências nucleares, e o envio de tropas para lutar lado a lado em um conflito simboliza uma aliança profunda entre dois Estados.

No cenário mais amplo, a Rússia pode estar enviando um recado claro à comunidade internacional: mesmo isolada, ela ainda pode forjar alianças com regimes parias e aumentar a imprevisibilidade do ambiente geopolítico. Esse alinhamento com a Coreia do Norte também sugere que Moscou está disposta a buscar aliados em qualquer frente que lhe ofereça vantagens tangíveis, mesmo que isso signifique desestabilizar outras regiões do mundo.

O Blog é de opinião que o treinamento militar de soldados norte-coreanos na Rússia é um desenvolvimento que vai além da mera cooperação técnica. Ele simboliza um aprofundamento de uma aliança entre dois Estados que compartilham uma visão revisionista da ordem internacional. Embora seu impacto direto na Guerra da Ucrânia ainda esteja por ser observado, a simbologia dessa aliança não pode ser ignorada. Ela reforça a narrativa de uma polarização crescente entre o Ocidente e seus adversários estratégicos, ao mesmo tempo que levanta novas preocupações sobre a capacidade de regimes isolados, como o norte-coreano, de influenciar conflitos globais em curso. A resposta do Ocidente, representado pelos EUA e os seus aliados, portanto, será crítica para determinar o equilíbrio de poder tanto na Europa quanto na Ásia nos próximos anos.

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Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:

Matéria de 21/10/2024:

Matéria de 25/10/2024:

Matéria de 23/10/2024:

Matéria de 24/10/2024:

Matéria de 25/10/2024:


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