Em 27 de março a China e o Irã firmaram uma parceria estratégica econômico-militar de 25 anos, onde o governo de Pequim realizará investimentos de cerca de 400 bilhões de dólares nos setores iranianos de energia, infraestrutura de transportes, saúde e telecomunicações, além de realização de exercícios e treinamentos militares, desenvolvimento tecnológico na área de defesa e compartilhamento de dados de inteligência, e em troca poderá comprar petróleo e gás iranianos com grande desconto no preço, bem como terá um fornecimento constante e seguro dessas commodities.
Convém mencionar que ambos os países sofrem com sanções econômicas dos EUA e de alguns aliados estadunidenses.
Apesar da relevância do acordo, uma parcela da população iraniana vê com desconfiança os termos da parceria.
A referida aproximação sino-iraniana já vinha sendo estudada no Blog no artigo "Parceria China e Irã: desafio aos EUA e mudança geopolítica no Oriente Médio", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/parceria-china-e-irã-desafio-aos-eua-e-mudança-geopolítica-no-oriente-médio, em que afirmamos:
que a política de sanções econômicas contra os iranianos, estabelecida pelos EUA e seus aliados, com o intuito de pressionar esse país a renegociar um novo acordo de desenvolvimento nuclear por meio do estrangulamento econômico, afastando os países ocidentais e a Índia de possíveis parcerias comerciais com o Irã fez com que o governo de Teerã olhasse para possíveis parcerias, dando a oportunidade para o estabelecimento de um acordo estratégico de 25 anos entre a China e o Irã, nos setores econômico e militar;
apesar de ser uma alternativa para o Irã escapar do estrangulamento econômico, os iranianos olhavam para o governo chinês com certa desconfiança. Essa parceria já havia sido proposta pela China em 2016, pois o receio de Teerã era que devido ao seu grande problema econômico, isso poderia fazer com que o país estivesse numa posição enfraquecida para a negociação;
o acordo é geopoliticamente estratégico para a China, pois possibilita a diversificação das fontes fornecedoras de petróleo, permite ao governo chinês ter um porto que possa operar no Estreito de Ormuz. Além de, por meio do prolongamento da ferrovia que fará no Paquistão até o Irã, poderá ter um escoamento de commodities entre a China e o Golfo Pérsico, isolando a Índia. O acordo coloca o Irã no projeto chinês Belt and Road Iniciative;
a parceria é fundamental para o Irã, pois permitirá a manutenção do atual regime iraniano no poder, poderá auxiliar economicamente a Síria, bem como o Hezbollah, que é seu proxy no Líbano, mantendo o seu projeto do Arco Xiita, já comentado no Blog na postagem: O Arco Xiita, desejo geopolítico do Irã, e os impactos no Oriente Médio, disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/o-arco-xiita-desejo-geopolítico-do-irã-e-os-impactos-no-oriente-médio.
A assinatura do acordo foi realizado num momento em que os EUA estão tentando recuperar e fortalecer as suas alianças, que ficaram abaladas no governo Trump, e com isso agir de forma coordenada contra suas principais ameaças, como a China e o Irã. Além disso, o governo Biden não demonstrou, por meio de sinais concretos, que aliviaria as pressões econômicas sobre o governo iraniano em relação ao seu programa nuclear, em que pese o atual governo estadunidense ter sinalizado que estaria disposto a renegociar. A grande desconfiança entre os EUA e o Irã travam as negociações, pois um espera um movimento concreto do outro.
Nesse sentido, a China viu que era o momento oportuno para aumentar a sua influência e tentar impedir uma possível aproximação dos EUA. Conforme as palavras, acessíveis em https://www.csis.org/analysis/china-and-iran-major-chinese-gain-white-area-warfare-gulf, do Ministro das Relações Exteriores da China, o acordo demonstra que o governo chinês é um amigo do Irã, o que foi ratificado pelo seu homólogo iraniano:
"China firmly supports Iran in safeguarding its state sovereignty and national dignity.” (Ministro Wang - China).
"China as a friend for hard times.” (Ministro Zarif - Irã)
Porém, a parceria não é interessante para a Índia, porque o Irã é um parceiro importante para tentar atingir o mercado afegão e de outros países da Ásia Central, mas que devido a sua aliança com os EUA, cedeu espaço para a China que é o seu principal competidor e que poderá atrapalhar os seus planos. Além disso, o acordo, também, não é interessante para Israel e Arábia Saudita, devido ao Irã ser a maior ameaça para esses países.
Pelo mapa abaixo, podemos ver a relevância do Irã para atingir os mercados da Ásia Central, o que demonstra o interesse chinês, bem como indiano, em ter parceria econômica com Teerã:
Alguns analistas consideram que a parceria não será boa para a China em médio prazo, devido a perseguição chinesa aos uigures, que são muçulmanos, e que habitam a região de Xinjiang, que fica localizada no noroeste da China, fazendo fronteira com o Paquistão e o Afeganistão, que poderá trazer atentados terroristas, e problemas políticos com Estados Islâmicos. Os uigures tentaram declarar independência no início do Século XX, mas não obtiveram sucesso. O governo da China afirma que essa etnia possui ligações com a Al-Qaeda, e ainda possui uma postura separatista. As repressões do governo de Pequim têm sido alvo de protestos dos governos ocidentais e de organismos internacionais.
Acreditamos que a etnia uigur não possui relevância para os Estados Islâmicos, que são pragmáticos, e que a repressão chinesa não trará consequências no relacionamento da China com esses governos.
O Blog é de opinião que o acordo é geopoliticamente importante para a China e o Irã, pois garantirá a segurança energética chinesa, ainda mais após a recente problemática do Canal do Suez em que um navio encalhou e interrompeu o fluxo pelo canal, e o aumento da sua influência geopolítica no Oriente Médio, bem como possibilitará ao Irã consolidar a sua influência na Síria, Iraque, Líbano e no Iêmen, devido ao alívio econômico que o acordo trará, e que contribuirá para a consolidação do Arco Xiita. Dessa forma, ratificamos a nossa opinião constante no nosso artigo "Parceria China e Irã: desafio aos EUA e mudança geopolítica no Oriente Médio".
Essa parceria poderá diminuir a influência dos EUA no Oriente Médio, marcar uma era da influência da China na região, e consolidar o Irã como uma potência regional.
Qual a sua opinião? Como os EUA reagirão a esse acordo? A Índia poderá tentar se aproximar do Irã em detrimento da sua parceria com os EUA? A Arábia Saudita se aproximará de Israel? A parceria sino-iraniana poderá atrapalhar as intenções chinesas de ser o protagonista no Oriente Médio?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossas análises:
Matéria de 28/03/2021:
Matéria de 02/04/2021:
Matéria de 29/03/2021:
Matéria de 27/03/2021:
Matéria de 27/03/2021:
Matéria de 30/03/2021:
Matéria de 30/03/2021:
Matéria de 30/03/2021:
Matéria de 30/03/2021:
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