O atual conflito entre israelenses e palestinos, que analisamos no artigo "Conflito Israel x Palestina: poderá mergulhar a região em conflito generalizado? Parte III. Impactos", de 22 de outubro de 2023, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/conflito-israel-x-palestina-poderá-mergulhar-a-região-em-conflito-generalizado-parte-iii-impactos, em falamos que poderia mergulhar o mundo no caos, caso haja a entrada de novos atores no embate, começa a impactar o mundo por vários motivos, ratificando as nossas análises.
Dentre eles, abordaremos os recentes ataques dos Houthis contra navios mercantes que têm navegado pelo Mar Vermelho em direção à Israel, o que vem trazendo prejuízos econômicos tanto ao governo de Tel Aviv quanto aos seus parceiros e aliados.
Tais ataques têm feito com que as companhias de navegação, notadamente as petrolíferas, estejam optando por realizar a navegação pelo sul da África, inclusive empresas chinesas, passando pelo Cabo da Boa Esperança, o que aumenta o percurso (tempo) e os custos do frete (cerca de 20%) e do seguro, o que teve como consequência imediata o aumento dos preços do petróleo e do gás.
Caso os ataques continuem, poderá ocorrer um choque na economia global, pois estima-se que entre 10 e 15% do comércio marítimo mundial flua pelo Mar Vermelho.
Convém mencionar que desde o início da retaliação israelense contra o Hamas, em Gaza no mês de outubro, os houthis começaram a disparar mísseis e drones contra Israel, bem como iniciaram ataques e sequestros contra o tráfego marítimo, inclusive contra navios da marinha dos EUA (US Navy), na importante Linha de Comunicação Marítima - LCM do Mar Vermelho, principal ligação do Mediterrâneo (Europa) com o Oceano Índico, África Golfo Pérsico e Ásia.
No nosso artigo "Os Houthis e sua influência na geopolítica do Oriente Médio. São um proxy do Irã?", de 19 de julho de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/os-houthis-e-sua-influência-na-geopolítica-do-oriente-médio-são-um-proxy-do-irã, tínhamos afirmado que os Houthis, que são a maioria no norte montanhoso do Iêmen, e que por serem da corrente do zaidismo, uma dissidência do xiismo, possuíam uma ligação religiosa com o Irã. Por isso, eram considerados uma ameaça aos seus vizinhos sunitas, especialmente a Arábia Saudita. Além disso, dissemos que eles seriam o proxy (intermediário/aliado) iraniano na região, e o controle do país seria uma ameaça aos países da região e uma vantagem estratégica num possível controle das principais rotas dos petroleiros. Assim, seriam um movimento análogo ao Hezbollah, e caso consigam controlar o Iêmen seria uma vitória iraniana, aumentando a sua área de influência, além de cumprir um dos seus objetivos estratégicos referente ao Arco Xiita, sugerimos a releitura da nossa matéria "O Arco Xiita, desejo geopolítico do Irã, e os impactos no Oriente Médio", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/o-arco-xiita-desejo-geopolítico-do-irã-e-os-impactos-no-oriente-médio. Sendo assim, eles ganhariam importância na geopolítica do Oriente Médio.
Um dado importante é que os ataques à LCM do Mar Vermelho e ao território israelense têm demandado por parte dos EUA e de Israel um aumento do custo militar com mísseis de defesa antiaérea, milhões de dólares por disparo, contra os drones e os mísseis houthis. Logo, torna-se mais um desafio para o governo de Washington em continuar apoiando logisticamente as várias frentes de conflito, como: a Guerra da Ucrânia, a Guerra Israel x Hamas e agora a defesa do tráfego marítimo.
Portanto, o que afirmamos em 2020 começa a ser comprovado agora. Além disso, as ações houthis ratificam a análise realizada no artigo "Profundidade Estratégica - o pensamento iraniano e a política anti estadunidense", de 30 de outubro de 2023, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/profundidade-estratégica-o-pensamento-iraniano-e-a-política-anti-estadunidense , dentre várias análises realizadas, falamos que os iranianos decidiram empregar uma estratégia defensiva, tendo como base a profundidade estratégica, que chamamos de O Arco Xiita, visando com que o conflito não chegue ao seu território, demonstrando a importância da formação de grupos simpatizantes ao regime iraniano - proxies, como: o Hezbollah (Líbano), o Hamas (Território Palestino), os Houthis (Iêmen) e as milícias xiitas no Iraque. Recomendamos os nossos os artigos: "Hezbollah e sua importância geopolítica no Oriente Médio", "Os Houthis e sua influência na geopolítica do Oriente Médio. São um proxy do Irã?" e "Conflito Israel x Palestina: poderá mergulhar a região em conflito generalizado?", disponíveis respectivamente em https://www.atitoxavier.com/post/hezbollah-e-sua-importância-geopolítica-no-oriente-médio, https://www.atitoxavier.com/post/os-houthis-e-sua-influência-na-geopolítica-do-oriente-médio-são-um-proxy-do-irã e https://www.atitoxavier.com/post/conflito-israel-x-palestina-poderá-mergulhar-a-região-em-conflito-generalizado.
Conforme a informação do Conselho de Segurança Nacional estadunidense, National Security Council, o Irã estaria apoiando os houthis nas operações de ataque no Mar Vermelho, conforme podemos ver a nota abaixo, de 22 de dezembro, o que corrobora o que dissemos no Blog:
“Iranian support throughout the Gaza crisis has enabled the Houthis to launch attacks against Israel and maritime targets, though Iran has often deferred operational decision-making authority to the Houthis [...] Iranian-provided tactical intelligence has been critical in enabling Houthi targeting of maritime vessels since the group commenced attacks in November" (fonte: https://edition.cnn.com/2023/12/22/politics/us-intelligence-iran-houthi-rebels-attacks-red-sea/index.html)
Como era de se esperar os iranianos negaram o envolvimento com os houthis nos ataques.
Dessa forma, os EUA anunciaram o estabelecimento da coalizão chamada Operation Prosperity Guardian, com o objetivo de proteger a liberdade de navegação pelo Mar Vermelho, que ficará sob o Comando da Força Tarefa 153 - Task Force 153, conforme conta na nota do Departamento de Defesa estadunidense, de 18 de dezembro, acessível em https://www.defense.gov/News/Releases/Release/Article/3621110/statement-from-secretary-of-defense-lloyd-j-austin-iii-on-ensuring-freedom-of-n/. A princípio a operação naval contará com os seguintes países: EUA - Reino Unido - Canadá - Bahrein - França - Itália - Países Baixos - Noruega - Espanha - Seicheles.
O que nos chama a atenção é não participação da China na coalizão, pois não podemos esquecer que os chineses, assim como os russos, têm se aproximado do Irã. Outro fato interessante é que os houthis afirmaram que não atacarão os navios russos que transitarem pelo Mar Vermelho.
Além disso, a insegurança da LCM do Mar Vermelho tem sido potencializada pelas recentes ações dos piratas somalis, o que têm suscitado preocupações sobre o retorno da pirataria no Golfo de Áden que, smj, estava sob controle.
Nesse sentido, as ações dos houthis, apoiados pelos iranianos, podem contribuir com os russos na Guerra da Ucrânia, pois é bem provável que aumente a atenção mundial com essa nova frente militar e o apoio logístico aos ucranianos diminua.
O Blog é de opinião que os houthis são proxies do Irã, em que pese terem maior autonomia em suas ações do que o Hezbollah. Ademais, essa nova instabilidade demonstra, mais uma vez, que vivemos num mundo mais imprevisível e menos seguro, como sempre temos falado.
Outrossim, fica evidente a importância do Estado em investir no seu Poder Naval para garantir o seu comércio marítimo, bem como em contribuir com a segurança do comércio global, que é feito em sua maioria pelo mar.
Dessa forma, podemos concluir, também, que os países que não dispõem de marinhas bem equipadas acabam por terceirizar a segurança do seu comércio exterior para outros, ficando a mercê da boa vontade deles.
Qual a sua opinião? O Brasil tem condições de proteger o seu comércio exterior, que é de cerca de 95% feito pelo mar?
Seguem alguns vídeos para auxiliar as nossas análises:
Matéria de 19/12/2023:
Matéria de 21/12/2023:
Matéria de 22/12/2023:
Matéria de 22/12/2023:
Matéria de 21/12/2023:
Matéria de 20/12/2023:
Matéria de 30/11/2023:
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