O Blog vem acompanhando as transformações que vêm ocorrendo nos BRICS, que desde a sua fundação, vem se consolidando como um contraponto às instituições ocidentais dominadas pelos EUA e pela União Europeia, o que pode ser visto por meio dos seguintes artigos:
"Os BRICS poderão ter a sua relevância incrementada no cenário internacional?" de 14 de julho de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/os-brics-poderão-ter-a-sua-relevância-incrementada-no-cenário-internacional;
"Os BRICS poderão ter a sua relevância incrementada no cenário internacional? Parte II", de 26 de agosto de 2023, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/os-brics-poderão-ter-a-sua-relevância-incrementada-no-cenário-internacional-parte-ii;
"Os BRICS poderão ter a sua relevância incrementada no cenário internacional? Parte III - Turquia", de 28 de junho de 2024, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/os-brics-poderão-ter-a-sua-relevância-incrementada-no-cenário-internacional-parte-iii-turquia; e
"Os BRICS poderão ter a sua relevância incrementada no cenário internacional? Parte IV: Aliança dos Estados do Sahel", de 17 de agosto de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/os-brics-poderão-ter-a-sua-relevância-incrementada-no-cenário-internacional-parte-iv-aliança-dos-e.
O grupo BRICS, formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, vem assumindo um papel crescente na redefinição das dinâmicas globais. Em 2024, o BRICS se tornou BRICS+ com a entrada no grupo dos países, como membros plenos: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
Logo, a formação do BRICS+ com a inclusão de novos membros reforça a ambição de fazer um contraponto ao mundo ocidental, uma vez que os países convidados representam um peso significativo em termos energéticos, populacionais e financeiros.
Dessa forma, o BRICS+ continuou se expandindo, pois nos últimos dias, em 2024, da presidência russa, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão foram anunciados como 'países parceiros' (nível abaixo dos membros plenos) do agrupamento a partir de 1º de janeiro de 2025, o que acabou acontecendo.
Em janeiro de 2025, o Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco em um momento singular: o ingresso da Indonésia um novo membro pleno do BRICS+ (o grupo atualmente está com 11 membros plenos), o que pode contribuir para a intenção do grupo em se tornar um bloco de potências regionais do Sul Global, e a posse de Donald Trump como presidente dos EUA. As declarações do novo líder estadunidense, que sugerem reações contundentes ao avanço do BRICS+ em relação a um novo sistema monetário, configuram um cenário de desafios e oportunidades para a diplomacia brasileira, para o BRICS+, e para o futuro do sistema internacional.
Portanto, acreditamos que o Brasil enfrentará desafios significativos na presidência do bloco, como a necessidade de gerenciar tensões entre países rivais, como China e Índia, o impacto das sanções impostas à Rússia e as pressões externas, como as declarações de Donald Trump, o que demandará, a nosso ver, habilidades diplomáticas refinadas.
O novo governo de Donald Trump marca o retorno de uma agenda nacionalista com a política America First aos EUA. Em seu discurso de posse, Trump destacou os potenciais impactos do BRICS+ no sistema financeiro internacional, particularmente em relação à desdolarização do comércio global. Segundo Trump, qualquer tentativa de afastar o dólar como moeda de referência será tratada como uma ameaça à segurança nacional estadunidense.
A utilização de moedas locais nas transações comerciais dentro do bloco — como tem sido discutido entre China, Rússia e Índia — pode minar a hegemonia do dólar e reduzir a capacidade dos EUA de projetar poder através de sanções econômicas, o que é muito interessante para os iranianos, russos e chineses.
Entretanto, em nossa análise, para o Brasil, a retórica de Trump demanda certa cautela. Embora a independência do BRICS+ em relação ao sistema financeiro ocidental seja uma prioridade estratégica, o país também deve evitar medidas que possam gerar retaliações comerciais ou diplomáticas. A diplomacia brasileira precisa buscar um equilíbrio que permita avançar com as ambições do bloco sem comprometer relações bilaterais essenciais.
Não podemos esquecer que o atual governo do Brasil se manifestou contrário a ascensão de Trump à presidência dos EUA durante o período eleitoral naquele país, podendo fazer com que a relação política entre os países seja conturbada. Assim sendo, é provável que haja um distanciamento político entre Washington e Brasília. Isso pode levar o Brasil a reforçar ainda mais seus laços com os países do BRICS+, buscando alternativas econômicas e comerciais para mitigar eventuais tensões com os EUA.
Por outro lado, a inclusão de novos membros ao BRICS+ amplia a influência global do grupo, mas também introduz desafios operacionais e políticos. Com uma gama mais ampla de interesses a serem conciliados, a coesão interna do bloco será posta à prova, pois convém lembrar que existem países rivais. Assim, questões como a governança da Nova Agenda de Desenvolvimento, a coordenação em foros multilaterais e a formulação de políticas comerciais exigem maior articulação.
Além disso, a diversificação geográfica do BRICS+ também fortalece sua posição como interlocutor global. Ao incluir economias da África, América Latina e Oriente Médio, o bloco se apresenta como um defensor do Sul Global, oferecendo uma alternativa viável às instituições lideradas pelo Ocidente. Esse movimento reforça a legitimidade do BRICS+ no enfrentamento de questões globais como a segurança alimentar, a transição energética e as crises climáticas.
Nesse sentido, a presença de Donald Trump na Casa Branca e o fortalecimento do BRICS+ pode configurar um cenário de competição acirrada no sistema internacional. Enquanto os EUA buscam preservar sua hegemonia, o BRICS+ emerge como um catalisador de multipolaridade.
Nesse contexto, para o Brasil, a presidência do grupo em 2025 representa uma oportunidade de liderar uma agenda global inclusiva e de tentar promover a sua posição como ator relevante na diplomacia internacional. Todavia, exige uma habilidade diplomática que seja pragmática para que o país possa transformar os desafios em oportunidades, fortalecendo tanto o BRICS+ quanto sua própria influência no mundo, o que achamos uma tarefa muito difícil, haja visto o cenário apresentado.
O Blog é de opinião que a expansão do BRICS+ e a crescente complexidade das dinâmicas globais delineiam um cenário estratégico desafiador e com algumas oportunidades para o Brasil, particularmente durante sua presidência do bloco em 2025.
Agora nos resta acompanhar como o atual governo irá lidar com o cenário apresentado, o que é dificultado pela instabilidade geopolítica do seu entorno estratégico, em especial a problemática venezuelana, cujo país também aspira integrar o BRICS+.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 02/01/2025:
Matéria de 21/01/2025:
Matéria de 19/01/2025:
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