Nos dias 23 e 24 de junho foi realizada a 14a. Reunião de Cúpula dos BRICS, que foi aberta pela China, e cujo tema foi "Promover a parceria BRICS de Alta Qualidade, Inaugurar uma Nova Era para o Desenvolvimento Global”.
Ao final do evento foi divulgada a Declaração de Pequim que contém os assuntos tratados no encontro, e que pode ser acessada e lida por meio do link https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/declaracao-de-pequim-da-xiv-cupula-do-brics.
Nesse sentido, podemos perceber os seguintes objetivos geopolíticos:
- Reformulação do sistema multilateral: isso é um dos objetivos da China e da Rússia, que pretendem contestar a atual Ordem Mundial, em que o Ocidente, representado pelos EUA e os seus aliados europeus, estaria ditando as regras no cenário internacional;
- Aumento dos laços econômicos russos com os países asiáticos, notadamente a China e a Índia, bem como o incremento da importância econômica dos BRICS para a Rússia como uma alternativa econômica, pois Putin havia informado que estaria redirecionando os seus fluxos comerciais para os países membros do grupo, devido as sanções impostas pelo Ocidente;
- Crítica do aumento das alianças militares, que é um tema muito importante para a China;
- Apresentação dos BRICS com uma alternativa às crises globais. Dessa forma, pode-se inferir que esse grupo, pelo seu tamanho, se considera um contraponto ao G7. Logo, têm como intenção de se apresentarem aos demais países em desenvolvimento, principalmente da América Latina, Ásia e África, como uma alternativa ao Ocidente; e
- Ampliação dos países membros do BRICS, com o intuito de aumentar a sua relevância no cenário internacional. Nesse sentido, a Argentina e o Irã despontam como principais candidatos a ingressarem no grupo. Convém mencionar que o Irã possui grande proximidade com a Rússia e com a China, como o Blog tem dito em vários de seus artigos, como "Ameaça as democracias ocidentais: onda que vem do Oriente", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/ameaça-as-democracias-ocidentais-onda-que-vem-do-oriente. Outrossim, não podemos esquecer as recentes visitas, em fevereiro deste ano, do Presidente argentino à Rússia e à China em busca de investimentos e da diminuição da sua dependência monetária junto ao FMI e aos EUA.
A realização da Cúpula dos BRICS um pouco antes da reunião do G7, de 26 a 28 de junho, e da OTAN, de 29 a 30 de junho, pode ser percebida como uma tentativa de reafirmar o objetivo sino-russo em contestar a atual Ordem Mundial, liderada pelo Ocidente, inaugurando, assim, uma Nova Ordem, o que estaria alinhado com o que temos afirmado em nossos artigos " A Aliança Estratégica Sino- Russa e a Nova Ordem Mundial", " China e Rússia: cada vez mais parceiros contra os adversários comuns"e " Análise das mensagens de Ano Novo dos três principais líderes mundiais", disponíveis respectivamente em https://www.atitoxavier.com/post/a-aliança-estratégica-sino-russa-e-a-nova-ordem-mundial, https://www.atitoxavier.com/post/china-e-rússia-cada-vez-mais-parceiros-contra-os-adversários-comuns e https://www.atitoxavier.com/post/análise-das-mensagens-de-ano-novo-dos-três-principais-líderes-mundiais.
É digno de nota que a Argentina, a África do Sul e a Índia foram convidadas para participar da reunião do G7, e que geralmente tanto a Índia, quanto a África do Sul são invitadas pela sua relevância. Esse tipo de convite é uma praxe do G7 aos países que são considerados, por esse grupo, como relevantes no contexto temporal da realização da reunião. O Brasil deixou de ser convidado pelo terceiro ano consecutivo.
Entretanto, ao analisarmos os membros do BRICS vemos que possuem objetivos geopolíticos e visões de mundo distintos, bem como alguns desses países possuem rivalidades entre si, além de disputas geopolíticas, como o caso entre a China e a Índia. Ademais, vemos a posição pragmática indiana que faz parte do QUAD, aliança formada por Austrália, Índia, EUA e Japão contra o expansionismo chinês, bem como adquire grande quantidade de armamento e de petróleo russo, em que pese a sua proximidade com os EUA e as atuais sanções impostas à Rússia.
Outro fator que merece destaque é que os componentes do BRICS têm valores diferentes, como ideologia política etc, o que, em nossa visão, não contribui para o fortalecimento geopolítico do grupo.
Além disso, alguns analistas afirmam que o grupo dos BRICS poderá se tornar numa união de governos com regimes autoritários, ainda mais quando percebe-se no Século XXI uma onda de insatisfação com regimes democráticos, como temos observado no mundo, com um todo, e comentado no Blog em alguns de nossos artigos, havendo o surgimento de movimentos populistas, extremistas e autoritários, por exemplo: Hungria, Nicarágua, Venezuela, Turquia, Bielorúsia, Polônia, dentre outros países. Atualmente os BRICS têm como regimes autoritários a China, a Rússia e a Índia, e a possível entrada do Irã poderá "engrossar o caldo".
O Blog é de opinião de que o grupo dos BRICS tenta buscar um aumento da sua relevância no cenário internacional, num mundo que está em possível transição para uma Nova Ordem Mundial, mostrando-se como uma alternativa de modelo de desenvolvimento econômico viável ao do G7 para os demais países em desenvolvimento.
Portanto, é possível e crível ver a criação de dois blocos econômicos rivais, que vêm apresentando valores diferentes, cuja rivalidade poderá impactar na economia e segurança mundiais.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:
Matéria de 23/06/2022:
Matéria de 22/06/2022:
Matéria de 29/06/2022:
Matéria de 18/11/2021:
Matéria de 23/06/2022:
Matéria de 24/06/2022:
Matéria de 24/06/2022:
Matéria de 23/06/2022:
Matéria de 01/07/2022:
Comments