Desde que os Talibãs se consolidaram como um grupo dominante na política interna do Afeganistão, tendo governado o país entre 1996 e 2001 retornando ao poder em 2021, tem havido uma grande migração de afegãos para fora do país, principalmente para o Paquistão e o Irã, com o intuito de fugir dos maus tratos e perseguições causados por este grupo fundamentalista islâmico.
Nesse contexto, imagens de desespero da população afegã chocaram o cenário internacional durante a catastrófica e vergonhosa retirada das tropas estadunidenses, em 30 de agosto de 2021, onde várias pessoas se agarraram aos aviões que decolavam de Cabul, chegando algumas a caírem quando uma aeronave estava no ar.
Nesse cenário, em 01 de novembro deste ano, o Paquistão tem prendido e expulsado para o Afeganistão os imigrantes afegãos considerados ilegais no país, o que tem originado uma catástrofe humanitária na região. Além disso, os afegãos que estão sendo deportados apresentam um grande temor, justificado, de que irão sofrer sob o jugo Talibã.
Isso tem sido considerado pelas Nações Unidas como uma grave violação dos Direitos Humanos, conforme declaração da porta voz do Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, o que ratifica a afirmação anterior:
"We believe many of those facing deportation will be at grave risk of human rights violations if returned to Afghanistan, including arbitrary arrest and detention, torture, cruel and other inhuman treatment,” (fonte: https://news.un.org/en/story/2023/10/1142887)
Convém mencionar que o Paquistão vem passando por um grave problema econômico, uma crise política interna, e vem sofrendo um aumento de atentados terroristas, que, por coincidência, teve um incremento com a ascensão do Talibã ao poder no Afeganistão em 2021.
O Blog vem acompanhando a situação paquistanesa por meio dos seus artigos que podem ser lidos na Seção Ásia, acessível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1sia, dentre eles sugerimos a releitura dos abaixo:
- "A crise paquistanesa e os seus possíveis impactos geopolíticos na Ásia", de 10 de abril de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-paquistanesa-e-os-seus-possíveis-impactos-geopolíticos-na-ásia;
- "Balochistão: preocupação sino-paquistanesa", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/balochistão-preocupação-sino-paquistanesa;
- "Seção Inteligência: o serviço de inteligência paquistanês e sua ligação com o Talibã", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/seção-inteligência-o-serviço-de-inteligência-paquistanês-e-sua-ligação-com-o-talibã ; e
- "Problemática da Caxemira: tensão diária", que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/problemática-da-caxemira-tensão-diária.
Assim, o governo paquistanês tem acusado o grupo terrorista Tehrik-e Taliban Pakistan - TTP, conhecido como o Talibã paquistanês, de ser o principal causador dos atentados em seu território.
Acordo informações de analistas paquistaneses, esse grupo extremista estaria dando indícios de estar retomando o controle de distritos tribais paquistaneses, sobretudo nas proximidades com o Afeganistão, o que causa um problema de segurança interna no Paquistão. Além do TTP, outros grupos terroristas estariam operando em solo paquistanês, a partir do território afegão, como o Estado Islâmico Khorosan - EIK e a Al Qaeda.
Aparentemente, o atual governo afegão, não tem apresentado uma disposição para tentar controlar a atuação dos grupos terroristas que operam a partir do seu território no Paquistão, o que tem deteriorado as relações entre esses países.
Portanto, em nossa visão, a deportação dos afegãos para o país de origem tem como causa a afirmação acima, sendo uma resposta à inação dos Talibãs contra tais grupos terroristas. Isso teria a intenção de forçar os Talibãs a tentarem controlar tais grupos.
De acordo com a publicação do think tank paquistanês Pak Institute for Peace Studies - PIPS chamado "Pakistan witnesses sharp increase in terrorist attacks since Taliban takeover", que pode ser lido em https://www.pakpips.com/article/7133, os grupos terroristas citados anteriormente neste artigo, que operam a partir do Afeganistão, acreditam que vitória do Talibã, em 2021, seria a motivação para que eles disseminem as suas ideologias na Ásia Central e do Sul, bem como globalmente.
A afirmação acima ratifica a nossa análise constante no artigo "Emirado Islâmico do Afeganistão: fator de instabilidade regional?", de 04 de setembro de 2021, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/emirado-islâmico-do-afeganistão-fator-de-instabilidade-regional, onde dissemos que no cenário de retorno do Talibã ao poder existia a possibilidade do aumento do protagonismo de grupos terroristas fundamentalistas islâmicos, o que trazia preocupação a vários países da região.
Além do governo de Islamabad, o Irã, depois da ação paquistanesa, tem demonstrado a intenção de realizar a mesma política do Paquistão - deportação dos imigrantes ilegais afegãos para o Afeganistão -, pois tem alegado que não possui mais condições de abrigá-los em seu território, em virtude de estar com os seus serviços públicos sobrecarregados, bem como por não receber ajuda financeira do exterior para isso. Ademais, o governo de Teerã tem tido atritos com o Talibã, devido a disputa por controle de água, como abordamos no artigo "A recente crise entre o Afeganistão e o Irã: disputa por água", de 02 de junho de 2023, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-recente-crise-entre-o-afeganistão-e-o-irã-disputa-por-água.
Logo, em nossa análise, a possível ação iraniana tem como objetivos causar uma crise no Afeganistão, que tem tido desavenças, e de pressionar a comunidade internacional para liberar recursos financeiros, com viés humanitário, para cuidar dos imigrantes afegãos que fogem dos Talibãs.
Dessa forma, vemos, mais uma vez, o uso de imigrantes como arma política para atingir objetivos geopolíticos, e que abordamos em 2021 no artigo "O uso da migração de refugiados como arma política: Guerra Híbrida?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/o-uso-da-migração-de-refugiados-como-arma-política-guerra-híbrida.
Assim, verificamos, infelizmente, uma política de grande desumanidade com a população civil que procura condições melhores de vida, quando fogem de guerras e de regimes totalitários e abusivos.
Dessa forma, observa-se a fragilidade e a pouca relevância da ONU para cuidar dos refugiados pelo mundo. Assim, em nossa opinião, em que pese o que afirmamos anteriormente, seria muito pior se não houvesse as iniciativas dessa Organização.
O Blog é de opinião que, tristemente, alguns Estados continuam se utilizando de refugiados como arma política para atingir os seus objetivos geopolíticos, o que ratifica as análises que fizemos em 2021, no artigo "O uso da migração de refugiados como arma política: Guerra Híbrida?".
Logo, torna-se importante que a comunidade internacional trate o tema com a importância que o assunto requer, pois afinal tratam-se de seres humanos, e que o sofrimento das pessoas não pode ser explorado para se atingir objetivos políticos, o que acreditamos que é reprovável e deplorável.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar na nossa análise:
Matéria de 02/11/2023:
Matéria de 01/11/2023:
Matéria de 31/10/2023:
Matéria de 13/10/2023:
Matéria de 17/06/ 2022:
Matéria de 01/11/2023:
Matéria de 31/10/2023:
Matéria de 22/09/2021:
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