O Irã vem tentando mostrar ao mundo que a sua marinha possui a capacidade de operar em Teatros de Operações Marítimos distantes da sua sede, em que pese a região do Golfo Pérsico ser considerada como prioritária para esse país. Assim, no nosso artigo "Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil", de 31 de janeiro de 2023, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/diplomacia-naval-do-irã-possível-impacto-para-o-brasil, afirmamos que a intenção iraniana é mostrar-se para o mundo como uma "Marinha de Águas Azuis. Ademais, também, em nossa análise, trata-se de uma provocação aos EUA.
Dessa forma, desde 2021, a marinha iraniana vem exercendo a sua Diplomacia Naval junto aos países considerados amigos, como a Rússia (2021) e o Brasil (2023). Recomendamos a leitura do nosso artigo "A Força Naval como um instrumento da diplomacia: Diplomacia das Canhoneiras e Diplomacia Naval", constante no link https://www.atitoxavier.com/post/a-força-naval-como-um-instrumento-da-diplomacia-diplomacia-das-canhoneiras-e-diplomacia-naval.
Nesse sentido, foi veiculado em maio deste ano, por várias mídias de imprensa internacionais, que a República Islâmica do Irã pretende enviar um Grupo Tarefa da sua marinha à Antártica em futuro próximo, conforme podemos ver abaixo:
"The deployment of Iranian warships to the Antarctic was apparently one of the main goals of a recent mission carried out by the 86th flotilla, which has returned home after circumnavigation of the world. The 86th flotilla, which has officially broken the record for the distance an Iranian flotilla has sailed in international waters, had sailed through the Strait of Magellan during its mission" (fonte: https://www.tasnimnews.com/en/news/2023/05/20/2898359/iran-to-dispatch-naval-flotilla-to-antarctic, em 20/05/2023)
"Iran says that its presence “in the Antarctic is important from various scientific, legal and political, geostrategic, economic, capacity building and access to new technologies aspects, and in the future, this region will be a major issue on the international scene.” It sees this as strategic. The establishment of a permanent base of the Islamic Republic of Iran in the South Pole [region] in order to increase the strategic depth of our country has been considered over the past years, and plans have been announced to realize this, but it is not clear at what stage these plans are now,” the report says. Iran says that it could achieve direct access to the polar region and therefore claim “sovereignty” in that area" (fonte: https://www.jpost.com/middle-east/iran-news/article-743655 , em 20/05/2023).
Convém mencionar que a intenção iraniana de ter uma presença na Antártica não é recente, pois vem planejando isso há mais de dez anos, pelo menos desde 2012, em que podemos ver por um trecho de uma matéria:
"Deployment in antarctic waters is on Islamic Republic of Iran’s agenda, and in the first phase this presence may take place within the framework of cooperation with the countries which have been there, and in the next stage in an independent manner,” Rear Admiral Khadem Biqam said in an exclusive interview with FNA today." (fonte: https://theiranproject.com/blog/2013/08/20/exclusive-iran-initiates-plan-to-set-up-base-in-south-pole/, de 20/08/2013).
Entretanto, o planejamento acabou não se materializando, voltando a ganhar destaque somente após o sucesso da última circunavegação de 2023, como vimos anteriormente.
É importante pontuar que a Antártica vem despertando cada vez mais interesse por vários países, em virtude dos recursos minerais (minério de ferro, cromo, cobre, níquel, platina e entre outros minerais), das reservas de petróleo, da regulação do clima, das pesquisas científicas, do potencial pesqueiro, por ser uma das maiores reservas de água doce, e pela proximidade de rotas marítimas importantes (Passagem de Drake e Estreito de Magalhães), bem como devido a sua importância militar - controle das comunicações marítimas, principalmente as existentes em divisões de oceanos e como base para operações estratégicas de aeronaves e de base logística. Sugerimos a leitura do nosso artigo "A importância geopolítica da Antártica (ou Antártida)", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-importância-geopolítica-da-antártica-ou-antártida.
Logo, o Irã, por meio da sua marinha, comprovou a sua capacidade de passar pelo Estreito de Magalhães (2023), sendo o primeiro passo, em nossa visão, para realizar o seu futuro intento de implementar uma base de pesquisas na Antártica, o que poderá possibilitar ao governo de Teerã participar do Tratado da Antártica, que vencerá em 2048, como Estado Membro Consultivo. A lista dos países que fazem parte do Tratado pode lida em https://www.ats.aq/devAS/Parties?lang=e.
Portanto, cremos que o Irã deverá buscar a cooperação antártica da China e da Rússia, e quiçá do Brasil, com o intuito de dar prosseguimento a sua intenção de se tornar um país polar.
O Blog é de opinião que a presença da marinha iraniana na Antártica contribuirá para a militarização da região, devido a desconfiança ocidental sobre as intenções daquele país, o que poderá gerar uma instabilidade no nosso Entorno Estratégico.
Tal possibilidade reforça a nossa análise constante no artigo "A importância geopolítica da Antártica (ou Antártida)", em que afirmamos que haverá uma militarização na região por volta de 2040, nas proximidades do término do Tratado da Antártida, em virtude dos interesses geopolíticos e econômicos e da competição entre as grandes potências atuais.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 25/11/2013:
Matéria de 07/02/2023:
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