O Líbano que é um palco de disputas geopolíticas por parte de vários países, como Irã, Síria, França, Israel, EUA, China e Arábia Saudita, vem passando por momentos de alta instabilidade, como podemos ver pelos nossos artigos, que podem ser lidos em nossa Seção Oriente Médio, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/ori-m%C3%A9dio:
- "Líbano: a triste constatação de um Estado Falido", de 22 de janeiro de 2022;
- "A recente crise no Líbano: possibilidade de nova guerra civil?", de 30 de outubro de 2021;
- "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região. Parte III, de 13 de setembro de 2020;
- "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região. Parte II", de 05 de agosto de 2020;
- "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região.", de 28 de julho de 2020; e
- "Hezbollah e sua importância geopolítica no Oriente Médio", de 16 de julho de 2020.
É digno de nota que o nosso país possui uma estreita ligação com o Líbano, pois tem cerca de 10 milhões de libaneses e de descendentes, e que liderou a Força-Tarefa Marítima da UNIFIL por cerca de 10 anos, ajudando a promover a estabilidade econômica e a paz naquele país, por meio da Marinha do Brasil. Ademais, tem-se observado a venda de Captagon, que é uma droga sintética a base de anfetamina, na região da Tríplice Fronteira, cujo Brasil faz parte, e que estaria sendo uma fonte de recursos para o Hezbollah. Assim, esse artigo visa continuar o acompanhamento da situação libanesa.
Recentemente, em 15 de maio, ocorreram as eleições legislativas, e que ganharam grande relevância por serem as primeiras no país após os protestos anti-governo de 2019, que demonstraram o alto descontentamento com a situação política libanesa, que é marcada pela corrupção e pelo sectarismo, bem como com o grave quadro econômico, que foi potencializado pela pandemia da COVID-19 e pela explosão no porto de Beirute.
Convém mencionar que o cenário interno de descontentamento popular, mencionado acima, fez com que houvesse um grande desgaste da imagem e da influência dos grupos políticos tradicionais, principalmente do Hezbollah e dos seus aliados representados pela coligação Aliança 8 de Março, que vinham dominando o quadro político do país. Sugerimos a releitura do artigo "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região" que explica o sistema político libanês.
Para um melhor entendimento e aprofundamento de que maneira o Hezbollah se tornou um protagonista da política libanesa, como também da diminuição da sua influência interna, com o consequente aumento do desgaste de sua imagem, recomendamos a leitura do livro HEZBOLLAHLAND - Mapping Dahiya and Lebanon’s Shia Community, de autoria de Hanin Ghaddar e publicado, em 2022, por The Washington Institute, estando disponível para leitura no Blog por meio do link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_5680246604954d7581484c730fbb3553.pdf.
Abordamos no nosso artigo "Guerra fria muçulmana: Arábia Saudita x Irã", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/guerra-fria-muçulmana-arábia-saudita-x-irã, que o Oriente Médio tem sido um palco de disputa geopolítica entre os sauditas e os iranianos pelo mundo muçulmano. Portanto, tal disputa se reflete na política interna libanesa, pois torna o processo de formação do governo e a governança do Líbano muito delicados, devido ao desafio de se manter um equilíbrio de poder, e com uma coalizão culpando a outra pelos problemas internos.
Nesse sentido, alguns analistas afirmaram que as atuais eleições seriam importantes para se tentar encontrar a real identidade libanesa.
É digno de nota que o poder político do Líbano foi dividido por três grupos majoritários: sunitas (Primeiro-Ministro), xiita (Presidente do Parlamento) e cristão maronita (Presidente da República). Porém, a sociedade é dividida em 18 grupos, como os drusos, cristãos ortodoxos, alauitas, dentre outros.
A figura a seguir exemplifica a nossa afirmação:
Dessa forma, o resultado das eleições deste ano, em nossa análise, nos mostra:
- a confirmação da disputa geopolítica entre sauditas/ocidente e iranianos/sírios;
- a eleição de novas lideranças políticas, candidatos independentes, que surgiram dos protestos populares, o que oxigena um pouco o sistema político libanês;
- o enfraquecimento da influência do Hezbollah, e consequentemente do Irã, na política libanesa, pois a sua coalizão perdeu a maioria no parlamento, o que implica na necessidade de realizar uma maior negociação política com todos os partidos, a fim de poder impor a sua agenda política;
- o fortalecimento do grupo pró-saudita representado pelo Lebanese Forces, se tornou o maior partido cristão, que terá uma importante influência na escolha do novo Presidente libanês, o que poderá encerrar o período presidencial cristão aliado ao Hezbollah;
- que o Hezbollah não representa, atualmente, as aspirações de toda a comunidade xiita no país.
Na figura abaixo podemos ver uma comparação entre os resultados das eleições de 2018 e de 2022:
Entretanto, na visão do líder do Hezbollah, Seyyed Hassan Nasrallah, o resultado da eleição demonstrou o apoio popular ao partido, em virtude da interferência estadunidense e saudita nas eleições, conforme podemos ver em suas palavras:
"We are proud of this great victory, especially when we see under what circumstances this victory was achieved [...] What is needed is peace in Lebanon and addressing the issues of concern to the people in participation and cooperation, free from competition [...] Have you ever seen an ambassador or an employee of the Iranian embassy interfere in the elections? While we witnessed the intervention of the US embassy during the elections and the Saudi ambassador was very active in the election process, too." (fonte: https://iranpress.com/content/58894/nasrallah-lebanese-elections-proves-increase-resistance-popularit)
O Blog é de opinião que o resultado eleitoral libanês demonstrou o descontentamento popular com o Hezbollah e os seus aliados, bem como com a sua aliança com o Irã. Além disso, as ajudas humanitária e financeira dos EUA, após a explosão no porto de Beirute, conseguiram ajudar o partido cristão pró-saudita em conseguir mais assentos no parlamento, o que impõe a necessidade de uma maior negociação política para a escolha do novo Presidente. Logo, isso demonstra e ratifica as nossas análises anteriores sobre o Líbano ser um palco de disputas geopolíticas.
Nesse sentido, os independentes, por não possuírem um alinhamento, serão decisivos para a escolha do próximo Presidente do Líbano, devido as futuras negociações no Parlamento.
Portanto, acreditamos que, em que pese ter ocorrido uma certa renovação política, o país continuará sendo um palco de disputas geopolíticas. Porém, vemos que existe um movimento ganhando força que busca uma independência política dessas disputas, e que se preocupa em combater as principais mazelas libanesas, o que poderá ser a semente para a formação, no futuro, da real identidade libanesa num país que encontra-se extremamente dividido.
Resta-nos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, pois acreditamos que o Hezbollah e a sua coalizão não aceitarão facilmente a escolha de um novo Presidente cristão, prevista para acontecer em outubro, que seja antagônico aos seus objetivos políticos, o que, em nossa visão, poderá aumentar a divisão e a instabilidade no Líbano.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:
Matéria de 17/05/2022:
Matéria de 17/05/2022:
Matéria de 17/05/2022:
Matéria de 12/05/2022:
Matéria de 16/05/2022:
Matéria de 17/05/2022:
Matéria de 18/05/2022:
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