O conflito na Ucrânia tem impactado o mundo, notadamente em relação ao preço do petróleo, que chegou a ficar acima dos U$ 100,00 o barril, bem como afeta fortemente as economias europeias devido a dependência do fornecimento do gás russo.
No artigo de Luis Augusto Medeiros Rutledge*, "Uma Guerra sem vencedores", que pode ser lido no Blog no link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_546772fcebff4539a499f29eba263802.pdf, ele faz uma análise do impacto da geopolítica energética no conflito entre russos e ucranianos sobre os europeus, corroborando a afirmação destacada anteriormente. Sugerimos também a releitura do nosso artigo "Geopolítica Energética e a Emergência Climática: crises, tensões, conflitos e perspectivas", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-energética-e-a-emergência-climática-crises-tensões-conflitos-e-perspectivas.
Além disso, tanto a Ucrânia quanto a Rússia são os principais produtores e exportadores globais de trigo.
Nesse sentido, o continente africano também sofre as consequências desse conflito, pois existe um aumento dos preços em vários produtos comercializados nos países da região. Ademais, os países do norte da África como o Egito, são grandes consumidores do trigo ucraniano. Outro impacto é na questão educacional, pois vários estudantes africanos vão para a Ucrânia cursar em universidades.
Outrossim, em que pese os impactos negativos do conflito, em nossa visão, ele se apresenta como uma oportunidade para os países africanos produtores de petróleo e gás, principalmente os da região do Golfo da Guiné, com destaque para Angola e Nigéria, e do norte, como a Líbia, pois seriam uma alternativa aos russos, mitigando a dependência europeia, além da localização permitir um menor custo na exportação, em relação a outros potenciais fornecedores.
A análise acima encontra respaldo no que havíamos afirmado no artigo do Blog, de 03 de junho de 2020, intitulado "Pirataria no Golfo da Guiné: aumento da militarização no entorno estratégico brasileiro. II parte", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/pirataria-no-golfo-da-guiné-aumento-da-militarização-no-entorno-estratégico-brasileiro-ii-parte. Nele dissemos:
No cenário de competição entre as grandes potências atuais, instabilidades no Oriente Médio e no Indo-Pacífico, a diversificação de fontes de energia fóssil ganha mais relevância no palco internacional, e nesse contexto é importante para os grandes países consumidores o Golfo da Guiné tem papel de destaque devido a proximidade dos mercados e pelas reservas de petróleo e gás, não sendo interessante insegurança nessa região.
No mapa abaixo podemos ver alguns projetos de distribuição de gás na África. Existem algumas previsões de que a produção do gás africano irá dobrar até 2035.
Abaixo podemos ver o aumento da exploração do gás tanto na África, quanto no mundo, ratificando o que já havíamos dito sobre a importância dessa fonte energética como a de transição do combustível fóssil para as fontes alternativas. Assim, infere-se a relevância do continente africano para o mundo.
Entretanto não podemos esquecer a importância da Rússia para os africanos, pois esse país é o principal exportador de armas para a África, principalmente quando alguns governos locais sofrem embargos ocidentais no mercado armamentista.
Além disso, Putin vem aumentando a sua influência na África por meio de parcerias em várias áreas, inclusive com o uso da Diplomacia da Vacina e de proxies, como o grupo mercenário Wagner Group, tais assuntos podem ser aprofundados nos artigos constantes em nossa Seção África que pode ser acessada pelo link https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1frica.
Dessa forma, caso o Ocidente decida tornar a África a alternativa à Rússia, é esperado que Putin exerça pressão sobre os governos africanos que lhe são próximos, visando evitar com que isso aconteça.
Convém mencionar que para a África se tornar uma alternativa possível é fundamental que haja investimentos na distribuição e na infraestrutura de produção de petróleo e gás, como a construção de gasodutos, com o intuito de tornar a África a principal e mais confiável fonte de energia para a Europa.
Nesse cenário, outro ator que não pode ser esquecido, e que é o parceiro estratégico russo, é a China, pois ela é a que mais investe em infraestrutura no continente africano, e com isso pode ser decisiva nessa questão.
O Blog é de opinião de que apesar dos impactos negativos do conflito da Ucrânia, ele é uma oportunidade de desenvolvimento econômico para os países africanos produtores de petróleo e gás, e que isso poderá aumentar a importância geopolítica da África, potencializando as disputas dos Centros de Poder nessa região, como analisamos nos nossos artigos "África, palco de disputas geopolíticas. Partes I e II", disponíveis na Seção África do Blog. Nesse sentido, como o Blog afirmou nesses artigos, a África poderá ser no final deste século um continente bem diferente do que conhecemos, tornando-se um local estratégico para o futuro.
Nesse cenário, o Brasil precisa realinhar a sua política externa e formular uma "grande estratégia", a fim de não perder ainda mais o seu protagonismo no continente africano.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 03/2022:
Matéria de 07/01/2022:
* Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e pesquisador da UFRJ, atuando há 15 anos em projetos desenvolvidos pela PETROBRAS e UFRJ na área de estudos de fluidos de reservatórios offshore. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Escola Politécnica da UFRJ, onde se especializou em geopolítica energética. Atualmente escreve análises de geopolítica do petróleo, gás e energia, e é colaborador do Blog.
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