Em agosto deste ano, em Abu Dhabi, Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU) concluíram um acordo que estabelece o relacionamento entre eles, se tornando em mais um passo importante para o governo judeu em sua aceitação no Oriente Médio. Sendo assim, os EAU se tornam o primeiro Estado do Golfo Pérsico e o terceiro país árabe a ter laços diplomáticos formais com o governo de Tel Aviv, sendo os demais o Egito e a Jordânia.
O acordo prevê que Israel interrompa seus planos de anexação dos territórios ocupados na região de West Bank na Palestina. Convém mencionar que as conversações entre esses países encontravam-se em andamento desde 2006, com isso pode-se concluir que não foi uma vitória do governo de Donald Trump, como se alega, mas uma oportunidade de promover o atual governo de Washington às vésperas da eleição presidencial.
A aproximação entre esses Estados estabelece uma possibilidade para que outros países muçulmanos, especificamente Bahrein e Omã, se aproximem de Israel, com um consequente relacionamento diplomático. Caso se concretize, poderá criar uma mudança relevante na geopolítica do Oriente Médio.
A visão de vários analistas de relações internacionais é que o referido acordo só foi possível em virtude do incremento da influência iraniana na região, em sua política de concretizar o Arco Xiita, já mencionado no Blog na postagem: O Arco Xiita, desejo geopolítico do Irã, e os impactos no Oriente Médio, disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/o-arco-xiita-desejo-geopolítico-do-irã-e-os-impactos-no-oriente-médio , e que se constitui em uma ameaça à segurança dos países sunitas do Oriente Médio, onde é possível vermos que o Irã aumentou a sua esfera de influência na Síria, Iraque, Iêmen, e possui um forte proxy no Líbano. Ademais, existe uma disputa geopolítica entre as correntes sunita e xiita na região, representadas pela Arábia Saudita e o Irã, respectivamente, e também já abordada no Blog na postagem: Guerra fria muçulmana: Arábia Saudita x Irã, disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/guerra-fria-muçulmana-arábia-saudita-x-irã . Dessa forma, o acordo aproxima Estados (Israel e países do Golfo Pérsico) que têm como inimigo comum o Irã e os seus proxies, e que são considerados como ameaças. Além disso, um outro ator tem preocupado a esses Estados no tocante a estabilidade da região, que é a Turquia, sugerimos a releitura da postagem do Blog: Ascensão turca: chega de ceder!
Nesse viés, vemos que os EAU visam, com o acordo, atingir aos seus objetivos estratégicos, e não em promover um gesto de boa vontade com os palestinos, pois Israel é uma das maiores potências militares e tecnológicas do Oriente Médio, o que poderá beneficiar os Emirados Árabes por meio de uma cooperação militar contra as possíveis ameaças, além de estabelecer parcerias econômicas e tecnológicas, o que já está se materializando por meio da parceria entre a companhia UAE Apex National Investment dos EAU e a Israel's TeraGroup que visa conduzir pesquisas sobre a COVID-19, bem como o desenvolvimento de uma vacina.
A aproximação dos Emirados Árabes com Israel também poderá proporcionar maiores oportunidades de cooperação junto aos EUA. E informações revelam que para que os EAU aceitassem o acordo, os EUA permitiriam que eles comprassem as aeronaves F-35.
Por outro lado, o acordo é considerado pelos palestinos como uma traição por parte dos EAU à sua causa de criação de um Estado próprio, conforme a visão e os objetivos de suas lideranças, enfraquecendo o lado palestino nas negociações. Outro fator importante a se observar é que colocará boa parte da Palestina, notadamente a Faixa de Gaza, e os seus grupos armados mais próximos da influência iraniana, o que poderá aumentar a resistência à Israel.
É de se esperar que, além dos palestinos, haja grande rejeição do acordo por parte do Irã e da Turquia.
O Blog é de opinião que o acordo:
- é estratégico para Israel, pois vem perseguindo a vários anos diminuir contra si as animosidades na região, visando mitigar as ameaças à sua segurança, o que poderá fortalecer o governo de Benjamin Netanyahu;
- possibilita que outros países muçulmanos se aproximem do governo de Tel Aviv, indo ao encontro dos objetivos geopolíticos israelenses. Isso poderá mudar a geopolítica do Oriente Médio, aumentando a pressão contra o regime de Teerã;
- possibilita aos EAU atingirem os seus objetivos geopolíticos, principalmente no tocante a uma cooperação militar com a maior potência bélica da região, com o intuito de fazer frente uma possível agressão iraniana;
- é importante para os EUA em sua estratégia de tentar conter a ameaça iraniana no Golfo Pérsico, e poderá auxiliar na campanha de reeleição de Trump;
- possibilitará o aumento da influência iraniana junto a Palestina;
- demonstra que a causa palestina não é prioridade para os Estados Árabes, sendo usada como instrumento geopolítico para o atingimento de objetivos estratégicos por alguns Estados;
- poderá possibilitar que a Turquia tente aumentar o seu protagonismo no Oriente Médio como um antagonista a Israel em prol da causa palestina.
O futuro nos dirá os frutos desse acordo.
O que você acha desse assunto?
Seguem alguns vídeos para formarmos as nossas análises:
Os quatro vídeos a seguir estão em português:
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PODCAST do Instituto Brasil-Israel em português:
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