A Líbia foi sempre palco de disputas por governos estrangeiros, principalmente pela Itália e Turquia (Império Otomano). Durante a Segunda Guerra Mundial foi palco de importantes batalhas entre alemães (Afrikacorps) e britânicos, ficando independente em 1951, e sendo admitida na Liga Árabe em 1953. Em 1969, Muamar Gadafi assume o poder, mudando a relação do país com o mundo e iniciando vários conflitos com o mundo ocidental. Com o evento da "Primavera Árabe", Gadafi é deposto e o país mergulha numa guerra civil, onde governos estrangeiros apoiam as partes em conflito, visando terem seus objetivos econômicos e geopolíticos atendidos. O país possui grandes reservas de petróleo e gás.
A situação atual do país é caótica, onde as principais partes envolvidas são Libyan National Army (LNA) liderada por Khalifa Haftar e Government of National Accord (GNA), que é o governo reconhecido pelas Nações Unidas, liderada por Fayez al-Sarraj. Além disso, existem vários grupos terroristas operando na região, como a Al Qaeda e parcela do ISIS. O conflito interno tem sido responsável pela grande migração de líbios para a Europa, causando problemas humanitários sérios.
A Líbia é considerada estratégica para a Turquia, principalmente no contexto da geopolítica do Mediterrâneo Oriental que deseja aumentar a sua presença na região, e recentemente vem tentando aumentar o seu protagonismo no cenário internacional. Nesse diapasão, assinou um acordo com a Líbia para a definição de águas jurisdições, e também demonstrou que está determinada em proteger o governo de Trípoli (GNA), contra a coligação do partido de Haftar, aplicando um acordo de cooperação militar. Além disso, a influência sobre o governo líbio poderá render a Turquia bônus geopolíticos importantes no controle da migração para a Europa, ferramenta que utilizou para obter benefícios junto a União Europeia, no caso dos refugiados sírios.
As Nações Unidas e a União Europeia decidiram intervir de forma mais incisiva no conflito interno líbio. Nesse sentido, em março deste ano foi ativada a Operation EU Active Surveillance (Operation Irini), cujo objetivo é implementar o embargo de armamento, aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU, para suprir as partes envolvidas na guerra civil.
Apesar do apoio da ONU e da maioria da comunidade internacional ao líder do GNA, Sarraj, analistas dão conta que os EUA e alguns países europeus estariam fazendo "jogo duplo"por entenderem que Haftar seria mais enérgico e eficaz no combate aos grupos terroristas islâmicos inseridos em território líbio, já que a situação nesse país é favorável ao aparecimento de grupos insurgentes.
Por outro lado, a Rússia apoia a facção rival LNA, por meio do emprego de mercenários do Wagner Group (sugiro a releitura da postagem Seção Inteligência: Os mercenários russos. Acessível em: https://www.atitoxavier.com/post/seção-inteligência-os-mercenários-russos ). O governo russo tem interesse, também, em ampliar a sua projeção no Mediterrâneo, bem como possui interesses econômicos na Líbia.
E claro, também existe uma disputa geopolítica pela liderança muçulmana no Norte da África, ao vermos Turquia e Catar apoiando GNA, e a Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes apoiando a LNA.
Após vários revezes, recentemente, o GNA vem ganhando terreno no conflito líbio.
Como podemos ver a Líbia está sendo um palco importante de diferentes disputas geopolíticas. Veremos como tudo terminará.
Seguem alguns vídeos para aprofundar a análise do tema:
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