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Jogos de Guerra Educacionais ou Didáticos: Estrutura, Condução e Avaliação para o Aprendizado.


Figura gerada por IA
Figura gerada por IA

Introdução

Os Jogos de Guerra didáticos são ferramentas essenciais no ensino e treinamento tanto militar quanto civil, permitindo a simulação de cenários complexos para consolidar os conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula, contribuindo para aprimorar o processo de tomada de decisão e a estratégia dos participantes.

Logo, o foco está nos Jogadores, diferenciando-se dos Jogos de Guerra analíticos cuja essência está na análise de um problema complexo.

Assim, este artigo abordará a elaboração e condução desses jogos, destacando os principais desafios que podem comprometer sua eficácia.


1. Definição e Objetivos dos Jogos de Guerra Didáticos

Os Jogos de Guerra são simulações estruturadas que reproduzem situações fictícias, reais ou hipotéticas de competição, permitindo que os participantes explorem diferentes decisões, que são representadas por políticas, estratégias e planos em um ambiente controlado. No contexto didático, esses jogos visam:

Aprimorar o processo de tomada de decisão: Desenvolver a capacidade de avaliar cenários complexos, por meio de uma análise metodológica aliada a experiência pessoal, e tomar decisões menos intuitivas, aprimorando o complexo cognitivo dos participantes;

Consolidar os conhecimentos teóricos: Proporcionar uma compreensão prática das operações da organização, que no caso militar está relacionado com as suas estratégias e táticas possibilitando o entendimento das operações militares, e no civil está alinhado com a assimilação dos processos organizacionais; e

Fomentar o trabalho em equipe: Incentivar a colaboração e a comunicação eficaz entre os participantes, contribuindo para a sinergia da equipe e fomentando o exercício da liderança.


2. Componentes Essenciais de um Jogo de Guerra Didático

Para elaborar um Jogo de Guerra didático eficaz, é fundamental considerar os seguintes componentes:

Cenário: Definição do ambiente e contexto no qual o jogo ocorrerá, incluindo fatores geopolíticos, econômicos e sociais, que devem, na medida do possível, terem proximidade com o que acontece no mundo real. Isso é recomendável para aumentar a “imersão” dos participantes no cenário, bem como contribui para a credibilidade do jogo;

Objetivos: Clareza nos objetivos educacionais a serem alcançados pelos participantes, alinhados ao objetivo geral e ao estado final desejado do jogo.

Regras: Estabelecimento de diretrizes claras e simples que governam as ações dos participantes e as consequências dessas ações.

Papéis: Designação de funções específicas para os participantes, representando diferentes entidades ou posições dentro do cenário simulado.

Sistema de Avaliação: Mecanismos para medir o desempenho dos participantes e fornecer feedback construtivo.


3. Sistema de Avaliação

O sistema de avaliação é um elemento essencial dos Jogos de Guerra didáticos, pois permite mensurar objetivamente o progresso dos participantes, como a assimilação dos conhecimentos teóricos e o processo de tomada de decisão, e a eficácia da simulação. Para isso, deve-se adotar uma abordagem estruturada baseada em critérios claros e objetivos.


3.1 Critérios de Avaliação

Os principais critérios de avaliação podem incluir:

Coerência: Avalia se as decisões tomadas estão alinhadas aos objetivos do jogo e refletem uma lógica consistente.

Tomada de Decisão Sob Pressão: Mede a capacidade dos jogadores de agir eficazmente em condições de incerteza e pressão, como premência de tempo etc.

Adaptação a Mudanças: Verifica a habilidade dos participantes em ajustar suas estratégias diante de novos desafios e eventos inesperados.

Coordenação e Trabalho em Equipe: Analisa como os participantes interagem, se comunicam e colaboram durante o jogo.

Uso de Recursos: Examina a capacidade de alocar recursos de forma eficiente e sustentável dentro do contexto do jogo.


3.2 Métodos de Avaliação

Diferentes métodos podem ser empregados para mensurar o desempenho dos jogadores:

Autoavaliação: Os próprios participantes refletem sobre suas decisões e identificam pontos de melhoria.

Avaliação pelos Instrutores: O grupo de controle avalia o desempenho de cada equipe com base nos critérios definidos.

Medição Quantitativa: Utiliza indicadores numéricos, como tempo de reação e eficiência na alocação de recursos.

Feedback Qualitativo: Inclui observações detalhadas sobre a postura dos jogadores, tomada de decisão e interação.


3.3 Implementação do Feedback

O feedback é um aspecto crítico para garantir que o aprendizado ocorra de forma eficaz, pois se bem implementado potencializa o desenvolvimento dos participantes e aprimora as futuras edições do jogo.

Recomenda-se:

Reunião de Crítica: Uma sessão de discussão após o jogo, onde são analisadas as principais decisões tomadas e seus impactos, de forma organizada e estruturada.

Relatórios de Avaliação: Documento com as principais lições aprendidas e sugestões de melhoria.

Sessões de Mentoria: Instrutores auxiliam os participantes a aprimorarem suas habilidades para futuras simulações.


4. Condução de um Jogo de Guerra Didático

A execução eficaz de um Jogo de Guerra didático requer atenção às seguintes fases, além de toda a preparação nas fases anteriores (especificação, montagem e validação):

Briefing Inicial: Apresentação dos objetivos, cenário, regras e papéis aos participantes.

Execução: Condução do jogo, monitorando as decisões e ações dos participantes por ocasião dos desafios apresentados e garantindo o cumprimento das regras.

Debriefing da Condução do Jogo: Reunião com os membros do Grupo de Controle em que é apresentada e debatida a forma como o jogo foi conduzido, analisando se os objetivos educacionais foram atingidos e demais informações relevantes.

Reunião de Crítica: Análise pós-jogo, onde são apresentados aos jogadores, com a presença dos Instrutores, os resultados, as análises das decisões tomadas e as lições aprendidas.


5. O Papel do Grupo de Controle - GRUCON

O grupo de controle, composto por professores e instrutores, desempenha um papel fundamental na execução do Jogo de Guerra didático. Suas principais responsabilidades incluem:

Facilitação do Jogo: Garantir que o jogo transcorra conforme planejado, de acordo com o Plano de Análise de Dados e de Gerenciamento do Jogo – PADGJ previsto no livro “Desvendando os Jogos de Guerra”, resolvendo eventuais dúvidas e problemas.

Monitoramento das Decisões: Observar as ações e decisões tomadas pelos alunos, garantindo que sigam as regras estabelecidas.

Intervenção Quando Necessário: A intervenção do grupo de controle deve ser precisa e planejada para garantir que o jogo continue sendo uma experiência de aprendizado eficaz. Caso os participantes desviem-se do objetivo educacional ou cometam erros críticos, os instrutores podem:

Emitir alertas: Fornecer dicas sutis para ajudar os jogadores a reconsiderarem suas ações sem comprometer a autonomia da tomada de decisão.

Realizar pausas coordenadas com a Direção do Jogo: Suspender temporariamente o jogo para discutir erros ou pontos de melhoria sem interromper o fluxo da simulação.

Introduzir eventos modificadores: Ajustar variáveis do jogo, como alterações nas condições climáticas ou políticas, para desafiar os jogadores e orientá-los de volta ao caminho correto.

Encaminhar feedback em tempo real: Fornecer breves observações durante a execução, conhecidas como “hot wash” para corrigir pequenos desvios sem interromper a dinâmica do jogo.

Mediação de Conflitos: Resolver impasses entre os jogadores e garantir um ambiente produtivo.

Análise e Feedback: Avaliar o desempenho dos alunos e fornecer feedback construtivo, destacando pontos positivos e áreas de melhoria.


6. Principais Desafios e Problemas na Condução de Jogos de Guerra Didáticos

Diversos fatores podem comprometer a eficácia de um Jogo de Guerra didático:

Viés Cognitivo dos membros do GRUCON: A tendência humana de projetar preferências e crenças pessoais pode distorcer a avaliação de cenários e decisões.

Falta de Sinergia entre os membros do GRUCON: O GRUCON deve trabalhar em equipe e de forma uníssona, pois a percepção de desorganização e de discordância, por parte dos jogadores, pode comprometer a imersão e a qualidade do jogo. Nesse sentido, são fundamentais os papéis do Gerente e da Direção do Jogo, mediando conflitos, exercendo a liderança e promovendo um ambiente de cooperação.

Complexidade Excessiva: Regras ou cenários demasiadamente complexos podem dificultar o entendimento e a participação eficaz dos jogadores.

Falta de Realismo: Cenários pouco realistas podem reduzir o engajamento (imersão) e a aplicabilidade das lições aprendidas.

Deficiências na Condução do Jogo: Facilitadores e demais membros do GRUCON inadequadamente treinados podem falhar em orientar o jogo de maneira eficaz, comprometendo os objetivos educacionais.

Simulação tipo “vídeo game”: Quando acontecem várias ações ao mesmo tempo durante um jogo que emprega um sistema computacional de simulação, fazendo com que ele ganhe “vida própria” e, assim, contribuindo para um prejuízo do aperfeiçoamento do processo de tomada de decisão e da consolidação dos conhecimentos teóricos dos alunos.


7. Recomendações para a Implementação Eficaz de Jogos de Guerra Didáticos

Para maximizar os benefícios dos Jogos de Guerra didáticos, recomenda-se:

Clareza nos Objetivos: Definir metas educacionais específicas e alinhadas às necessidades dos participantes.

Simplicidade e Realismo: Equilibrar a complexidade do jogo para garantir realismo sem comprometer a compreensão.

Treinamento de Facilitadores: Assegurar que os condutores do jogo possuam o treinamento adequado para orientar eficazmente os participantes.

Avaliação Contínua: Implementar mecanismos de feedback para avaliar e aprimorar continuamente o jogo e seus resultados.


8. Conclusão

Os Jogos de Guerra didáticos são uma ferramenta valiosa para o treinamento e ensino, proporcionando um ambiente controlado para a consolidação do conhecimento. No entanto, sua eficácia depende de um planejamento cuidadoso, execução disciplinada e avaliação crítica. O grupo de controle tem um papel essencial nesse processo, garantindo que o aprendizado ocorra de forma estruturada e produtiva. Ao superar desafios e otimizar as técnicas de condução, é possível maximizar os benefícios dessa metodologia essencial.


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