No dia 10 de dezembro o governo de Donald Trump anunciou o quarto acordo de normalização de relações de um país árabe com Israel. Nesse acordo foi a vez do Marrocos, que, agora, é o sexto país árabe a reconhecer o Estado israelense. Apesar do acordo, os países já gozavam de uma certa relação.
Os palestinos demonstraram grande descontentamento com a assinatura do acordo, pois enfraquece politicamente a sua causa, ficando cada vez nas mãos de Israel as condições para o estabelecimento do Estado palestino.
O governo de Rabat já pensa em realizar investimentos em monumentos e sítios arqueológicos judaicos, visando atrair o turismo israelense para o país, bem como implementar, no menor tempo possível, voos diretos entre Marrocos e Israel.
A contrapartida para a concordância por parte do governo marroquino foi que os EUA reconhecessem a sua soberania sobre a região do Saara Ocidental. A região é alvo de disputa territorial entre a população local chamada saaraui (Sahrawi) e o governo marroquino desde que a Espanha se retirou de sua ex-colônia, em 1975, em que deixou o território sem governo. Dessa forma, os saaraui constituíram um movimento de independência denominado Polisario Front e estabeleceram, unilateralmente, a Sahrawi Arab Democratic Republic - SADR (República Árabe Saaraui Democrática, ou República Saaraui), onde o governo desde a sua proclamação encontra-se exilado na Argélia, e que apoia a Polisario Front.
Apesar dos protestos da população marroquina sobre o acordo, a contrapartida acalma um pouco os ânimos, pois é vantajosa para o país.
Nesse sentido, a Polisario Front obteve êxito contra a pequena força armada da Mauritânia, que desistiu de pleitear a soberania sobre o Saara Ocidental. Sendo assim, teve início, em 1975, uma guerra entre o Marrocos e o movimento saaraui até 1991, quando a Organização das Nações Unidas estabeleceu um cessar fogo e prometeu a realização de um referendo sobre a independência, devido as condições da população que estava dispersa em vários campos de refugiados na Argélia, o que não ocorreu em virtude da obstrução marroquina.
Existe na região a Missão das Nações Unidas para o referendo no Saara Ocidental - MINURSO, e que o Brasil participa com 6 observadores militares. Atualmente, a missão monitora o cessar fogo, contribui para a diminuição da ameaça de minas e presta apoio logístico ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - UNHCR.
Nesse cenário, cerca de 75% do Saara Ocidental é controlado pelo Marrocos e os 25% restantes são controlados pela Polisario Front.
No mês que antecedeu a assinatura do acordo de normalização de relações, os lados da disputa quebraram o cessar fogo de quase 30 anos. A Polisario Front alega que os marroquinos foram os responsáveis pelo reinício do confronto por terem enviado tropas para a zona tampão (buffer zone) de Guerguerat. Do outro lado, o governo de Rabat informa que os guerrilheiros estavam bloqueando a estrada que escoa bens entre o Marrocos e a Mauritânia, e com isso era necessário desobstruir a via.
Fontes revelaram, em 2018, que o Irã fornecia apoio logístico, por meio do Hezbollah, à Polisario Front com treinamento e fornecimento de armamento, o que levou o Marrocos a cancelar as relações diplomáticas com Teerã. Sendo assim, analistas relataram que a intenção era estabelecer um proxy iraniano na região. Ademais, historicamente o governo de Rabat possui laços com governo de Washington e com os países do Golfo, em especial com a Arábia Saudita.
Convém mencionar a importância da área marítima no tocante a exploração econômica como a atividade pesqueira, e uma possibilidade de exploração de petróleo (apesar de não se ter notícias de possíveis campos petrolíferos). Porém, o Saara Ocidental tem se mostrado um importante produtor de fosfato para o Marrocos, onde há 6 companhias operando na região, sendo 4 estrangeiras.
O reconhecimento da soberania marroquina pelos EUA no cenário internacional não altera o status do Saara Ocidental, que continua como um território em disputa, mas dá mais peso ao pleito do Marrocos.
O Blog é de opinião que o acordo de normalização de relações entre o Marrocos e Israel foi excelente para ambos geopoliticamente. Entretanto, coloca os EUA numa posição politicamente condenável perante os demais países ocidentais por avalizar um pleito que ainda está em disputa na ONU, e que deixa para o próximo presidente estadunidense um problema a ser administrado. Outrossim, o acordo traz luz para o conflito esquecido do Saara Ocidental, em que podemos dizer que é a última colônia a tentar ser independente.
Em que pese a Argélia apoiar a Polisario Front é muito pouco provável que haja um conflito entre os governos argelino e marroquino, devido a esses Estados terem muito a perder. Além disso, é interessante que acompanhemos o desenrolar das ações por termos brasileiros participando da MINURSO.
Ainda em nossas análises sobre os acordos de normalização de relações com Israel, ratificamos a nossa opinião, contida nos artigos anteriores sobre o assunto, de que uma aproximação dos Estados árabes com Israel, colocará uma grande pressão sobre o regime de Teerã, diminuindo os possíveis aliados, e iniciará uma nova era na região do Oriente Médio, que não necessariamente será de paz, que os palestinos não são prioridade para os Estados Árabes, e que o Irã aumentará a sua influência sobre a palestina.
Sugerimos a releitura dos nossos artigos sobre o tema em nossa seção do Oriente Médio.
Qual a sua opinião sobre o tema?
Seguem alguns vídeos sobre o assunto para nos ajudar em nossas conclusões e análises:
Matéria de 10/12/2020:
Matéria de 16/11/2020:
Matéria de 11/12/2020:
Matéria de 10/12/2020:
Matéria de 10/12/2020:
Matéria de 14/12/2020:
Matéria de 11/12/2020:
Matéria de 18/11/2020:
Matéria de 04/01/2018:
Matéria de 02/05/2018:
Matéria de 09/05/2018:
Matéria de 14/11/2020:
Matéria de 17/11/2020:
Matéria de 23/11/2020:
Matéria de 11/12/2020:
Matéria de 11/12/2020:
Matéria de 30/04/2016:
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