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França e Turquia: a escalada da tensão e as possíveis consequências geopolíticas.


Figura disponível em: https://cdn.cnn.com/cnnnext/dam/assets/201027154501-screengrab-macron-protest-exlarge-169.jpg

Recentemente, a relação entre a França e a Turquia, que vem sofrendo um desgaste, atravessa um período bastante turbulento e sério, desde que o Presidente francês, Emmanuel Macron, em um discurso público, informou que defenderá os valores franceses, como a liberdade de expressão e a laicidade contra aqueles que não concordam, bem como culpa o terrorismo radical islâmico pelo assassinato do professor francês que foi decapitado após a sua aula sobre liberdade de expressão, em que mostrou uma charge do Profeta Maomé. Outrossim, Macron alegou que o islamismo estaria em crise.

Nesse sentido, o Primeiro-Ministro turco, Erdogan, iniciou uma campanha de boicote aos produtos franceses, bem como ofendeu publicamente Macron, e acusou a França de colonialismo. Começa, assim, uma série de protestos no mundo muçulmano contra o governo francês, que a cada dia têm aumentando de intensidade, com vários países de maioria islâmica condenando Macron, potencializando a rivalidade franco-turca.

O jornal francês Charlie Hebdo, famoso por suas charges polêmicas, inflamou a crise por meio de uma edição que ridicularizou Erdogan, e citou o Profeta, num claro desafio à Turquia, o que foi defendido por Macron.

Os governos de Paris e Ankara vêm se estranhando bastante, principalmente em 2020, onde destacamos os principais eventos abaixo:

  • Guerra na Líbia, em que estão apoiando lados opostos no conflito, onde ocorreu uma crise entre os meios navais, deixando a OTAN sem saber ao certo como resolver a questão;

  • Disputa geopolítica no Mediterrâneo Oriental entre a Turquia e a Grécia, no qual a França apoia abertamente o governo grego, inclusive participando de exercícios navais com esse país;

  • a França acusou a Turquia de se envolver ativamente no conflito entre a Armênia e o Azerbaijão;

  • o Presidente francês reconheceu que a Turquia cometeu genocídio contra os armênios durante a Primeira Guerra Mundial, onde em 2019 anunciou que o dia 24 de abril será lembrado no país como o Dia do Genocídio Armênio, o que irritou demais o governo turco;

  • o governo francês condenou politicamente os turcos pela sua participação na Guerra da Síria no tocante a sua ofensiva contra os curdos.

Erdogan, em sua política assertiva, tem respondido a essas questões de forma enfática, por meio de ameaças, bem como pela continuação de suas manobras geopolíticas, visando atingir os seus objetivos estratégicos, quais sejam:

  • consolidar-se como um "hub"importante de energia para a Europa e a Ásia;

  • consolidar-se como uma potência eurasiana;

  • conseguir um assento no Conselho de Segurança como representante muçulmano, assumindo a voz do mundo islâmico (liderança muçulmana);

  • ser aceito na União Europeia.

Sugerimos a releitura do nosso artigo: "Ascensão turca: chega de ceder!", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/ascensão-turca-chega-de-ceder .

Por outro lado, a França também vem tentando assumir a liderança europeia e ter um maior protagonismo no cenário internacional. Com isso, também adota uma política externa firme e coerente com os seus objetivos geopolíticos, que estão baseados na tríade: Segurança - Autonomia - Influência. Sugerimos a releitura do artigo do Blog: "França: a super potência europeia? Conseguirá ser protagonista global?", acessível em: https://www.atitoxavier.com/post/frança-a-super-potência-europeia-conseguirá-ser-protagonista-global .

Convém mencionar que ambos os países estão enfrentando crises internas, e que qualquer oportunidade é interessante e pode ser usada para desviar a atenção dos problemas domésticos, bem como auxiliar na permanência dos atuais mandatários no poder.

No meio da crise franco-turca temos a União Europeia (UE) e a OTAN, que apresentam os seguintes dilemas:

  • UE: é refém da Turquia no tocante a imigração dos refugiados sírios que querem adentrar a Europa e encontram-se contidos em território turco, bem como da importância do mercado econômico turco para alguns países europeus, como a Alemanha e a Itália. Dessa forma, não há um consenso de como seriam aplicadas possíveis sanções econômicas no governo de Ankara. Boa parte dos países europeus ficou ao lado francês nessa última e mais grave crise política franco-turca;

  • OTAN: não está sabendo lidar com as crises navais grego-turca e franco-turca, pois os três países são membros da aliança, e com isso não tem uma solução concreta para esses problemas.

É digno de nota que a atual sociedade francesa possui um considerável número de cidadãos que professam o islamismo, cerca de 7% a 8%, sendo que uma boa parte vive abaixo da média social e econômica francesa, o que facilita a ocorrência de protestos violentos e o recrutamento de jovens por grupos fundamentalistas radicais.

Outrossim, os valores franceses defendidos por Macron carecem de ter um olhar mais multicultural e atual, em virtude da realidade de sua população (aumento gradual dos muçulmanos franceses), visando evitar conflitos e divisões sociais. Para tentar combater o fundamentalismo islâmico em território francês, foi lançado um plano de ação contra o radicalismo com a participação do Conselho Francês do Culto Muçulmano.

Nesse cenário, são previstas as seguintes consequências para a França:

  • incremento da violência doméstica, com a ocorrência de atentados terroristas;

  • aumento da rejeição francesa no mundo muçulmano;

  • um possível desgaste político de Macron;

  • uma maior discriminação contra os seus cidadãos muçulmanos, com possíveis atos de violência em Mesquitas;

  • um desafio geopolítico para atingir um dos seus objetivos de liderar a União Europeia.

Para a Turquia são vislumbrados:

  • aumento da sua influência junto ao mundo muçulmano, e esvaziando a influência saudita;

  • não conseguir entrar para a União Europeia (algo que praticamente já é considerado como fato);

  • consolidação do governo de Erdogan na Turquia, pois agrada aos nacionalistas turcos;

  • isolamento político junto à Europa Ocidental, e talvez junto aos EUA;

  • sofrer sanções econômicas pela UE;

  • formação de novas alianças políticas e militares fora do eixo europeu.

O Blog é de opinião de que essa crise não é boa para nenhum dos dois países, mas tem um maior impacto no governo francês nos ambientes interno e externo.

O governo de Erdogan poderá sair fortalecido, ajudando em sua manutenção no poder, mas existe uma grande probabilidade de ocorrer consequências econômicas negativas para a Turquia, por meio de sanções aplicadas pela UE. Entretanto haverá o aumento de seu protagonismo no mundo muçulmano, principalmente junto aos sunitas, diminuindo a influência da Arábia Saudita.

Será necessário distensionar a tensão criada, pela Turquia, entre a França e o mundo muçulmano por algum ator internacional que tenha influência no Islã, visando evitar uma possível escalada da violência por parte de extremistas.

Nos resta acompanhar o desenrolar dos acontecimentos e as possíveis ações da União Europeia e da OTAN.

Qual a sua opinião? A crise é pior para quem? Devemos estar atentos a esse problema?

Seguem alguns vídeos para nos ajudar em nossas análises:

Matéria de 28/10/2020:

Matéria de 27/10/2020:

Matéria de 29/10/2020:

Matéria de 28/10/2020:

Matéria de 28/10/2020:

Matéria de 26/10/2020:

Matéria de 27/10/2020:

Matéria de 26/10/2020:

Matéria de 28/10/2020:

Matéria de 27/10/2020:

Matéria de 25/10/2020:

Matéria de 27/10/2020:

Matéria de 23/09/2020:

Matéria de 03/07/2020:

Matéria de julho/2020:

Matéria de 21/10/2020:


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