2 de jun. de 20214 min para ler

EUA e a espionagem aos seus aliados: existem Estados confiáveis? A Importância da Inteligência.

Figura disponível em: https://www.globaltimes.cn/Portals/0/attachment/2021/2021-05-31/c7c321c3-7021-4e37-8290-a1f6f8bedf20.jpeg

O Blog vem acompanhando o tema sobre inteligência em sua seção sobre o assunto, que pode ser acessada pelo link https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/se%C3%A7%C3%A3o-intelig%C3%AAncia, e com isso vem abordando como operam e são estruturados alguns serviços de inteligência estatais do cenário internacional.

Recentemente, em 30 de maio, foi noticiado pela empresa pública de notícias dinamarquesa (Danmarks Radio - DR) que a agência estadunidense National Security Agency - NSA, juntamente com o serviço de inteligência militar dinamarquês (Danish Defence Intelligence Service, também conhecido pelo acrônimo FE), teriam obtido informações sigilosas de seus aliados europeus, por meio de espionagem nos cabos submarinos que passam pela Dinamarca, e de outras fontes de comunicação, como grampos de telefones, inclusive de celulares.

Isso corrobora a nossa opinião de que os cabos submarinos são estratégicos e fundamentais para as comunicações, além de serem vulneráveis aos Estados que possuem tecnologia para acessá-los e danificá-los, o que poderá trazer sérias consequências aos governos que não têm meios de protegê-los adequadamente. Tal análise encontra-se no nosso artigo "Cabos submarinos: vulnerabilidade de inteligência global. China e Rússia - principais ameaças", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/cabos-submarinos-vulnerabilidade-de-inteligência-global-china-e-rússia-principais-ameaças. Apesar de afirmarmos na matéria de que a Rússia e a China são as principais ameaças, dissemos que os EUA possuem a mesma capacidade.

Dentre os alvos selecionados pela NSA estariam altas autoridades de países europeus, como Primeira-Ministra Angela Merkel, além outras autoridades da Alemanha, França, Suécia e Noruega.

Tal informação é oriunda de um relatório interno de inteligência elaborado pela FE, a partir de 2015, com base nas informações oriundas das revelações de Edward Snowden (atualmente exilado na Rússia), em 2013, onde ela e a NSA teriam realizado uma parceria para espionar, no período compreendido entre 2012 e 2014, algumas autoridades dos países citados acima, com o intuito de verificar a veracidade das revelações.

A princípio, o documento confirmaria o ocorrido, e afirmaria que o governo de Copenhague teria tido ciência do fato, desde 2015, mas não teria tomado nenhuma providência, e nem informado o ocorrido aos seus aliados. Ademais, o relatório da FE não deixa claro se houve anuência do Estado dinamarquês na parceria NSA - FE.

Segundo fontes, a DR obteve ciência do relatório por meio de cerca de 9 fontes não reveladas e que tinham ciência da investigação da FE.

Até o presente momento, em que pese as pressões dos países atingidos pela espionagem, tanto os EUA quanto a Dinamarca, ainda não se explicaram oficialmente sobre o possível fato. Dessa forma, desde vazamento das informações pela DR existe uma investigação independente pela mídia internacional sobre o ocorrido.

É notório que após os atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA vêm espionando em escala global, a fim de evitar novos episódios, bem como para contribuir no atingimento dos seus interesses geopolíticos, tendo inclusive espionado o nosso país. Dessa forma, em nosso artigo "Seção inteligência: Inteligência norte-americana, existe algum interesse no Brasil?", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/seção-inteligência-inteligência-norte-americana-existe-algum-interesse-no-brasil , afirmamos que o Brasil por ser um vizinho com grande potencial de crescimento sempre ensejou uma atenção, pois o nosso desenvolvimento poderá constituir uma ameaça aos EUA, além do país poder despontar como uma grande liderança regional na América do Sul ou no hemisfério sul. Essa sensação foi potencializada devido aos governos anteriores com aproximações a países que não era alinhados a Washington, não podemos esquecer a preocupação norte-americana durante a época anterior ao regime militar. Atualmente, seu interesse fica no campo econômico (agronegócio), energético (programa nuclear brasileiro) e militar (lançamento de satélites e programa de propulsão nuclear).

O caso tem sido encarado com muita seriedade e gravidade pelos países afetados. Nesse diapasão, a Dinamarca encontra-se numa posição política mais desvantajosa do que os EUA, devido a ter contribuído na espionagem de países do mesmo continente. É digno de nota que já existe o desgaste político e um aumento da desconfiança entre todos os envolvidos.

Geopoliticamente, a revelação do caso foi positivo para:

- Rússia: o desgaste dos EUA junto aos seus aliados europeus é relevante para os interesses russos, principalmente quando se trata da Alemanha, em que possui o projeto do gasoduto NORDSTREAM 2 que é estratégico para a influência russa na Europa Ocidental, e que os EUA vinham tentando evitar a sua realização;

- China: a diminuição da influência estadunidense na Europa ocidental é interessante para que Pequim possa melhorar o seu relacionamento econômico e político junto aos principais países europeus, e com isso mitigar os problemas advindos da pressão dos EUA.

Nesse cenário, acreditamos que a inteligência russa deve ter contribuído para que a DR tivesse conhecimento do relatório de inteligência da FE.

Ademais, esse exemplo demonstra que a competição entre as grandes potências leva ao emprego de métodos reprováveis moral e eticamente, ainda mais quando se trata de aliados, a fim de obter informações valiosas, como acordos e parcerias entre Estados, tendências políticas e de alinhamento, com o intuito de se antecipar a movimentos dos adversários.

Em nossa análise, a espionagem estadunidense se deveu a sua preocupação com a Rússia e a China junto aos seus aliados na Europa, devido aos fatores econômicos e geopolíticos, como o projeto NORDSTREAM 2.

Sendo assim, o Blog é de opinião de que, infelizmente, não existe lealdade e amizade entre os Estados, mas interesses geopolíticos, podendo existir certa simpatia entre as nações.

Com isso, o fato ratifica a importância da Atividade de Inteligência, que compreende os ramos de Inteligência e Contrainteligência, na preservação dos interesses nacionais.

Dessa forma, o caso acima serve como alerta e objeto de estudo do nosso governo, a fim de preservarmos os nossos interesses.

Qual a sua opinião? Continuamos a ser espionados pelos EUA?

Seguem alguns vídeos para as nossas análises:

Matéria de 01/06/2021: