O Blog em sua Seção África, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1frica, vem acompanhando a situação nesse continente, que é extremamente importante para o nosso país, devido aos laços históricos, bem como em virtude da sua parte ocidental ficar no Entorno Estratégico Brasileiro.
Além disso, o Brasil, por meio da Marinha do Brasil, tem tido certo protagonismo na parte oriental africana, como Comandante da Força-Tarefa Combinada 151 das Forças Marítimas Combinadas, que tem a responsabilidade de combater a pirataria no Golfo de Áden, conforme podemos ver abaixo nas palavras do Contra-Almirante Antonio Braz de Souza:
By accepting the invitation to guide this force once again, the Brazilian Navy, the first South American country to play a prominent role in this multinational maritime partnership, reaffirms its dedication to the maritime community, and particularly to the Combined Maritime Forces. [...] This commitment aims at enhancing overall security and stability, further contributing to the collective well-being.
Convém mencionar que a região é extremamente instável e intrincada, ainda mais com os ataques dos Houthis ao tráfego marítimo, como apresentamos no artigo "Os Houthis e sua influência na geopolítica do Oriente Médio. São um proxy do Irã? Parte III - possível escalada da crise", de 22 de janeiro de 2024, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/os-houthis-e-sua-influência-na-geopolítica-do-oriente-médio-são-um-proxy-do-irã-parte-iii-possív.
Nesse sentido, a Etiópia começou a contribuir com o incremento da instabilidade da região, o que poderá deflagrar um conflito com a Somália, pois recentemente o governo etíope começou a efetuar negociações com a Somalilândia, que é uma província separatista somali e que declarou sua independência, não reconhecida internacionalmente e de forma unilateral, em 1991.
Nas negociações o governo etíope se comprometeu, através de um Memorando de Entendimento, a reconhecer a independência da Somalilândia em troca de se ter um acesso, por um período de 50 anos, ao Mar Vermelho via o porto de Berbera.
É digno de nota que os etíopes perderam o seu acesso ao mar, em 1993, para a Eritreia, como o resultado da guerra entre os dois países, o que torna a Etiópia dependente do Djibouti para as suas exportações pelo mar.
Portanto, em nossa visão, o acordo é vantajoso para ambos os proponentes, como podemos ver a seguir:
- Etiópia: voltaria ter o acesso ao mar, que é muito importante para o crescimento econômico do país, conseguiria unir uma boa parte do povo etíope em torno dessa causa e com isso tiraria o foco da sua instabilidade interna, que envolve conflitos na região do Tigray, em que analisamos no artigo "Etiópia: fator de instabilidade na África Oriental", de 16 de novembro de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/etiópia-fator-de-instabilidade-na-áfrica-oriental, afirmamos que a situação interna na Etiópia era extremamente complexa, e que devido aos vários interesses geopolíticos externos o país estaria marchando para uma guerra civil que poderia desestabilizar toda a região do seu entorno; e
- Somalilândia: o seu reconhecimento como um Estado independente pela Etiópia abriria a possibilidade de outros países fazerem o mesmo, o que poderia facilitar uma possível entrada de investimentos estrangeiros, ajuda humanitária internacional e outras facilidades e oportunidades, que somente um Estado reconhecido internacionalmente pode usufruir.
Entretanto, o acordo está sendo considerado pela Somália como um ato de agressão etíope, pois envolve soberania do seu território, pois não pode-se esquecer que a Somalilândia é uma província separatista.
Nesse cenário, o Egito afirmou que não irá permitirá qualquer ameaça à soberania somali, o que contribui para a escalada da tensão na região. As palavras do presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, foram claras quando afirmou que: “O Egipto não permitirá que alguém ameace a Somália ou afecte a sua segurança” (fonte: https://www.voaportugues.com/a/egipto-avisa-eti%C3%B3pia-sobre-acordo-com-separatistas-som%C3%A1lis/7448983.html).
A União Africana tenta mediar a tensão entre os envolvidos, visando evitar um possível conflito.
Cabe relembrar a problemática que envolve etíopes e egípcios sobre o Rio Nilo, o que quase ocasionou um conflito entre eles, como podemos ver nos nossos artigos abaixo, e que recomendamos a leitura para que o leitor possa entender melhor a atual relação entre os países:
-"A Geopolítica do Nilo: controle da água. Possível fonte de conflito ou de cooperação?", de 02 de agosto de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-geopolítica-do-nilo-controle-da-água-possível-fonte-de-conflito-ou-de-cooperação; e
-"Geopolítica do Nilo Parte II. Possível escalada da crise", de 07 de marco de 2021, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-do-nilo-parte-ii-possível-escalada-da-crise.
Em nossa opinião, a questão da Somalilândia pode ser uma oportunidade para outros Estados que queiram desestabilizar, ainda mais, a região, por meio do reconhecimento de sua independência, levando a uma escalada da tensão e da violência na Somália, e com isso criando possíveis dificuldades para os EUA e os seus aliados que operam na região, por meio das Forças Marítimas Combinadas. Ademais, existem várias bases militares estrangeiras no Djibouti:
"Combined Maritime Forces (CMF) is a multi-national naval partnership, which exists to promote security, stability and prosperity across approximately 3.2 million square miles of international waters, which encompass some of the world’s most important shipping lanes. CMF’s main focus areas are defeating terrorism, preventing piracy, encouraging regional cooperation, and promoting a safe maritime environment. CMF counters violent extremism and terrorist networks in maritime areas of responsibility; works with regional and other partners to improve overall security and stability; helps strengthen regional nations’ maritime capabilities and, when requested, responds to environmental and humanitarian crises. Comprised of five task forces: CTF 150 (Gulf of Oman security and counter-terrorism), CTF 151 (counter piracy), CTF 152 (Arabian Gulf security and cooperation), CTF 153 (Red Sea/Gulf of Aden security and cooperation) and CTF 154 (maritime security training). 40 member nations: Australia, Bahrain, Belgium, Brazil, Canada, Denmark, Djibouti, Ecuador, Egypt, France, Germany, Greece, India, Iraq, Italy, Japan, Jordan, Kenya, Republic of Korea, Kuwait, Malaysia, the Netherlands, New Zealand, Norway, Oman, Pakistan, the Philippines, Portugal, Qatar, Saudi Arabia, Seychelles, Singapore, Spain, Thailand, Sri Lanka, Türkiye, UAE, United Kingdom, United States and Yemen. Commanded by a U.S. Navy Vice Admiral, who also serves as Commander U.S. Naval Forces Central Command and U.S. Fifth Fleet. All three commands are co-located at U.S. Naval Support Activity Bahrain. Deputy commander is a UK Royal Navy Commodore. Other senior staff roles at CMF headquarters are filled from personnel from member nations, including Australia, France, Italy and Denmark. Participation is purely voluntary. No nation is asked to carry out any duty that it is unwilling to conduct. The contribution from each country varies depending on its ability to contribute assets and the availability of those assets at any given time. The 40 nations that comprise CMF are not bound by either a political or military mandate. CMF is a flexible organisation. Contributions can vary from the provision of a liaison officer at CMF HQ in Bahrain to the supply of warships or support vessels in task forces, and maritime reconnaissance aircraft based on land. We can also call on warships not explicitly assigned to CMF to give associated support, which is assistance they can offer if they have the time and capacity to do so whilst undertaking national tasking. (fonte: https://www.cusnc.navy.mil/Combined-Maritime-Forces/)
O Blog é de opinião que a Etiópia pode estar manobrando geopoliticamente para desviar o foco dos seus problemas internos, bem como tenta impor uma negociação com a Somália para voltar a acessar o mar. Entretanto, isso poderá levar a uma escalada da tensão que poderá deflagrar uma crise militar com a possibilidade de ocorrer um conflito armado de pequena intensidade, devido ao envolvimento de outros atores, como o Egito.
Logo, a região do Mar Vermelho tem-se tornado cada vez mais complexa, e com isso é esperada uma maior ação militar dos EUA e dos seus aliados, com o intuito de garantir a segurança de tão importante linha de comunicação marítima, especialmente para os europeus, o que pode ser uma oportunidade para os adversários estadunidenses, como a Rússia e o Irã.
Assim, esse episódio reforça o que sempre temos afirmado, que vivemos num mundo mais imprevisível e menos seguro.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 09/01/2024:
Matéria de 23/01/2024:
Matéria de 13/01/2024:
Matéria de 03/01/2024:
Matéria de 19/01/2024:
Matéria de 17/01/2024:
Matéria de 14/01/2024:
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