A Etiópia vem a um ano, desde novembro de 2020, enfrentando um conflito interno entre o governo e a Tigray People’s Liberation Front - TPLF que controla a região de Tigray, que fica no norte do país e que faz fronteira com a Eritreia e o Sudão.
Convém relembrar que o conflito se originou por causa da disputa interna de poder, em que a TPLF deteve o controle político do país por cerca de três décadas, e que o atual Primeiro-Ministro Abiy Ahmed decidiu diminuir a influência e o protagonismo desse grupo político no cenário interno, o que deu início a uma série de divergências e embates políticos até que a TPLF realizou um ataque a uma base militar em Tigray, culminado com uma campanha militar governamental contra esse grupo e iniciando, assim, o conflito que já dura um ano.
O governo de Adis Abeba declarou estado de emergência nacional depois de sofrer uma grande derrota em junho, com a consequente retirada de suas tropas da região de Tigray e a captura de vários de seus soldados, e após a atual ofensiva da TPLF. É digno de nota que a Eritreia, aliado do atual governo, invadiu a região conflituosa em apoio a ofensiva governamental.
Atualmente a TPLF conta com o apoio de outro grupo rebelde, chamado Oromo Liberation Army - OLA, e que juntos têm obtido várias vitórias e conquistas de cidades importantes em direção à capital, aumentando a apreensão interna.
Existem vários relatos de violação dos direitos humanos, o que também preocupa e chama atenção da comunidade internacional, em especial o Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA e alguns países europeus.
O conflito está escalando e fazendo com que haja uma possibilidade bem factível de levar a Etiópia a uma guerra civil, pois o governo tenta mobilizar a população em pegar em armas e lutar contra o avanço da TPLF à capital do país, o que tem levado a criação de grupos e milícias regionais.
Na figura abaixo podemos ver como é a diversidade étnica etíope, sendo as Oromo, Amhara e Tigreans predominantes no país. Tal diversidade apresenta um grande grau de volatilidade, e que devido a algumas rivalidades históricas pode ocasionar embates entre eles, como no passado.
Outro fator preocupante é a crise humanitária que está acontecendo, e que está sendo potencializada pelas milícias da etnia Amhara que têm aproveitado a oportunidade para massacrar parte da população que fica localizada na porção oeste da região de Tigray.
Nesse sentido, esse cenário está levando a uma grande instabilidade interna, que poderá gerar uma futura desintegração política e territorial.
O Blog em seu artigo "Geopolítica do Nilo Parte II. Possível escalada da crise", de 07 de maio de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-do-nilo-parte-ii-possível-escalada-da-crise, afirmou que o Egito tem sido acusado pela Etiópia de dar suporte a grupos rebeldes etíopes, como os Gumuz rebels e o Tigray People's Liberation Front (TPLF), e com isso tentar desestabilizar o governo de Abiy Ahmed, forçando uma troca de poder. Isso poderia facilitar a retomada das negociações sobre a problemática da represa Grand Ethiopian Renaissance Dam com melhores condições, pois a liderança etíope estaria fragilizada. Convém mencionar que por ocasião do conflito interno etíope entre as Forças legais e o TPLF, o Sudão tomou o controle de uma área disputada entre os dois países conhecida como al-Fashaqa, aproveitando que o exército etíope estava ocupado, ainda mais devido ao fluxo de refugiados desse conflito para o Sudão, o que elevou a tensão entre esses governos. Acordo informações e opiniões de analistas, o Egito estaria incentivando uma postura agressiva por parte do Sudão, resultando numa assinatura recente de um acordo militar com esse país.
O conflito está desestabilizando a região do Chifre da África, o que traz insegurança a toda região, conforme informado pela ONU em 08 de novembro:
"Turning to growing speculation on how the crisis would unfold over the coming weeks, the UN official observed that in a country of more than 110 million people, over 90 different ethnic groups and 80 languages, no one could really predict what continued fighting and insecurity will bring. However, she said that the political repercussions of intensifying violence in the wider region would be “immense” – compounding the many other crises underway in the Horn of Africa." (acessível em https://news.un.org/en/story/2021/11/1105252)
O Quênia e o Sudão do Sul estão em alerta devido a migração de refugiados etíopes, fugindo do conflito, para os seus países.
Além disso, esse conflito está trazendo consequências para a Somália, como a retirada das tropas etíopes da missão de paz regional liderada pela União Africana, conhecida como African Union Mission in Somalia - AMISOM, que impactará na segurança e na estabilidade somali. Ademais, acordo informações do The Africa Report, soldados somalis teriam lutado no início do conflito etíope ao lado das tropas do governo da Eritreia, o que traz certa apreensão a esse país no caso da TPLF retornar ao poder:
"In Somalia, Afwerki’s close relations with Farmaajo have seen hundreds of Somali forces receive military training in Eritrea. These Somali recruits have been reportedly deployed to fight in Tigray, with many still away on mission." (disponível em: https://www.theafricareport.com/128011/what-somalia-stands-to-gain-from-ethiopias-ongoing-tigray-war/)
O Blog é de opinião de que a situação é extremamente complexa, e que devido aos vários interesses geopolíticos externos a Etiópia está marchando para uma guerra civil que desestabilizará toda a região do seu entorno.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar as nossas análises:
Matéria de 28/05/2021:
Matéria de 08/11/2021:
Matéria de 12/11/2021:
Matéria de 14/11/2021:
Matéria de 31/10/2021:
Matéria de 06/11/2021:
Matéria de 08/11/2021:
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