O Blog desde a sua criação vem acompanhando e analisando uma possível militarização do Atlântico Sul, que é a fronteira oriental do nosso país, apresentando os possíveis impactos para o Brasil.
Nesse sentido, em 04 de outubro de 2020, apresentamos o artigo "Entorno Estratégico Brasileiro: estabelecimento de bases chinesas e seus possíveis desdobramentos", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/entorno-estratégico-brasileiro-estabelecimento-de-bases-chinesas-e-seus-possíveis-desdobramentos, em que afirmamos que o crescente aumento da influência chinesa na África e na América do Sul vem despertando a preocupação dos EUA, ainda mais no período da competição entre as grandes potências e de uma "Guerra Fria" sino-estadunidense. Além disso, dissemos que essa disputa geopolítica se aproxima do Brasil e poderá impactar numa possível liderança regional pelo nosso país, bem como nos colocar em uma posição delicada geopoliticamente entre essas duas grandes potências, e seus dois principais parceiros comerciais. Assim, informamos, também, que a China intenciona implementar uma base em Angola, bem como estariam em andamento negociações com a Namíbia sobre uma possível instalação de uma base militar chinesa, e que foi estabelecida na Argentina, na região da Patagônia, uma base espacial chinesa, que já está em operação, com o alegado propósito de realizar observações celestes para o seu programa espacial. Porém, o relatório do Departamento de Defesa estadunidense informou que a base chinesa em solo argentino é operada pela Força de Apoio Estratégica do Exército Chinês. Além disso, a instalação de bases chinesas na África Ocidental levará ao aumento da militarização do Atlântico Sul, o que não é do interesse brasileiro, e demandará uma maior atenção do Estado brasileiro para o seu setor de defesa, com uma consequente formulação de uma estratégia marítima, condizente com os objetivos geopolíticos brasileiros. Portanto, dissemos que o cenário apresentado faz com que devamos nos preparar adequadamente para as consequências da chegada dessa disputa geopolítica ao "nosso quintal", e que é esperado que enfrentemos pressões por alinhamento político e econômico.
No dia 03 de novembro de 2022, o site independente de inteligência, que possui quarenta anos de existência, Intelligence Online, por meio do artigo Beijing takes action behind the scenes for control of Ushuaia naval base disponível em https://www.intelligenceonline.com/international-dealmaking/2022/11/03/beijing-takes-action-behind-the-scenes-for-control-of-ushuaia-naval-base,109841359-art , alertou para uma possível negociação entre a China e a Argentina para o estabelecimento de uma base naval chinesa em Ushuaia.
Entretanto, existem notícias da imprensa argentina de que essa negociação com o Governador da Província da Terra do Fogo, Gustavo Mellela, já estava acontecendo antes da notícia acima, conforme o artigo El plan de China para construir una base naval en Tierra del Fuego con una obsesión oculta: la Antártida, de 25 de setembro de 2022, acessível em https://www.infobae.com/politica/2022/09/25/el-plan-de-china-para-construir-una-base-naval-en-tierra-del-fuego-con-una-obsesion-oculta-la-antartida/ . A implementação da base chinesa seria em Río Grande, que fica na Província da Terra do Fogo na Patagônia argentina.
Uma base chinesa em Ushuaia permitirá uma maior inserção do governo de Pequim na Antártica, e que conforme o nosso artigo "A importância geopolítica da Antártica (ou Antártida)", de 31 de maio de 2020, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-importância-geopolítica-da-antártica-ou-antártida, a Antártica é uma região extremamente inóspita, mas que desperta a atenção e interesse de vários países devido aos recursos minerais (minério de ferro, cromo, cobre, níquel, platina e entre outros minerais), reservas de petróleo, regulação do clima, pesquisas científicas, potencial pesqueiro, uma das maiores reservas de água doce, e pela proximidade de rotas marítimas importantes (Passagem de Drake e Estreito de Magalhães). Além disso, nesse artigo dissemos que em relação a análise geoestratégica, alguns analistas consideram a importância militar da Antártica pelos seguintes motivos: controle das comunicações marítimas, principalmente as existentes em divisões de oceanos (vide a primeira figura) e serve como base para operações estratégicas de aeronaves e de base logística. Ademais, teoricamente a partir de 2048 os países poderão explorar a região Antártica, pois é quando termina a moratória de exploração estabelecido pelo tratado, o que poderá despertar uma disputa geopolítica. Logo, concluímos no artigo que haverá uma militarização na região por volta de 2040 nas proximidades do término do Tratado da Antártida, em virtude dos interesses geopolíticos e econômicos relatados na postagem e da competição entre as grandes potências atuais.
Com o exposto, podemos afirmar que essa especulação sobre uma base chinesa em Ushuaia ratifica a nossa análise acima.
Assim, podemos ver que a China considera a Argentina como um ator importante estrategicamente para a sua expansão na América do Sul. Para tanto, os chineses utilizam o seu poder econômico para atingir os seus objetivos geopolíticos.
Nesse cenário, isso poderá ser um fator de instabilidade no Atlântico Sul, pois a China deseja ter uma Marinha Global para poder proteger as suas linhas de comunicações marítimas, pois disso depende a sua prosperidade – visão mahaniana – e para tanto precisa ter apoio logístico em bases fora do seu território. Dessa forma, não está em questão terceirizar a segurança de suas LCM, como já dissemos em vários dos nossos artigos que podem ser acessados na Seção China, acessível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/china .
Não podemos esquecer que esse desejo chinês de ter bases no Atlântico não é recente, pois já notícias de possível implementação de bases chinesas na África Ocidental, como Guiné Equatorial, Angola ou Namíbia. Ademais a sua base espacial na Argentina – região da Patagônia - que já está em operação, é operada pela Força de Apoio Estratégico do Exército Chinês, que centraliza as capacidades e missões de guerra cibernética, espacial, eletrônica e psicológica.
Dessa forma, a instalação de bases chinesas na África Ocidental e na América do Sul levará ao aumento da militarização do Atlântico Sul, o que é contrário à ideia da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul - ZOPACAS, pois trará a Disputa entre as Grandes Potências para essa região.
Assim, a China vem incrementando a sua influência nos países do Entorno Estratégico Brasileiro, não só por meio de sua economia, através de empréstimos, mas também pela sua área militar.
Além disso, a intenção do governo chinês em implementar bases militares nessas regiões é um nítido exemplo da tentativa de aumentar a sua influência geopolítica em desafio aos EUA.
No período da Guerra Fria não existia base soviética no Atlântico Sul e já havia uma grande preocupação que isso acontecesse, bem como a possível instabilidade que isso causaria na região.
Nesse contexto imaginemos uma base chinesa tanto na África Ocidental quanto na América do Sul com um possível um conflito por Taiwan.
O Blog é de opinião que a especulação sobre a intenção de instalação de uma base naval chinesa na Argentina, na região de Ushuaia, deve ser alvo de acompanhamento do governo brasileiro, ainda mais porque temos interesses geopolíticos na Antártica.
Outrossim, em que pese ser uma decisão soberana argentina, o nosso país deveria fazer uma pressão política, por meio da sua liderança regional, para que isso não aconteça, visando evitar trazer mais instabilidade para a nossa região - América do Sul.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para a ajudar a nossa análise:
Matéria de 25/09/2022:
Matéria de 19/11/2022:
Matéria de 11/01/2023:
Creio que os recursos pesqueiros e até mesmo os recursos minerais que se encontram em território marítimo brasileiro estão seriamente ameaçados de serem explorados pelos chineses. Não faz muito tempo, barcos pesqueiros chineses estavam praticando pesca predatória nos mares do território marítimo brasileiro. Ou o Brasil leva a questão a sério ou vai ter de aguentar calado a invasão chinesa