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Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil - parte II. Decisão acertada.


Figura disponível em https://navalpost.com/wp-content/uploads/2021/04/A_group_of_Iranian_Navy.jpg

No nosso artigo "Os EUA e o início da preocupação com o Atlântico Sul - aumento da dark fleet chinesa", de 06 de abril de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/inimigo-à-vista-pesca-ilegal-ameaça-que-se-aproxima-cada-vez-mais-do-brasil, afirmamos, além de outras análises, que a presença de navios da Guarda Costeira dos EUA - USCG no Atlântico Sul seria mais constante, visando fazer frente a ameaça das dark fleets, e que os EUA tentariam realizar acordos de cooperação com os países atlânticos da América do Sul para conseguir apoio para essa atividade, bem como o governo brasileiro deveria ter atenção para o tema, pois os EUA já se posicionaram como o protagonista contra essa ameaça, e começarão a visitar mais frequentemente as águas da nossa fronteira oriental (Atlântico Sul), e que Portugal intencionava coordenar e ser um facilitador dos esforços referentes a segurança e a estabilidade do Oceano Atlântico por meio do CA, e ambos eventos não são, geopoliticamente, do nosso interesse.

Nesse sentido, em 31 de janeiro deste ano, o navio da Guarda Costeira dos EUA, o USCGC Stone, novamente, veio ao Atlântico Sul, atracando no Porto de Suape, em Pernambuco, com a missão de contribuir com a "boa ordem do mar", ajudando no protagonismo estadunidense na região, bem como com uma possível parceria com o Brasil na repressão de ilícitos marítimos, como a pesca ilegal. É digno de nota que a última vez do USCGC Stone no nosso país foi no início de 2021, como mencionamos no artigo mencionado acima.

Logo, como falamos no nosso artigo "Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil", de 31 de janeiro, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/diplomacia-naval-do-irã-possível-impacto-para-o-brasil, que não existem coincidências, a passagem desse navio, com a justificativa informada acima, coincide com o pedido de atracação dos navios de guerra do Irã no Rio de Janeiro - 23 a 30 de janeiro. Convém relembrar o episódio, que relatamos no aludido artigo, sobre a aeronave WC-135R Constant Phoenix da Força Aérea dos EUA, conhecida como nuke sniffer ou farejador nuclear, que realiza coleta atmosférica de partículas, gases e resíduos em apoio ao Tratado de Proibição Limitada de Testes Nucleares de 1963, que sobrevoou a costa brasileira, sem no entanto violar a nossa soberania, até o Rio de Janeiro no dia 16 de janeiro deste ano, próximo do período da atracação dos navios de guerra iranianos no Brasil. Além disso, afirmamos que uma contínua visitação de navios de guerra iranianos à América do Sul, com a justificativa do emprego de Diplomacia Naval aguçará cada vez mais os serviços de inteligência do Ocidente, notadamente dos EUA, em virtude de verem com desconfiança o PNM, bem como devido o regime venezuelano possuir uma parceria estratégica com o Irã. Tal desconfiança poderá impactar o nosso setor de defesa, com restrições de acesso a tecnologias importantes, pois alguns creem que "o amigo do meu inimigo, não é meu amigo". Assim, recomendamos cautela em relação a Diplomacia Naval iraniana junto ao nosso país.

Entretanto, a atracação dos navios iranianos acabou não ocorrendo. Assim, existem duas versões que são interessantes a serem analisadas:


A) o governo brasileiro vetou, posteriormente, a atracação desses meios, possivelmente a pedido de autoridades dos EUA, visando evitar um mal estar diplomático com Washington durante o encontro dos Presidentes brasileiro e estadunidense, conforme as matérias "Brasil adia ancoragem de navios de guerra iranianos no Rio até depois de reunião entre Lula e Biden", disponível em https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/02/09/brasil-adia-ancoragem-de-navios-de-guerra-iranianos-no-rio-ate-depois-de-reuniao-entre-lula-e-biden.ghtml , e " Brasil adia ancoragem de navios de guerra iranianos antes de reunião entre Lula e Biden", acessível em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2023/02/09/exclusivo-brasil-adia-ancoragem-de-navios-de-guerra-iranianos-no-rio-ate-depois-de-reuniao-lula-biden.htm.

Seguem trechos dessas matérias:


"Em 13 de janeiro, o Brasil concedeu permissão para que os navios IRIS Makran e IRIS Dena atracassem no porto do Rio entre 23 e 30 de janeiro, segundo uma publicação no Diário Oficial. Essa janela foi posteriormente rejeitada, e agora os navios estão autorizados a atracar entre 26 de fevereiro e 3 de março, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Uma autoridade dos EUA com conhecimento direto da situação disse que a perspectiva de navios de guerra iranianos no Rio antes da reunião de Lula com Biden era “algo desagradável que queríamos evitar”. “Houve muitas conversas de bastidores sobre isso em muitos níveis diferentes”, disse a autoridade, acrescentando que era uma boa notícia que as datas não estavam mais coincidindo. Uma fonte do Exército brasileiro confirmou que o governo federal, via Ministério das Relações Exteriores, mudou as datas e bloqueou a ancoragem dos navios iranianos." (fonte G1)


"Uma autoridade dos EUA com conhecimento direto da situação disse que a perspectiva de navios de guerra iranianos no Rio antes da reunião de Lula com Biden era "algo desagradável que queríamos evitar". "Houve muitas conversas de bastidores sobre isso em muitos níveis diferentes", disse a autoridade, acrescentando que era uma boa notícia que as datas não estavam mais coincidindo. Uma fonte do Exército brasileiro confirmou que o governo federal, via Ministério das Relações Exteriores, mudou as datas e bloqueou a ancoragem dos navios iranianos. "É verdade que houve um veto (do governo)", disse a fonte, sob condição de anonimato." (fonte UOL).


B) o governo do Irã teria solicitado, posteriormente, a troca da data de atracação dos seus navios para o período que coincidiria com o encontro entre os Presidentes brasileiro e estadunidense, o que poderia ser encarado como uma provocação do Irã aos EUA, e com isso usaria o Brasil com esse fim. Dessa forma, alguns assessores do Presidente do Brasil teriam recomendado vetar o período proposto, bem como que fosse oferecido um período posterior a visita, de acordo com as matérias "Brasil volta atrás e veta entrada de navios de guerra do Irã por ligação com viagem de Lula aos EUA", acessível em https://sputniknewsbrasil.com.br/20230209/brasil-volta-atras-e-veta-entrada-de-navios-de-guerra-do-ira-por-ligacao-com-viagem-de-lula-aos-eua-27507862.html, e "Brasil veta navios de guerra do Irã no Rio em semana de visita de Lula aos EUA", que pode ser lida em https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/02/brasil-veta-navios-de-guerra-do-ira-no-rio-em-semana-de-visita-de-lula-aos-eua.shtml.

Seguem alguns trechos das reportagens acima:


"Navios do país persa receberam luz verde do Brasil para atracar no Rio de Janeiro no mês passado, entretanto, mudança de data requerida por Teerã feita em conjunto à consulta paralela sobre viagem de Lula aos EUA fez governo brasileiro mudar de ideia. Apesar de ter liberado embarcações do Irã de chegarem ao porto do Rio de Janeiro em meados de janeiro, o governo Lula decidiu voltar atrás e vetou a entrada dos navios após analisar que uma nova data pedida por Teerã para atracação poderia ser uma provocação aos Estados Unidos. De acordo com a Folha de São Paulo, a primeira data solicitada pelo governo iraniano era dos dias 23 a 30 de janeiro, e em seguida, o Irã recebeu sinal verde da Marinha e do governo brasileiro. Entretanto, "não houve atracação no referido período [de 23 a 30 de janeiro]", segundo comunicado da Marinha, e Teerã pediu uma nova data para passagem dos navios de guerra Dena e Makran." (fonte Sputnik Brasil)


"O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou uma solicitação feita pelo Irã para que embarcações de guerra do país persa atracassem no Rio de Janeiro em uma visita oficial na semana em que o petista se encontra com o líder dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden. O pedido foi visto por auxiliares de Lula como uma tentativa de Teerã de usar o Brasil para provocar os EUA —o que motivou a decisão de não atender à solicitação em data tão próxima à viagem a Washington." (fonte Folha de São Paulo)


Assim, independente da verdadeira versão, A) ou B), o episódio ratificou a nossa análise constante no artigo "Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil", em que recomendávamos cautela com a Diplomacia Naval iraniana junto ao nosso país.


O Blog é de opinião que, como vivemos num mundo mais imprevisível e menos seguro, bem como, em nossa visão, impera a visão realista entre os Estados, devemos estar atentos ao uso da Diplomacia Naval por parte de alguns países para não sermos usados como "peões" no cenário internacional, pagando o preço de sermos impactados em alguns setores, como o de defesa, com restrições de acesso a tecnologias importantes, pois como dissemos: alguns creem que "o amigo do meu inimigo, não é meu amigo". Afinal, o que importa entre os Estados são os seus interesses. Logo, temos que ver os nossos.

Portanto, achamos a decisão de vetar a atracação dos navios iranianos, no novo período solicitado por Teerã, acertada.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:

Matéria de 02/02/2023: esse vídeo posterior ao nosso artigo "Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil", corrobora a nossa análise que fizemos nele.

Matéria de 10/02/2023:



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