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Diplomacia Naval do Irã: possível impacto para o Brasil.


Figura disponível em https://navalpost.com/wp-content/uploads/2021/04/A_group_of_Iranian_Navy.jpg

O Irã, desde 2021, vem demonstrando, por meio da sua marinha, a sua capacidade em operar em Teatros de Operações Marítimos distantes da sua sede, em que pese a região do Golfo Pérsico ser considerada como prioritária para esse país. Logo, a intenção iraniana, em nossa visão, é mostrar-se para o mundo como uma "Marinha de Águas Azuis".

Convém mencionar que devemos diferenciar a Marinha Iraniana, conhecida em inglês por Islamic Republic of Iran Navy - IRIN, da Força Naval da Guarda Revolucionária do Irã, conhecida em inglês por Islamic Revolutionary Guard Corps Navy - IRGCN, cuja principal atribuição é a defesa do litoral iraniano, sendo conhecida pelas manobras navais de intimidação - harassment - aos navios de marinhas ocidentais, notadamente os EUA, como o Blog descreveu em seus artigos "Novo episódio de tensão entre os EUA e o Irã", de 04 de novembro de 2021, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/novo-episódio-de-tensão-entre-os-eua-e-o-irã e "Estreito de Ormuz: importância geopolítica e fonte de tensão constante", de 20 de abril de 2020, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/estreito-de-ormuz-importância-geopolítica-e-fonte-de-tensão-constante.

Nesse sentido, em 2021 a Marinha Iraniana enviou dois dos seus navios, o navio auxiliar IRINS Makran, e a fragata IRINS Sahand em uma viagem de cerca de quatro meses, saindo do Golfo Pérsico, passando pelo Canal de Suez, Mar Mediterrâneo, Atlântico Norte, Canal da Mancha e Mar Báltico até a Rússia, participando das comemorações do aniversário da marinha russa, conforme podemos ver pela imagem abaixo.

Figura disponível em https://news.usni.org/wp-content/uploads/2021/07/Iran-Tanker-Makran-OSINT.jpg

Na época o Almirante iraniano Shahram Irani disse que “the Iranian Navy will continue to maintain its ‘determining presence in the oceans’ and will strengthen its international interactions,” , bem como Describing Iran as the only country that ensures its maritime security single-handedly, the admiral said the Iranian flotilla completed the mission without receiving help from any country. The Iranian warships did not need to make any port call to fulfill even the technical needs." (fonte: https://news.usni.org/2021/09/10/iranian-navy-flotilla-wraps-up-four-month-atlantic-deployment-pledges-more-international-operations)


Portanto, nessa época, sinalizava-se a atual Diplomacia Naval iraniana, corroborando a análise do relatório Iranian Naval Forces - a tale of two navies, promulgado em 2017 pela Office of Naval Intelligence, que é o principal serviço de inteligência marítima dos EUA, que pode ser consultado pelo link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_603d16a42c7b45f49290888fac4205e4.pdf .

No nosso artigo "A Força Naval como um instrumento da diplomacia: Diplomacia das Canhoneiras e Diplomacia Naval", de 19 de agosto de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-força-naval-como-um-instrumento-da-diplomacia-diplomacia-das-canhoneiras-e-diplomacia-naval, falamos que vem ganhando destaque o termo Naval Diplomacy ou Diplomacia Naval, que abarcaria outras formas de persuasão ou de influência com o uso de formas não tão assertivas e coercitivas, em que tenta formar percepções favoráveis onde se deseja influenciar, como apoio humanitário, presença naval constante na região de interesse, exercícios navais com clara demonstração de poder, mas sem ser agressiva ao outro, operações de liberdade de navegação, visitas rotineiras dos meios navais em regiões de interesse, dentre outras formas. Dessa forma, vemos que a Diplomacia Naval possui um conceito mais amplo do que a Diplomacia das Canhoneiras, porque permite de certa forma o uso de medidas coercitivas, mas em formato menos agressivo. Sendo assim, vemos que para que a Diplomacia Naval tenha eficiência a presença no mar é fundamental, tanto para dissuadir, como para influenciar.

Dessa forma, pela segunda vez consecutiva, o Irã enviou dois navios da sua marinha, IRINS Dena e IRINS Makran, para uma outra viagem de longa duração. Os navios saíram do Irã no final de setembro de 2022, com o propósito de circunavegar o Globo. Destarte rumaram, pela primeira vez, pelo Pacífico Sul sendo acompanhados por meios da Austrália e da França, passando pelo Cabo Horn (sul da América do Sul) e Atlântico Sul, e com autorização para atracar no Rio de Janeiro (23 a 30 de janeiro), conforme DESPACHO DECISÓRIO MB Nº 5, de 13 de janeiro de 2023, acessível em https://www.in.gov.br/web/dou/-/despacho-decisorio-mb-n-5-de-13-de-janeiro-de-2023-458733048. É digno de nota que existe a intenção de passarem pelo Canal do Panamá.

Portanto, podemos concluir que o Irã, por meio da sua Marinha, emprega a Diplomacia Naval com o intuito de tentar diminuir o isolamento político a que está submetido por parte da comunidade internacional, devido a problemática do seu programa nuclear, bem como as suas atuais questões internas.

Além disso, nos parece que o governo de Teerã procura mostrar aos EUA que não está "de joelhos", e assim intenciona fortalecer os laços com seus aliados latino-americanos, como Venezuela. Assim, sugerimos a leitura do nosso artigo "O problema venezuelano parte II. O estreitamento de laços com o Irã", de 05 de dezembro de 2020, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/o-problema-venezuelano-parte-ii-o-estreitamento-de-laços-com-o-irã.

Outrossim, o planejamento de atracação de seus navios no Rio de Janeiro, sinaliza a intenção iraniana de fortalecer ou retomar os laços com o Brasil, o que certamente poderá ter algum impacto na cooperação de defesa com os EUA e seus aliados.

Nesse cenário, não nos causou surpresa ou espanto que a aeronave WC-135R Constant Phoenix da Força Aérea dos EUA, conhecida como nuke sniffer ou farejador nuclear, que realiza coleta atmosférica de partículas, gases e resíduos em apoio ao Tratado de Proibição Limitada de Testes Nucleares de 1963, sobrevoasse a costa brasileira, sem no entanto violar a nossa soberania, até o Rio de Janeiro no dia 16 de janeiro deste ano, próximo do período da atracação dos navios de guerra iranianos no Brasil.

Cabe ressaltar que a Força Aérea estadunidense informou que a missão de sua aeronave seria de realizar uma coleta básica de partículas de uma atmosfera limpa, ou seja, livre de partículas nucleares para servir de padrão comparativo, no futuro, nessa região, conforme podemos ver abaixo:


"baseline” collection mission. The aim is to sample particles from atmospheric air "to establish what atmospheric radiation levels should be like under normal conditions." (fonte: https://www.aeroflap.com.br/en/forca-aerea-dos-eua-fala-sobre-missao-de-farejador-nuclear-na-costa-brasileira/)


Outrossim, o nosso país possui o Programa Nuclear da Marinha - PNM. e que recomendamos a leitura do nosso artigo "Brasil: conseguiremos ser uma potência militar nuclear?", de 27 de maior de 2021, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/brasil-conseguiremos-ser-uma-potência-militar-nuclear, que dentre várias análises, afirmamos que não é do interesse dos EUA que haja um país vizinho com capacidade de: desenvolver submarinos com propulsão nuclear, ter tecnologia própria para construção de reatores e enriquecimento de urânio.

O Blog é de opinião que uma contínua visitação de navios de guerra iranianos à América do Sul, com a justificativa do emprego de Diplomacia Naval aguçará cada vez mais os serviços de inteligência do Ocidente, notadamente dos EUA, em virtude de verem com desconfiança o PNM, bem como devido o regime venezuelano possuir uma parceria estratégica com o Irã.

Tal desconfiança poderá impactar o nosso setor de defesa, com restrições de acesso a tecnologias importantes, pois alguns creem que "o amigo do meu inimigo, não é meu amigo".

Assim, recomenda-se cautela em relação a Diplomacia Naval iraniana junto ao nosso país.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:

Matéria de 14/01/2023:

Matéria de 04/01/2023:

Matéria de 11/06/2022:

Matéria de 26/01/2023:



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