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Curdos: uma nação sem país, usados e traídos historicamente.


Figura disponível em: https://im-media.voltron.voanews.com/Drupal/01live-166/styles/sourced/s3/2019-10/RTS2QXN7.jpg?itok=o5STPi_j

Estima-se que os Curdos sejam em torno de 35 milhões, estando dispersos, principalmente, pela Turquia, Iraque, Síria, Irã e Armênia, além de um número considerável na Alemanha. Apesar de não possuírem um território próprio e das repressões sofridas, conseguiram manter a sua cultura, língua, e tradições, o que formou a sua identidade como nação. Dessa forma, dá-se o nome do título desse artigo, uma nação sem país.

Os Curdos são em sua maioria muçulmanos sunitas, existindo uma parcela xiita e cristã.

São um povo antigo, e estavam razoavelmente integrados no Império Otomano. Porém, com o término da Primeira Guerra Mundial e a consequente divisão desse Império em países como Turquia, Irã, Iraque e Síria, os Curdos ficaram sem território, em que pese ter sido prometido a eles um país pelo Tratado de Sèvres, em 1920 entre os Aliados e o Império Otomano, conforme podemos ver na figura a seguir.

Porém, três anos após esse tratado, as esperanças dos Curdos, em terem o seu país, foram cimentadas pelo Tratado de Lausanne, que estabeleceu as fonteiras modernas da Turquia, e que sobrepujaram os limites de boa parte do Curdistão, com a anuência dos britânicos e franceses. As revoltas curdas foram reprimidas com violência.

Figura disponível em: https://static01.nyt.com/images/2014/07/03/opinion/RFD-Kurd-Map3/RFD-Kurd-Map3-tmagArticle.png

Nesse sentido, os Curdos vêm tentando se emancipar e formar um Estado. Com isso sofreram, e ainda sofrem, repressões violentas por parte dos países em que estão espalhados, porque estes perderiam parcela de seu território para o Curdistão, o que seria inaceitável.

Os principais embates contra os Curdos foram perpetrados pelo Iraque, na época de Saddam Hussein em que foi realizado um genocídio por meio de bombardeio com gases tóxicos, e pela Turquia.

Desde a Primeira Guerra Mundial, eles vêm lutando junto aos países ocidentais, no Oriente Médio, com a esperança de angariar o apoio para a sua causa e de ganhar a sonhada recompensa de possuir um território reconhecido internacionalmente, mas sempre foram utilizados como uma "ferramenta" para o atingimento dos interesses desses países, sendo os EUA um exemplo notório, onde proveram apoio militar e ao mesmo tempo, em vários episódios, deixaram-os sozinhos a própria sorte, como nas campanhas contra Saddam Hussein e o Estado Islâmico - ISIS.

Abaixo vemos como os Curdos estão dispersos na região do Oriente Médio e Ásia.

Figura disponível em: https://usercontent.one/wp/www.asianewsday.com/wp-content/uploads/2021/01/How-the-Biden-presidency-might-impact-Turkeys-Kurdish-problem.jpg

Os Curdos ganharam destaque no cenário internacional durante o conflito contra os insurgentes do ISIS na Síria e no Iraque, em que suas tropas, conhecidas como Peshmergas, conseguiram vitórias importantes e empolgantes, notadamente no Iraque e em Kobane na Síria. As referidas tropas receberam apoio logístico e treinamento dos EUA.

Após a derrocada do ISIS na Síria, as tropas dos EUA, que estavam localizadas na parte norte, se retiraram por decisão de Trump, o que permitiu que o governo turco lançasse ataques contra a população curda no interior do território sírio, com o intuito de combater os militantes dos grupos YPG (Yekîneyên Parastina Gel em Curdo ou Unidades de Proteção Popular) e PKK (Parti Karkerani Kurdistan ou Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que lutam por uma região autônoma curda na Turquia e que são considerados como terroristas pelas autoridades turcas, bem como empurrá-los para o interior da Síria, a fim de constituir uma zona de segurança ou zona "tampão" de 30 KM.

Tal operação militar turca foi alvo de protesto internacional, e de intervenção russa na região, além de aliança entre os Curdos e as tropas de Bashar al-Assad, originando embates com a Turquia. A retirada dos EUA foi encarada como uma traição aos seus "aliados" Curdos.

A Turquia continua realizando operações militares contra os Curdos tanto na região fronteiriça com a Síria, quanto com o Iraque.

Em nossa análise, os Curdos, após o sucesso no combate ao ISIS no Iraque, conseguiram consolidar a sua região autônoma ou Curdistão Iraquiano, sendo um Estado dentro de outro, com capacidade militar maior que a iraquiana, sendo um passo importante para uma futura promulgação de independência com o estabelecimento de um país Curdo.

É digno de nota que os Curdos do Iraque vêm disputando alguns territórios com o governo de Bagdá.

Figura disponível em: https://www.gisreportsonline.com/media/report_images/Irakkurds_ZVRQCnW.jpg

Em que pese a autonomia curda no Iraque, o governo de Bagdá não aceitará perder parte de seu território e não permitirá a independência curda, ainda mais devido ao Curdistão Iraquiano ser uma região rica em petróleo.

Figura disponível em: https://cdn-istoedinheiro-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/17/2017/09/94ec66b434bf44c6dc110602376b76ebcd7386c5.jpg

No link abaixo podemos ver um mapa interativo com alguns dados interessantes e importantes sobre o Curdistão:

Convém mencionar, que os Curdos, da mesma forma que no Iraque, obtiveram êxito na Síria contra o Estado Islâmico, mas com menores chances de conseguir uma possível independência, em virtude da geopolítica local. Os Curdos na Síria almejam criar um Estado chamado como Rojova.

Figura disponível em: https://i.cbc.ca/1.5315852.1570695253!/fileImage/httpImage/image.jpg_gen/derivatives/original_1180/turkey-syria-kurd-map.jpg

Na figura a seguir podemos ver a atual situação geopolítica dos Curdos e inferimos que a parte iraquiana, em virtude das condições geográficas (região montanhosa e reservas de petróleo) e militares, possui maiores chances de realizar o sonho curdo de possuir um país.

Figura disponível em: https://www.economist.com/img/b/1280/905/90/sites/default/files/20210410_WOM954.png

No cenário internacional, os Curdos vinham mantendo boas relações com Israel em virtude de terem a hostilidade árabe como ameaça comum, bem como o sentimento anti-semita e anti-curdo. Porém, com os recentes acordos de normalização de relações entre o governo de Tel Aviv com alguns governos árabes existe o temor de que haverá um distanciamento de Israel com a causa curda.

A Rússia possui interesses na exploração de petróleo no Curdistão Iraquiano e poderá desempenhar um papel importante na questão curda. Ademais, os Curdos são uma fonte de desestabilização interna na Turquia, o que é interessante para Moscou, devido a disputa geopolítica entre esses Estados, e com isso poderá prover apoio velado ao YPG e PKK.

Atualmente existe a esperança curda de que o governo Biden pressione o governo de Ankara para diminuir a repressão contra o YPG e PKK e retorne as negociações.

Nesse cenário, podemos concluir como o Oriente Médio é altamente instável e sujeito a alterações em sua geopolítica. Tal instabilidade está intimamente relacionada com os traçados feitos pelas potências ocidentais, após as Grandes Guerras Mundiais, na criação dos Estados da região, bem como os diversos interesses de atores exógenos ao local.

O Blog é de opinião de que apesar da empatia da comunidade internacional com os combatentes curdos no confronto com os militantes do Estado Islâmico, os países não reconhecerão e não apoiarão a criação do Curdistão.

Nesse sentido, a causa curda sobre uma possível independência não possui uma real aderência da comunidade internacional, pois nenhum Estado obterá ganhos geopolíticos relevantes, pois se envolverá em conflitos e desgastes sem retorno, numa região bastante instável.

Tal opinião reforça a nossa análise no artigo "Conflito Israel x Palestina: poderá mergulhar a região em conflito generalizado?", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/conflito-israel-x-palestina-poderá-mergulhar-a-região-em-conflito-generalizado, em que afirmamos que os palestinos se transformaram num problema insolvente, que ninguém deseja se envolver de fato, pois não há grandes benefícios estratégicos, sendo a mesma comparação com os curdos.

Ademais, isso poderia criar a possibilidade de emancipação de outras minorias com a consequente criação de novos países, o que vários Estados consideram como uma ameaça a sua soberania, notadamente Turquia, Síria e Irã.

Acreditamos que as repressões contra os Curdos, por parte da Turquia, Irã, Síria e Iraque, ficarão no campo das reclamações internacionais sobre a violação dos Direitos Humanos e que poderão gerar possíveis sanções, mas sem grande repercussões.

Vivemos no Realismo, em o que importa são os interesses geopolíticos dos Estados e o emprego da força, seja econômica ou militar. Sendo assim, se os Curdos quiserem ser independentes não devem esperar pelo apoio internacional, mas conquistar por meio do poder militar.

Resta-nos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos e de como a Turquia, o Irã e a Síria reagirão, caso o Curdistão Iraquiano consiga a emancipação.

Qual a sua opinião sobre o tema? Acredita que vivemos no Realismo nas relações internacionais?

Seguem alguns vídeos para auxiliar as nossas análises:

Matéria de 26/06/2015:

Matéria de 26/08/2019:

Matéria de 09/10/2019:

Matéria de 25/09/2017:

Matéria de 21/01/2021 - propaganda das Forças Armadas Curdas (Peshmergas):

Matéria de 26/06/2019:

Matéria de 04/11/2019:

Matéria de 02/06/2017:

Matéria de 10/11/2019:

Matéria de 02/11/2019:

Matéria de 10/07/2017:

Matéria de 01/06/2016:

Matéria de 05/10/2017:

Matéria de abril de 2021:


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