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Crise no Senegal: instabilidade na África Ocidental.


Figura disponível em https://s.rfi.fr/media/display/d26a72a8-c830-11ee-880c-005056bf30b7/w:980/p:16x9/3792a13d262d6f789a2a4d55ec19395e1c8ed324.jpg

O Blog em sua Seção África, acessível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1frica, acompanha os principais acontecimentos nesse importante continente, em especial os que ocorrem na África Ocidental, em virtude do Entorno Estratégico Brasileiro - EEB que abarca essa região.

Nesse sentido, a recente crise que vem ocorrendo no Senegal merece uma especial atenção, ainda mais quando ao analisarmos atentamente as medidas adotadas pelo atual governo, nos leva a inferir que pode estar ocorrendo um Golpe de Estado sob um "véu de legalidade", ou seja, um golpe constitucional.

Convém mencionar que, até agora, o Senegal era considerado como um país democrático modelo na África, não tendo histórico de Golpes de Estado e nem de Guerra Civil.

A problemática senegalesa ocorreu em virtude do adiamento, sem previsão de realização, da eleição presidencial, que ocorreria em 25 de fevereiro deste ano, com a justificativa oficial de investigar um possível caso de corrupção em sua Corte Constitucional, que é a responsável por validar as candidaturas ao cargo de presidente, pois como a Corte invalidou algumas candidaturas, ela estaria sob suspeita.

Dentre as candidaturas rejeitadas, destacam-se a de Ousmane Sonko, possui um apoio da juventude senegalesa, devido a condenação em um caso de difamação, e a de Karim Wade, que possui dupla cidadania (senegalesa e francesa), o que é proibido pela constituição do país para concorrer a Presidência.

Assim, o partido de Wade e outros partidos aliados solicitaram uma investigação sobre a Corte Constitucional, visando restabelecer a sua candidatura, o que foi aceito pelo Presidente do Senegal, Macky Sall.

Entretanto, alguns analistas senegaleses alegam duas causas para o adiamento da eleição e das medidas governamentais:


  • o candidato governamental não ganharia a eleição, e com isso com o adiamento, o governo poderia escolher outro com mais chances; e

  • o desejo de Sall de permanecer no poder, forçando um terceiro mandato.

As medidas a que nos referimos são as seguintes:

- supressão da internet para a população, o que impede a sociedade de se coordenar em seus protestos, mostrar ao mundo o que vem acontecendo, bem como em reclamar das atitudes governamentais, demonstrando o seu descontentamento com o governo. Essa medida governamental despertou na população um receio de que haja o uso desproporcional da força contra os movimentos populares;


- prisão de alguns jornalistas e o bloqueio do sinal do canal privado de televisão Walf TV, com a justificativa de limitar a incitação a violência, em virtude da cobertura jornalística sobre as manifestações;


- prisão de opositores ao governo, inclusive de alguns políticos de oposição; e


- uso da força, inclusive com munição letal, para reprimir violentamente as manifestações em prol da democracia no país.


Um dado que precisamos analisar é que a decisão do Presidente do Senegal ocorreu muito próxima ao comunicado dos governos do Mali, Burkina Faso e Niger, que anunciaram conjuntamente em 28 de janeiro de 2024, que sairão da Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental, que em inglês é conhecida como Economic Community of West African States (ECOWAS), que é uma aliança política e econômica.

Conforme podemos verificar no mapa abaixo, o Senegal tem como vizinhos alguns países que tiveram Golpes de Estado e em outros tentativas disto, desde 2021.

Ademais, é importante pontuar que têm havido tentativas de Golpes de Estado na África Ocidental, que paz parte do EEB. Não por coincidência tais episódios têm ocorrido em países que, em sua maioria, foram colônias francesas.

Dessa forma, recomendamos a leitura dos nossos artigos abaixo:


- "Instabilidade no Entorno Estratégico Brasileiro: Golpes de Estado na África Ocidental II - Gabão", de 01 de setembro de 2023, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/instabilidade-no-entorno-estratégico-brasileiro-golpes-de-estado-na-áfrica-ocidental-ii-gabão;

- "África, palco de disputas geopolíticas. Parte III: Níger", de 05 de agosto de 2023, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/áfrica-palco-de-disputas-geopolíticas-parte-iii-níger;

_ "Instabilidade no Entorno Estratégico Brasileiro: Golpes de Estado na África Ocidental", de 12 de fevereiro de 2022, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/instabilidade-no-entorno-estratégico-brasileiro-golpes-de-estado-na-áfrica-ocidental;


Mapa que mostra o Senegal e os seus vizinhos:

Figura disponível em https://d2z7bzwflv7old.cloudfront.net/cdn_image/exW_1200/images/maps/en/sg/sg-area.gif

Outrossim, cabe frisar que nos artigos que mencionamos acima, afirmamos que tem ocorrido uma disputa geopolítica entre os russos e os franceses na África.

Logo, não podemos descartar que possa estar ocorrendo, em certa medida, uma influência russa nessa questão, como ocorrida nos outros países, notadamente os do Sahel, como: Mali, Niger e Burkina Faso.

É digno de nota que, em 28 de julho de 2023, houve um encontro entre Vladimir Putin e Macky Sall no Encontro Rússia - África, em São Petersburgo, em que o Presidente russo afirmou a importância do Senegal para o seu país:


Mr President, I would like to emphasise that we consider Senegal to be Russia’s important and reliable partner in Africa. At the end of 2022, for the second year in a row, your country ranked first in terms of trade with Russia among the countries of Sub-Saharan Africa. It reached almost 1.5 billion US dollars, which is a good indicator. This is a very good trend that needs to be developed. And of course, we need to work on increasing the absolute figures as well. (fonte: http://en.kremlin.ru/events/president/news/71834)


Importa mencionar que os russos contam com a simpatia de uma parte dos senegaleses, bem como havia um alerta de uma possível influência do governo de Moscou na eleição presidencial senegalesa de 2024, como podemos ver nas matérias a seguir:


_ "The West forgets that the Russians were with us in our liberation struggles", de 11 de junho de 2023, disponível em https://english.elpais.com/culture/2023-06-10/the-west-forgets-that-the-russians-were-with-us-in-our-liberation-struggles.html;


_ "Senegal is the next African country in Russia's crosshairs", de 11 de dezembro de 2023, acessível em https://www.eureporter.co/world/republic-of-senegal/2023/12/11/sinegal-is-the-next-african-country-in-russias-crosshairs/.


Nesse cenário, podemos concluir que tanto a ECOWAS quanto a União Africana estão sob pressão quanto a sua capacidade de conter a instabilidade na África, em especial na parte Ocidental. Além disso, não podemos esquecer que existe uma preocupação da França, dos EUA e da União Europeia com o que vem ocorrendo, principalmente sobre o aumento da influência russa nos países africanos.

O Blog é de opinião que o Brasil deve acompanhar com atenção os desdobramentos da crise no Senegal, pois trata-se de uma região estratégica, em virtude de encontrar-se no EEB.

Portanto, é bem provável que estamos vendo a continuação da disputa geopolítica entre a França e a Rússia na África, como analisamos nos artigos citados nessa matéria.

Nesse cenário, é interessante analisar como a China vê o possível aumento da influência russa na África, e como isto poderia impactar em seus interesses no continente africano.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:

Matéria de 05/02/2024:

Matéria de 09/02/2024:

Matéria de 05/02/2024:

Matéria de 10/02/2024:

Matéria de 09/02/2024:

Matéria de 05/02/2024:


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