O Blog tem acompanhado o Conflito da Ucrânia por meio de vários artigos, que podem ser lidos na nossa Seção Rússia, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/r%C3%BAssia. Entretanto, no nosso artigo "A invasão da Ucrânia: o que pode sinalizar para o mundo?", de 24 de fevereiro de 2022, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-invasão-da-ucrânia-o-que-pode-sinalizar-para-o-mundo, dentre de várias análise que fizemos, afirmamos que o ano de 2022 se apresenta como uma tempestade geopolítica perfeita, e que o desfecho da crise na Ucrânia poderá mudar a ordem mundial. Assim, a triste invasão russa poderá entrar para a história como o início do caos do mundo, restando saber quando, e se, entraremos num período de paz e estabilidade mundiais. Outrossim, esse episódio reforça a nossa análise de que estamos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro, bem como não há, no momento, uma força que seja capaz de estabilizar o sistema internacional. Dessa forma, o futuro torna-se incerto. Como o nosso país não é uma ilha, o conflito poderá impactar o nosso país, tanto no campo econômico quanto no político externo.
Nesse sentido, em quase oito meses de conflito, sem que exista uma previsão para o seu término, podemos afirmar que Vladimir Putin abriu a sua Caixa de Pandora, impactando o mundo, em que dela saíram incertezas e prováveis desgraças, como os possíveis problemas para os países: inflação, escassez de grãos, aumento dos custos da energia, possibilidade de uso de armas nucleares, etc. Maiores detalhes da história sobre o mito da Caixa de Pandora podem ser obtidos em https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/caixa-de-pandora e https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/caixa-pandora.htm.
Além disso, no campo interno russo, o seu governo tem perdido, a cada dia, mais popularidade, chegando a sofrer várias críticas, inclusive de políticos e da mídia russa, o que até pouco tempo era impensável. Boa parte dos russos não entendem, o motivo do fiasco da campanha militar na Ucrânia, e que acreditavam, bem como boa parte da população mundial, que as forças armadas russas venceriam o conflito em poucas semanas. Ademais, vários russos têm saído do país, visando evitar a convocação para o campo de batalha, seja por não considerar a campanha militar legítima, ou por não apoiar o governo e a sua mobilização.
Dessa forma, o governo Putin está sob forte pressão política e popular, fazendo com que haja a troca contínua de generais e dos comandantes das tropas russas engajadas no conflito, com o intuito de melhorar a performance militar, bem como ter ameaçado usar armas nucleares, em caso de ataque ao território russo, demonstrando que está ocorrendo uma certa dose de "desespero", e que não se sabe ao certo o que deve ser feito para reverter os insucessos.
Outro ponto que merece destaque é o desgaste que Wagner Group, que atende aos interesses geopolíticos de Putin e que é considerado como um exército privado ao seu dispor, vem sofrendo no conflito. Acordo informações, dos cinco mil integrantes enviados para lutar contra os ucranianos cerca de mil e quinhentos pereceram. Convém mencionar que esse grupo foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso inicial russo, mas que o seu uso não é por longos períodos, o que tem sido uma das explicações pelos fracassos russos. O Blog por meio do seu artigo "Seção Inteligência: Os mercenários russos", de 28 de maio de 2020, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/seção-inteligência-os-mercenários-russos, aborda sobre esse grupo e que recomendamos a leitura.
Recentemente, aconteceram três eventos que potencializam as incertezas do que poderá ocorrer em curto e médio prazos, bem como sobre o desfecho do conflito:
a) sabotagem nos gasodutos NORD STREAM 1 e 2, em que existem acusações de que poderia ter sido cometida pelos estadunidenses, visando forçar aos europeus a não mais depender do gás russo; pelos russos, com o intuito de continuar com a sua guerra energética contra o Ocidente, ainda mais em que o inverno se aproxima;
b) anexação de quatro territórios ucranianos, Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye, à Rússia, que tem um valor estratégico muito importante, pois permitirá a ligação por terra a Crimeia. Além disso, faz com que o centro siderúrgico e energético ucranianos fiquem de posse dos russos, bem como todo o acesso ao mar de AZOV, consolidando a segurança da Crimeia:
A anexação desses territórios aconteceu logo após os avanços das tropas ucranianas, em sua contraofensiva, em direção a essas regiões, visando retomá-las. Outrossim, ela foi precedida de um referendo totalmente questionável junto as populações das regiões anexadas, visando ter ar de legitimidade; e
c) a explosão na ponte que liga o território russo a Crimeia, um dia após o aniversário de Putin, que pode ter sido um ato de sabotagem ou ataque por parte dos ucranianos, significando um desafio, e colocando mais pressão no atual governo russo.
Portanto, com o que vimos até aqui, podemos fazer algumas considerações relevantes:
1) Tanto a OTAN, quanto a Rússia estão num beco sem saída, pois a aliança não pode deixar de dar apoio aos ucranianos, bem como o governo russo não pode ceder ou devolver os territórios anexados, porque não pode demonstrar fraqueza nos campos interno e externo. Assim, os dois lados estão presos nessa trama. Ademais, os ucranianos estão sem controle, pois como estão muito autoconfiantes começam a atacar a Crimeia e as regiões recém anexadas por Moscou, o que pode ensejar uma resposta desproporcional russa, inclusive com armas nucleares táticas;
2) A elevada pressão sobre o governo de Putin faz com que a sua reação seja imprevisível, e que um erro de cálculo poderá levar o conflito para toda a Europa;
3) A situação militar russa, com equipamentos ultrapassados e pessoal despreparado, surpreendeu negativamente os aliados e adversários, caindo por terra a visão de força do "urso". Tal imagem era em parte devido ao uso dos mercenários russos, notadamente o Wagner Group, no atingimento dos objetivos geopolíticos de Putin;
4) A Rússia começa a ser desafiada pelos Estados europeus que possuem um misto de pavor e ressentimento históricos com a ex-União Soviética, como a Polônia e os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia);
5) Ratificamos todas as análises do nosso artigo "Reflexões sobre o conflito na Ucrânia", de 06 de março de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/reflexões-sobre-o-conflito-na-ucrânia, tais como: a China será a grande vencedora do conflito, importância da diversificação da matriz energética com energias alternativas, não estamos livres de um possível conflito nuclear, dentre outras. Recomendamos a releitura da matéria;
6) A força militar convencional da aliança ocidental apresenta-se superior a russa. Conforme informações advindas do campo de batalha, foi encontrado muito material ultrapassado russo (tanques, fuzis etc). Ademais, existe indícios de uso de drones de origem iraniana pelos russos. Lógico que uma aliança possui maior escala e especialização que um só país.
Logo, podemos vislumbrar alguns cenários:
a) O governo de Putin será derrubado, em virtude da perda de sustentação, militar política e popular, e com o conflito entrando numa fase de atrição sem previsão de término, assumirá o poder um líder mais radical endurecendo ainda mais a relação com o Ocidente. Além disso, declararia guerra a Ucrânia, usando a mobilização nacional, visando consolidar os territórios ocupados. Nesse cenário existe possibilidade de guerra entre a Rússia e a OTAN;
b) ) O governo de Putin será derrubado, em virtude da perda de sustentação, militar política e popular, e com o conflito entrando numa fase de atrição sem previsão de término, assumirá o poder um líder que inaugurará um período democrático e tentará restaurar a relação com o Ocidente. Para tanto, os territórios anexados seriam devolvidos a Ucrânia;
c) Putin, devido a grande pressão popular e política, bem como a crescente insatisfação militar, fará uma resposta desproporcional a contraofensiva ucraniana, visando se manter no poder, chegando a confrontar a OTAN. Existe a possibilidade de uso de armas táticas nucleares na Ucrânia o que daria início a um conflito nuclear entre a Rússia e o Ocidente. Nesse cenário existe uma maior possibilidade de guerra entre a Rússia e a OTAN; e
d) A OTAN, entendendo o dilema de Putin em ter que agir de forma totalmente desproporcional para se manter no poder, diminuirá o apoio militar a Ucrânia, permitindo uma negociação entre russos e ucranianos que possibilite a cessação das hostilidades e um alívio para Putin, evitando assim uma guerra contra a aliança, que poderia se tornar nuclear.
Continuando a nossa análise, são as seguintes probabilidades deles acontecerem:
- Cenário a): 30%;
- Cenário b): 10%;
- Cenário c): 50%;
- Cenário d): 40%.
Dessa forma, ao analisarmos as probabilidades, vemos que é muito baixa a do cenário b), com isso é esperado que o conflito continue. Entretanto, para que não aconteça um conflito de maior intensidade, existe a dependência do cenário d) acontecer.
Vemos que quando Putin invadiu a Ucrânia, ele abriu a Caixa de Pandora para o mundo, e que contou da ajuda do Ocidente que viu no conflito uma oportunidade de usar os ucranianos em sua disputa com os russos, desgastando-os e tentando derrubar o atual governo de Moscou, que só agora viu que está numa situação extremamente perigosa, pois a resposta de Putin, que se encontra acuado, é imprevisível.
Com o acima exposto, o Blog é de opinião que além de estarmos vivendo num mundo cada vez mais imprevisível e menos seguro, como sempre temos dito desde o nosso primeiro artigo, também estamos na DESORDEM MUNDIAL, sendo o futuro totalmente incerto.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar as nossas análises:
Matéria de 04/10/2022:
Matéria de 04/10/2022:
Matéria de 08/10/2022:
Matéria de 06/10/2022:
Matéria de 03/10/2022:
Matéria de 08/10/2022:
Matéria de 07/10/2022:
Matéria de 07/10/2022:
Matéria de 08/10/2022:
Matéria de 08/10/2022:
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