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Como planejar uma Marinha de Guerra? Tema para reflexão da sociedade.


Figura disponível em: https://www.cbo.gov/sites/default/files/styles/480/public/2018-10/54564-home-cover.jpg?itok=nX_l2j7Y

O Blog vem discutindo em alguns de seus artigos que o Brasil possui como uma de suas vulnerabilidades o Atlântico Sul, e com isso existe uma necessidade premente de termos uma Estratégia Marítima para o Século XXI. Os artigos podem ser acessados em nossa Seção Brasil disponível no link https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/brasil.

Dessa forma, o objetivo desse texto é discutir como deve ser planejada uma Marinha de Guerra, com o intuito de levar ao leitor a uma reflexão sobre o tema. Para facilitar o desenvolvimento do trabalho, nos referiremos a Marinha de Guerra como Marinha.

Além disso, vamos definir, neste artigo, a Marinha como uma Força que possua uma capacidade razoável de: dissuasão, controlar e/ou negar uma área marítima, projetar poder, garantir os interesses nacionais no exterior e contribuir para a segurança e a paz internacional por meio de operações multinacionais.

Nesse sentido, começamos por uma indagação simples. Que tipo de Marinha nós desejamos? Visando respondê-la podemos iniciar, de forma bem resumida, abordando três hipóteses ou cenários que serviram, e ainda servem, de ponto de partida para muitos países:

  1. O Estado já possui uma Marinha e intenciona mantê-la como está, relativamente, às outras Marinhas no mundo. Seria manter a sua capacidade atual, pois está satisfeito com que pode realizar;

  2. O Estado já possui uma Marinha e deseja que ela se torne maior que as dos outros países. Esse cenário pode ser entendido como sendo uma vontade de aumentar o seu protagonismo no cenário internacional; e

  3. O Estado não possui uma Marinha propriamente dita, e com isso precisa decidir como irá construí-la ou planejá-la. Esse cenário geralmente pode ser relacionado aos países recém independentes ou formados, bem como os países que não possuem uma tradição ou mentalidade marítima, onde possuíam Marinhas incipientes que mal podiam realizar a defesa de seus litorais.

Porém, existe um cenário que apesar de ser plausível, não é desejável, e iremos considerar como o cenário 4:

  • O Estado tem uma Marinha, mas que em virtude de problemas econômicos ou por decisões políticas seja reduzida a uma Força que deixe de atender a definição que estabelecemos anteriormente. Esse cenário ocorreu com muitos países, e que historicamente acabaram por enfrentar problemas de disputas marítimas em situação precária. Dessa forma, existe um retrocesso da Marinha desse país, e com isso deverá retornar ao cenário 3.

Nesse diapasão, conhecer e ter a certeza de qual cenário a Marinha do Estado se encontra, bem como saber para onde se quer "caminhar" é um bom início de reflexão. Uma vez decidido pela sociedade o que se deseja, tem-se início a implementação de toda a estrutura necessária, como a parte logística com a construção de indústrias de manutenção (estaleiros, diques, dentre outras), bases de apoio logístico no exterior etc.

Um exemplo do cenário 3 que podemos citar seria o da marinha chinesa, que após a II Guerra Mundial possuía uma Marinha incipiente, e que após Deng Xiaoping concluir que para a China ser um grande país era necessário olhar para o mar, devido a necessidade de ampliar o comércio exterior. Com isso, ter uma grande Marinha eficiente e eficaz era primordial.

Dessa forma, os governos chineses decidiram que empregariam a concepção mahaniana com "toques"de pensadores chineses, conforme podemos verificar no livro Red Star Over the Pacific de James R. Holmes e Toshi Yoshihara, que recomendamos a leitura. Atualmente, a Marinha chinesa é a maior Marinha do mundo, ultrapassando a estadunidense.

Um das conclusões que podemos chegar é que torna-se fundamental o apoio político, que representa a sociedade, para se construir e planejar uma Marinha. Não adianta que o alto Comando de uma Marinha idealize que tipo de Força Naval o Estado deve ter. Isso deve estar alinhado com o poder político e as aspirações da sua sociedade. Afinal é a sociedade livre e cidadã que paga os impostos é que deve decidir, por meio dos seus representantes, o que deve ser feito, bem como arcar com o ônus de suas escolhas.

Além disso, outro fator relevante na construção de uma Marinha é a sua proficiência, ou em outros termos, a experiência em operar no ambiente marítimo.

Dessa forma, acreditamos que uma Marinha que esteja inserida no cenário 3, deve levar cerca de 30 anos para estar madura, pois seria quando teríamos Oficiais e Praças experientes com capacidade de subsidiar a alta administração naval na tomada de decisões. Sendo assim, quando menos uma Marinha opera menor é a experiência de seu pessoal.

Nos dias atuais, outra forma de pensar na construção de uma Força Militar seria no Planejamento Baseado em Capacidades - PBC, onde, de forma resumida, por meio da análise das tarefas a serem cumpridas, bem como nas possíveis ameaças a serem enfrentadas é que seria idealizado o dimensionamento dessa Força.

Porém, mais uma vez depende do apoio político que é responsável por alocar orçamento e prioridade.

Sendo assim, inferimos que o estabelecimento de uma Política Marítima adequada as aspirações da sociedade é condição sine qua non para a criação de uma Estratégia Marítima que sirva como "farol" para o planejamento de sua Marinha.

Nesse sentido, é necessário que os parlamentares tenham uma assessoria adequada para compreender a importância de se ter uma Marinha bem planejada, pois a maioria do comércio entre os Estados é feito pelo mar.

No nosso artigo "Brasil: precisamos ter uma estratégia marítima para o século XXI", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/brasil-precisamos-ter-uma-estratégia-marítima-para-o-século-xxi, afirmamos que o Brasil possui uma grande vulnerabilidade no tocante a nossa fronteira oriental que é o Atlântico Sul, e que devemos tratar com seriedade essa questão sob a pena de termos um problema no futuro, pois ao olharmos o cenário internacional a maioria das crises e tensões têm tido a sua origem no mar, devido as disputas marítimas pelo direito de exploração dos recursos marinhos. E que o nosso governo precisa de forma urgente estabelecer uma estratégia marítima brasileira, adequada as nossas possibilidades, tendo como referência os grandes pensadores navais do passado e contemporâneos como Mahan, Corbett, Hughes e Till, bem como a nossa Therezinha de Castro, pois uma marinha eficiente, moderna e com alto nível de proficiência leva cerca de trinta anos, então o contador quando mais tarde for iniciado mais tempo levará para diminuirmos a nossa maior vulnerabilidade que são as ameaças que vêm pelo mar.

Convém relembrar que cerca de 95% do nosso comércio exterior é feito pelo mar, e que somos uma potência terrestre consolidada na América do Sul.

Ao olharmos para a situação de nossa Marinha, infelizmente, o Blog é de opinião de que estamos cenário 4, e com isso devemos ser inseridos na situação 3. Para tanto, ratificamos a nossa análise de que devemos implementar uma Estratégia Marítima para o Século XXI, visando planejar uma Força de acordo com as aspirações da sociedade brasileira.

Outrossim, é importante que a nossa sociedade reflita sobre qual Marinha ela deseja, e exija dos parlamentares (poder político), que são os seus representantes, que sejam previstas as condições necessárias para a modernização e construção de sua Força Naval, sob a pena de enfrentar problemas futuros.

É digno de nota que no Século XX as principais ameças ao Brasil vieram do mar, com isso a criação de uma mentalidade marítima em nossa sociedade é fundamental. Ademais, no atual Século, algumas ameaças a nossa soberania começam a se apresentar.

Qual a sua opinião? Que Marinha você deseja? Afinal, como estaremos no cenário 3, temos a oportunidade de decidirmos qual será o nosso papel no cenário internacional!

2 Comments


marcelo.wms
Jun 26, 2021

Excelente artigo, no qual o autor expõe claramente alguns aspectos bastante sensíveis para aqueles veem e estudam o tema "Defesa" sem lentes coloridas e com os pés no chão... Chega a ser inacreditável a incapacidade de ocuparmos espaço e promovermos a visibilidade (percepção) adequada sobre "as coisas do mar", dada a importância daquele ambiente para nossa balança comercial, aproveitamento de recursos (vivos e não vivos), segurança de cabos submarinos, defesa do "coração " do país (região sudeste) e para a nossa projeção no cenário internacional. Parabéns, mais uma vez, ao Comandante TITO ! Marcelo William

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Muito obrigado Comte!

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