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Cazaquistão: o que pode estar por trás das manifestações?


Figura disponível em: https://images.carnegieendowment.org/images/article_images/kazakhstan-protests_e9df53df-c2c7-4c7d-b5ed-42bba096f176.jpg

O Cazaquistão, desde o dia 2 de janeiro, está passando por momentos tensos, devido as manifestações que se iniciaram na região oeste, e se espalharam pelo território cazaque, contra o aumento no preço do gás, o que levou a uma escalada da violência entre os manifestantes e as forças de segurança locais, apresentando uma magnitude inédita na história recente desse país. É digno de nota que em 2016 e 2019 ocorreram protestos, mas de menor escala.

Convém mencionar que durante os intensos protestos, os manifestantes começaram a apresentar outras demandas sociais, como melhores condições de vida, maior liberdade civil e desagravo contra o ex-presidente e ditador cazaque Nursultan Nazarbayev, que governou o país de forma autoritária, realizando o culto a sua personalidade, desde a independência da ex-União Soviética, em 1991, até 2019 e que fez o seu sucessor, o atual presidente Kassym-Jomart Tokayev.

Dessa forma, esse fato ratifica a análise feita pelo Blog, em 2020, que afirma que a pandemia da COVID-19 potencializou os movimentos reivindicatórios sociais ao redor do mundo, e que a década de protestos, iniciada em 2010, ainda está em curso.

É importante ressaltar que o Cazaquistão é um grande produtor de petróleo e gás, em que uma boa parte da produção de petróleo é destinada ao mercado chinês, bem como é o maior produtor mundial de urânio, sendo responsável por cerca de 40% da produção global. Além disso, é um dos maiores países da Ásia Central e um dos mais ricos, onde tal situação de riqueza contrasta com a alta desigualdade social, em que existe uma alta concentração de renda com uma minoria da população, acarretando um alto índice de corrupção.

Na figura abaixo, vemos que a capital do país teve o seu nome alterado, em 2019, de Astana para Nursultan para homenagear o antigo ditador que continua até os dias de hoje exercendo uma grande influência nos destinos do Cazaquistão.

Figura disponível em: https://gdb.voanews.com/2953da92-bda9-4d22-8a06-5de27f97fe68_w1023_r1_s.jpg

Como o Cazaquistão é um dos principais países da Ásia Central, essa instabilidade traz preocupações para a região, principalmente para os seus poderosos vizinhos: China e Rússia, devido aos seguintes motivos:


- China: a região de Xinjiang faz fronteira com o Cazaquistão e o sucesso dos protestos cazaques, com uma possível deposição do governo, pode incentivar o aumento de manifestações de populares desse país contra a repressão chinesa aos uigures, gerando tensões políticas e religiosas, o que pode ocasionar uma dificuldade à implementação do projeto chinês da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), pois a rota idealizada passa pelo Cazaquistão. Além disso, a China recebe boa parte da produção cazaque de petróleo e urânio. Dessa forma, as razões econômicas e de segurança fazem com que a China preste apoio ao atual governo cazaque, o que vem fazendo durante os protestos, e rejeita qualquer intervenção ocidental na crise interna daquele país; e


- Rússia: não deseja perder um governo aliado de um país que é importante em sua zona de influência e em seu entorno estratégico, ainda mais quando é relevante para a sua segurança. Dessa forma, não irá cometer o mesmo erro geopolítico em não ter intervindo na Ucrânia durante a Revolução Ucraniana de 2014 que depôs o governo pró Rússia liderado por Viktor Ianukovich, que atualmente vive exilado neste país, o que deu origem a invasão russa da Crimeia e a problemática da Região de Donbass. Nesse sentido, após esse fato, Putin não deixou "escapar" mais nenhum país considerado "tampão", como fez com a Bielorússia, e agora com o Cazaquistão, em que enviou tropas de paz para ajudar ao governo a controlar a situação, após a solicitação do aliado. Assim, Putin irá garantir o governo aliado no poder e poderá aumentar a sua influência sobre esse país, que é importante para os russos tanto pela segurança, quanto economicamente. Ressalta-se a relevância da base espacial de Baikonur para a Rússia.

Nesse sentido, as mídias estatais russas alegam que serviços de inteligência dos EUA e dos seus aliados europeus estariam por trás dos protestos no Cazaquistão, bem como teriam ajudado a fomentar manifestações em países do seu entorno, como a Ucrânia (2004 -2005 e 2014), Georgia (2003), Armênia (2018) e Bielorússia (2020). Tal justificativa também foi usada por Putin internamente quando houve manifestações oposicionistas ao seu governo.

Destarte, vemos que Moscou possui uma grande preocupação com as manifestações sociais no seu entorno, e para tanto demonstra tratar o assunto com muita seriedade e atenção, bastando ver a rápida reação na mobilização de suas tropas para envio onde se fizer necessário.

A observação abaixo do especialista em assuntos da Rússia Hans-Henning Schröder, que já atuou no Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), corrobora a nossa análise sobre a preocupação de Putin com os movimentos sociais:

"Todos os grandes vizinhos da Rússia foram abalados por agitações sociais" (disponível em https://www.dw.com/pt-br/an%C3%A1lise-protestos-no-cazaquist%C3%A3o-podem-ser-amea%C3%A7a-ou-chance-para-r%C3%BAssia/a-60359845) .

Nesse contexto, vemos que o Ocidente, representado pelos EUA e os seus aliados da OTAN, apoia os manifestantes e é contrário ao uso da força pelo Estado. Dessa forma, pode-se inferir que os ocidentais intencionam, assim, enfraquecer politicamente o aliado russo, fazendo com que Putin tenha que lidar com esse problema e com isso diminuindo, momentaneamente, a pressão russa junto a Ucrânia.

O Blog é de opinião que as manifestações cazaques são uma ameaça aos interesses sino-russos, especialmente aos da Rússia, e com isso os dois países irão prestar todo o apoio necessário para manter o status quo no Cazaquistão, pois não é interessante a Putin e nem a Xi Jinping que seja estabelecido um governo democrático naquele país.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:

Matéria de 08/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:

Matéria de 06/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:

Matéria de 07/01/2022:


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