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As Forças Armadas e a Geopolítica Energética: estamos dando a devida atenção estratégica?


Figura disponível em: https://static.reuters.com/resources/r/?m=02&d=20170301&t=2&i=1174530955&r=LYNXMPED201MZ&w=800

O Blog vem chamando a atenção do leitor sobre a tendência mundial de transição energética dos combustíveis fósseis para as fontes de energia alternativas, e que marcará o declínio da Geopolítica do Petróleo. A expectativa é que as fontes de energia alternativas superem as fontes fósseis dentro de um período de 50 anos, mas ainda conviveremos com o petróleo.

A realidade da ascensão do emprego das energias alternativas, como as as renováveis, pode ser expressa no artigo da McKinsey & Company, e que pode ser acessado em https://www.mckinsey.com/industries/electric-power-and-natural-gas/our-insights/rethinking-the-renewable-strategy-for-an-age-of-global-competition:


Over the past decade, renewables have developed from niche technology to global industry. With environmental concerns rising to the top of global and regional agendas, the debate has shifted from “When will renewables take off?” to “How much faster will they grow?” As the cost of renewables continues to fall sharply and their growth rates soar, a virtuous cycle is set in motion. The need for clean power in emerging economies only adds to the momentum. [...] Until recently, governments’ support programs shielded renewable companies from market risk, while technology risk and high barriers to entry shielded them from significant competition. But all that has changed. Today’s industry is coming under enormous cost pressure from extremely competitive reverse auctions. At the same time, the technology risk is falling as suppliers mature, allowing new entrants to join the fray. Nontraditional renewable players, such as institutional investors and oil and gas majors, are investing significant sums to play their parts in the global race for renewables.


Em 19 de novembro de 2020, a União Europeia lançou a sua estratégia para ser o primeiro continente a neutralizar a emissão de gases poluentes até 2050. Nessa estratégia, chamada European Green Deal, foi publicado um plano para o atingimento do efeito desejado onde as energias renováveis possuem um papel relevante. O documento intitulado Offshore Renewable Energy Strategy, pode ser lido no link disponível no Blog em https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_8f1cba68d3ad46868a86bd04ff981cde.pdf.

Segue um trecho do documento:


The EU is raising its climate targets for 2030 and is committed to becoming climate-neutral by 2050. Renewable energy will play an important role in reaching this higher ambition – including the generation of more energy at sea and from the sea. The EU is already a world leader in offshore renewable energy production and technologies. And there is potential for further development in a cost-effective way.


Nesse sentido, os Estados que se planejarem adequadamente serão menos impactados no futuro. Para tanto, faz-se necessário iniciar a adoção de políticas que possibilitem investimentos tanto no meio civil quanto no militar.

Dessa forma, seguem resumos de alguns dos nossos artigos que abordaram o tema, visando contextualizar os novos leitores sobre os principais pontos:

  • "A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-emergência-climática-e-os-seus-possíveis-impactos-na-geopolítica-mundial, afirmamos que as fontes de energia ditaram e ainda ditam a geopolítica mundial, como o poder de mercado dos atuais produtores mundiais de petróleo e gás, e que estamos vendo mudanças no consumo e nas relações entre governos e o desenvolvimento de fontes de energia alternativas, visando a substituição das fontes fósseis, fazendo com que tenha início uma nova transição energética. Além disso, estudamos que a Emergência Climática - EC afeta as operações militares, potencializa conflitos, pode iniciar tensões e crises entre Estados, pode ser causa de imigrações e afeta em maior grau os países mais pobres, e que outra importante consequência do aquecimento global tem sido a nova disputa geopolítica da região do Ártico. Outrossim, analisamos que a EC está afetando e continuará a moldar as relações entre os países, e que algumas potências utilizarão esse argumento para atingir os seus objetivos geopolíticos, bem como os governos que não adotarem políticas sustentáveis ou não demonstrarem que zelam pelos seus ecossistemas estarão sujeitos a pressões internacionais, por meio de sanções políticas e econômicas, ou até mesmo de pressão militar com a justificativa de se garantir a segurança e a paz internacional.

  • "Geopolítica do Petróleo está em declínio? A Geopolítica Energética está em transição?", acessível em: https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-do-petróleo-está-em-declínio-a-geopolítica-energética-está-em-transição, apresentamos que quem estiver atento e se planejar bem para essa transição não enfrentará grandes problemas, bem como não será pego de surpresa com o declínio do petróleo como fonte dominante". Além disso, "as fontes alternativas de energia são fundamentais para o meio militar, sejam nas missões de paz (onde as infraestruturas de energia das regiões onde ocorrem são muito deficientes), quanto para a redução da dependência do fornecimento de petróleo estrangeiro para operar os seus meios (navios, aeronaves etc)", bem como analisamos que "o Brasil tem todas as condições para ser uma potência energética do Século XXI".

Convém mencionar que estudamos no Blog a ocorrência de várias tensões e crises, principalmente no mar, por disputas de reservas de petróleo e gás, como a problemática entre a Turquia e a Grécia, e a disputa no Mar do Sul da China, dentre outras.

Recentemente, o nosso país está sendo fortemente afetado pela variação do preço do barril do petróleo, que é em dólar, e potencializada pela desvalorização da nossa moeda, o que impacta no valor do combustível, trazendo desafios para a nossa economia e consequências para as nossas Forças Armadas, devido ao aumento do custo operacional, que dificulta, e por vezes inviabiliza, a realização de exercícios e manobras mais complexas. É digno de nota que uma das forças mais impactadas é a Marinha, devido a necessidade dos nossos meios navais terem de patrulhar extensas áreas da Amazônia Azul.

Tal cenário já ocorreu no passado, mas o tema nunca foi tratada de forma estratégica no setor de defesa, pois até hoje não temos uma estratégia de Estado para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis como fazem outros governos. Isso pode ser notado ao se ler a Política Nacional de Defesa - PND e a Estratégia de Defesa Nacional - END, em que somente é citada como estratégica a Energia Nuclear, mas não trata de forma clara e objetiva as outras fontes de energia alternativa, em que pese as nossas Forças tenham iniciativas singulares, mas sem uma coordenação do Ministério da Defesa, com metas e objetivos a alcançar tanto na energia utilizada pelas Organizações Militares não operacionais (instalation energy) quanto na energia empregada no campo operacional (operational energy).

Não devemos olhar as fontes alternativas de energia somente pelo viés econômico, mas também pela autossuficiência energética e estratégica. Isso é fundamental no meio militar, pois diminui as vulnerabilidades logísticas dos nossas tropas, e contribuindo para a manutenção do adestramento.

A nossa afirmação encontra concordância com o artigo do Truman Center, e que pode ser lido na íntegra em http://trumancenter.org/doctrine-blog/renewable-energy-is-key-to-military-strategy/:


Our military leaders have one paramount priority: keeping America safe. The military identifies and confronts threats to America’s security. As a part of that mission, the military recognizes that its reliance on fossil fuels poses a strategic threat. The Department of Defense is leading the way in developing clean, renewable sources of energy to provide secure supplies of energy for our warfighters. [...] The military has been investing in advanced biofuels because military leaders recognize that being beholden to global oil markets makes us vulnerable to unstable and unfriendly regimes. [...] The U.S. military is the largest institutional consumer of fuel in the world, accounting for 2% of our nation’s petroleum use and 93% of the U.S. government’s energy use. For every $10 rise in the price of oil, the Department of Defense must come up with an extra $1.3 billion annually, which must be diverted from training, maintenance, and other mission-essential items in the DoD budget. That means our reliance on oil directly threatens the readiness of our troops. [...] The military has a strategy to confront its reliance on oil. Growing fuels at home instead of importing them from abroad protects against price spikes in oil markets. Harnessing solar and wind energy to power military bases helps ensure bases don’t go dark if our fragile electric grid is damaged. Solar panels on remote forward operating bases reduce the number of dangerous fuel convoys needed to resupply troops on the front lines.


Além disso, instituições de ensino superior e Think Tanks corroboram o entendimento da importância estratégica do uso das energias renováveis na Defesa, como o contido no artigo da Yale Climate Connections, chamado "The military is interested in deploying renewable energy in combat zones", que pode ser lido em https://yaleclimateconnections.org/2019/07/the-military-is-interested-in-deploying-renewable-energy-in-combat-zones/:


During the wars in Afghanistan and Iraq, the military set up temporary bases that ran on diesel fuel. That fuel had to be transported through combat zones. A study by the Army Environmental Policy Institute found that in 2007, about 170 U.S. soldiers were killed while protecting fuel convoys in those countries [...] He says to reduce its dependence on fossil fuels, the military is experimenting with using renewable energy. For example, the Army has tested a portable microgrid system with solar panels and battery storage. He says using renewables could make soldiers safer and save money because using fossil fuels.


Devido a relevância dessa questão, que é comum para muitos Estados, o congresso estadunidense realiza um acompanhamento do problema, em que podemos ver pelo documento Department of Defense Energy Management: Background and Issues for Congress, datado de 25 de julho de 2019, disponível no Blog em https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_baa1bd1eb6744f6888ccf6fd2b25dc48.pdf, que faz uma análise do consumo das suas Forças Armadas e propõe possíveis soluções. Além disso, demonstra que após o estabelecimento da Estratégia Energy for the Warfighter, lançada em 2011, houve uma redução do consumo de suas forças, como mostra figura abaixo que consta nesse documento.

No meu trabalho de conclusão de curso referente ao Curso de Altos Estudos de Política e Estratégica (CAEPE) da Escola Superior de Guerra (ESG) de 2017, abordei as iniciativas das Forças Armadas dos EUA (Estratégia Energy for the Warfighter) e do Reino Unido, com especial atenção as suas marinhas, bem como relato a minha experiência, de 2016, quando comandei a Base Naval do Rio de Janeiro (BNRJ) e iniciei os estudos para que a Marinha do Brasil migrasse para o mercado livre de energia, e que deu origem ao programa CON Energia e ao atual Energia Naval. A BNRJ foi o projeto piloto, e em 2020 obteve sucesso na entrada desse mercado, sendo a primeira Organização Militar do Ministério da Defesa a adotar esse iniciativa. Isso possibilitará, no futuro, uma economia para a Marinha do Brasil de cerca de 30% em sua conta de energia, além de apresentar outras vantagens como uma maior autossuficiência energética etc.

O TCC, para quem se interessar, possui como título: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ENERGIA RENOVÁVEL - FATORES ESTRATÉGICOS PARA O BRASIL, e está disponível na ESG e no Blog no link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_2d0c64f75134440fb067b5b3f4a99dd0.pdf.

O Blog é de opinião de que o nosso Ministério da Defesa deve tratar o tema com a devida importância, e criar uma estratégia com metas claras a alcançar pelas suas Forças Armadas, a exemplo de outros Estados. Outrossim, o nosso governo deve adotar, de forma mais assertiva, políticas que fomentem a diversificação de suas fontes de energia, e com isso transformar o Brasil na potência energética do Século XXI.

Qual a sua opinião sobre o assunto?

Seguem alguns vídeos para as nossas análises:

Matéria de 21/04/2017:

Matéria de 09/07/2018:

Matéria de 19/10/2016:

Matéria de 16/12/2016:

Matéria de 12/06/2015:

Matéria de 14/10/2020:

Matéria de 28/11/2019:

Matéria de 19/11/2020:

Matéria de 22/04/2020:

Matéria de 16/12/2012:

Matéria de 12/04/2018 (o vídeo é interessante, em que pese ser de 2018, e as condições de consumo mudaram um pouco por causa da pandemia):


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