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Antiacesso e Negação de Área - A2/AD - importância para a nossa fronteira oriental. Parte II.


Figura disponível em: https://images.squarespace-cdn.com/content/v1/5559d320e4b0c9f3319b3f13/1603901543906-PPS0FNKRXHNZDN2RXMDM/Joint+All+Domain+Command+and+Control.JPG?format=750w

O artigo de hoje pretende continuar a tratar do tema sobre Antiacesso e Negação de Área - A2/AD (Anti-Acess and Area Denial) que vem sendo analisado pelo Blog em vários artigos, notadamente pelo "Sistemas A2/AD: precisamos para a defesa da nossa fronteira oriental (Atlântico Sul)?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/sistemas-a2-ad-precisamos-para-a-defesa-da-nossa-fronteira-oriental-atlântico-sul, que recomendamos a releitura, bem como pela discussão ao vivo que pode ser vista por meio do link https://www.atitoxavier.com/post/a2-ad-para-o-brasil-participação-no-canal-base-militar. Ademais, o assunto tem despertado interesse dos nossos leitores, tanto civis, quanto militares.

Precisamos inicialmente diferenciar a estratégia A2/AD das capacidades e sistemas A2/AD modernos, pois apesar dos nomes, possuem conceitos diferentes.

- Estratégia Antiacess and Area Denial (antiacesso e negação de área):

Não é um conceito novo, sendo empregado desde a antiguidade, pois todos os povos sempre tentaram de alguma forma impedir o acesso ao seu território. Assim podemos ver como exemplo: a Muralha da China, a linha Maginot pelos franceses, a estratégia naval japonesa de defesa avançada no Pacífico durante a II Guerra Mundial, dentre outros.

Entretanto, começamos a entender e ver melhor o atual conceito de A2/AD durante a Guerra Fria, em que os soviéticos tentaram impedir a projeção de poder dos EUA, por meio de seus porta-aviões, e com isso desenvolveram armamentos e meios militares para atingir esse objetivo, como: cruzadores, submarinos e aeronaves com mísseis antinavio de longo alcance (Shipwreck etc), bem como sistemas terrestres de defesa de costa. Daí podemos falar que a partir da década de 60 estávamos entrando na era dos mísseis de longo alcance.

A figura a seguir, de 2018, mostra as capacidades A2/AD russas frente a OTAN:

Figura disponível em: https://behorizon.org/wp-content/uploads/2018/07/Russian-A2AD-Strategy-and-Its-Implications-for-NATO_400h.jpg

A China após a humilhação sofrida pela Força Naval dos EUA na Terceira Crise do Estreito de Taiwan (1995-1996), verificou que pouco poderia fazer face aos meios navais estadunidenses, pois foram enviados na ocasião três Grupos-Tarefas baseados em porta-aviões. Dessa forma, começam a estudar uma forma de impedir a repetição desse fato. Outrossim, analisaram as Guerras do Golfo, notadamente a Segunda, e concluíram que precisariam desenvolver armamentos para impedir ou dificultar o uso dos porta-aviões dos EUA nas proximidades de sua costa, bem como de mísseis de cruzeiro lançados de meios navais. Além disso, os estadunidenses conseguiam colocar grande quantidade de tropas onde queriam, devido a sua capacidade de livre manobra no mar. Nesse sentido, começa-se a ganhar destaque no cenário internacional as capacidades ou ameaças A2/AD.

Assim sendo, nos cabe definir o que são A2 e AD:

- Antiacesso - A2: seria impedir ou retardar o acesso do adversário ao objetivo, e no caso dos porta-aviões seria fazer com que eles operassem o mais longe possível do objetivo, dificultando o uso das suas aeronaves na área de operações.

- Negação de área - AD: é quando o inimigo consegue chegar na área de operações, e se deseja dificultar a liberdade de manobra dele.

A figura abaixo das capacidades A2/AD chinesas ilustram o que dizemos acima, e que fazem parte da sua Estratégia A2/AD:

Figura disponível em: https://www.c3sindia.org/wp-content/uploads/2020/10/A2-710x477.jpg

Dessa forma, os sistemas e capacidades A2 possuem maior alcance, como mísseis de longo alcance, submarinos, navios de superfície etc. Assim, vemos que está diretamente relacionada a Defesa da Costa (mais distante). É importante que relembremos a definição de Defesa da Costa: conjunto de medidas e de operações militares terrestres, navais e aéreas adotadas e empreendidas, com o fim de dificultar ou repelir qualquer forma de ataque ao litoral. (MD35-G-01 GLOSSÁRIO DAS FORÇAS ARMADAS, de 2015).

Em relação aos sistemas e capacidades AD, eles estão relacionados aos armamentos de curto e médio alcances, como defesa antiaérea contra aeronaves e mísseis, bem como a defesa aérea. Assim, estão relacionados diretamente com a Defesa do Litoral: conjunto de ações marítimas, terrestres e aéreas que objetiva impedir o inimigo a utilizar a área marítima adjacente ao litoral ou projete seu poder sobre terra, tudo visando a garantir a integridade da faixa terrestre contígua ao mar. (MD35-G-01 GLOSSÁRIO DAS FORÇAS ARMADAS, de 2015).

Portanto, como dissemos no artigo "Sistemas A2/AD: precisamos para a defesa da nossa fronteira oriental (Atlântico Sul)?", a Estratégia A2/AD é utilizada pelo mais fraco para fazer frente ao mais forte (podendo ser entendida também contra uma coalizão).

Convém mencionar que podemos considerar também dentro da Estratégia A2/AD as capacidades para operar nos ambientes espacial (satélites de comunicações, posicionamento e inteligência) e cibernético, como A2.

Como A2/AD é uma estratégia, certos países possuem visões distintas sobre o emprego das suas capacidades. Os russos têm a visão A2 de destruir as infraestruturas críticas e militares do adversário (caráter ofensivo), enquanto os chineses visam as forças em deslocamento ou a se deslocar (caráter defensivo).

Logo, surge a necessidade, premente, de ter que defender as bases militares e as infraestruturas críticas no próprio território contra as capacidades A2 do oponente.

Podemos concluir que a estratégia A2/AD requer uma operação conjunta entre as Forças Armadas do país, onde cada uma exerceria o esforço principal, a depender da distância do objetivo visado pelo inimigo.

Portanto, com o intuito de poder operar num ambiente onde o objetivo esteja protegido por sistemas A2/AD, notadamente China (não podendo esquecer da Rússia, Coreia do Norte e Irã), os EUA criam, em 2010, a doutrina chamada AirSea Battle, que seria desempenhada de forma integrada pela sua Força Aérea e por sua Marinha, e que foi derivada da sua doutrina AirLand Battle criada para o período da Guerra Fria, de 1982 a 1990, no ambiente europeu, e que também foi empregada na primeira Guerra do Golfo.

O objetivo do AirSea Battle – ASB é permitir com que os EUA não percam a sua liberdade de manobra. Destarte, em 2016, o ASB transforma-se no Joint Concept for Access amd Maneuver in the Global Commons – JAM-GC, com a participação dos Fuzileiros e do Exército, o que vem aperfeiçoando a Guerra Expedicionária, e integrando os sistemas, armamentos e informações.

Concluímos assim, mais uma vez, como analisamos no nosso artigo anterior sobre A2/AD, da necessidade da operação conjunta entre as Forças Armadas, ou seja, é muito importante a integração entre as forças, tanto para empregar a Estratégia A2/AD, quanto para se opor a ela.

Portanto, a Estratégia A2/AD, com as suas capacidades atuais, coloca como realidade o fim da superioridade e do comando total de uma área de operações, ficando essa de forma temporária e limitada a uma região, ainda mais quando a geografia proporciona alguma vantagem ao defensor. Convém lembrar que no conflito da Ucrânia houve o afundamento de navios russos, tanto no porto, quanto no mar.

Nesse cenário, torna-se indispensável o uso dos Jogos de Guerra para vermos a melhor Estratégia A2/AD para o nosso país, a fim de estudarmos bem as nossas possíveis ameaças e estabelecermos uma doutrina conjunta.

O Blog é de opinião de que precisamos pensar numa Estratégica A2/AD, que seja conjunta, para a defesa do nosso país, ratificando o que dissemos no nosso artigo Sistemas A2/AD: precisamos para a defesa da nossa fronteira oriental (Atlântico Sul)?

Além disso, naquele artigo também falamos que: "É lícito pensar que uma contestação da soberania brasileira em suas águas jurisdicionais será proveniente de um Estado com Poder Naval superior.", demonstrando que se adotássemos uma Estratégia A2/AD, com capacidades A2/AD modernas, estaríamos alinhados com o que outros países fazem.

Qual a sua opinião? Temos atualmente capacidade e uma estratégia conjunta para fazer frente a uma possível Força Naval moderna? As nossas infraestruturas críticas e bases militares estão devidamente protegidas?

Segue um vídeo para ajudar a nossa reflexão:

Matéria de 26/05/2022:


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