Primeiramente gostaria de agradecer aos leitores, civis e militares, do Blog, que considero como especialistas nos assuntos aqui debatidos, por terem participado na Pesquisa sobre o Poder Naval Brasileiro, que se iniciou no dia 11 de junho, conforme a nossa matéria disponível em https://www.atitoxavier.com/post/pesquisa-sobre-o-poder-naval-brasileiro-participe.
Convém mencionar que a análise que mostraremos complementa a que fizemos em 13 de outubro de 2021, "Análise da pesquisa sobre possíveis tendências e cenários, até 2040, que podem impactar o Brasil", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/análise-da-pesquisa-sobre-possíveis-tendências-e-cenários-até-2040-que-podem-impactar-o-brasil.
Vemos, na resposta consolidada ao lado, que a ampla maioria dos especialistas considera que a Marinha do Brasil - MB não possui condições, atualmente, tanto para dissuadir, quanto para impedir a aproximação de uma força naval adversária que tenha a intenção de atentar contra a nossa soberania.
Tal percepção ratifica a da pesquisa de 2021, mencionada no início deste artigo, conforme podemos observar abaixo.
Na pesquisa anterior, em que o resultado ao lado foi apresentado, afirmamos que essa constatação era extremamente preocupante e impactante, pois se temos essa percepção, os nossos potenciais adversários também a têm. Além disso, também dissemos que quando voltamos para o estudo da história verificamos que no Século XX os nossos principais desafios à nossa Defesa tiveram origem no mar, como as Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e a crise com a França devido a pesca da Lagosta (Guerra da Lagosta). Outrossim, não podendo esquecer que a última guerra naval, Guerra das Falklands / Malvinas de 1982, ocorreu próximo ao Brasil.
Portanto, tal percepção continua presente e deve ser encarada com muita atenção pelo nosso Poder Político, por meio da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional- CREDEN e da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.
Dessa forma, em vários de nossos artigos, temos alertado para essa vulnerabilidade, onde separamos um trecho da análise da pesquisa de 2021:
"Assim, é urgente que o poder político do Brasil corrija essa vulnerabilidade à nossa Defesa, pois caso não o faça poderemos pagar um preço muito alto. Em nossa visão estamos muito atrasados nessa questão. Outrossim, os especialistas, com a sua análise sobre a questão, ratificam o nosso constante alerta sobre a importância e premência de termos uma Estratégia Marítima para o Século XXI, onde sugerimos a leitura do nosso artigo "Brasil: precisamos ter uma estratégia marítima para o século XXI", que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/brasil-precisamos-ter-uma-estratégia-marítima-para-o-século-xxi."
Essa percepção potencializa a urgência em corrigir a nossa fragilidade no tocante a fronteira oriental - o mar, quando olhamos o que vem acontecendo no cenário internacional em relação as disputas marítimas. Ademais, desde a criação do Blog, estamos alertando sobre o aumento dessas disputas e que também foram confirmadas na pesquisa de 2021, como podemos relembrar:
Dessa forma, dissemos que o espaço marítimo se apresenta como o palco de futuros conflitos entre Estados, e que aqueles que não tenham uma boa capacidade dissuasória ou não estejam preparados poderão ter as suas soberanias no mar colocadas à prova.
Na visão esmagadora dos nossos leitores, uma possível contestação da nossa soberania, em nossas águas jurisdicionais, se dará por uma potência extra-regional com um poder naval forte, o que agrava o problema, pois como dissemos em artigos anteriores, a escalada da violência é muito rápida, mas a reação, caso não tenhamos condições de nos contrapor, é muito lenta, que seria o nosso caso, como analisamos na primeira pergunta da pesquisa de 2022, e que corroborou a de 2021.
Logo, a adoção de uma Estratégia A2/AD, que seja conjunta - potencializando as nossas capacidades, é primordial para podemos nos contrapor a tal ameaça, tal como vários países têm feito. Além disso, como já estudamos no Blog, essa estratégia é empregada por um Estado mais fraco contra um mais forte, ou contra uma coalizão. Essa visão é compartilhada pela a grande maioria dos nossos leitores - especialistas. Portanto, deve ser alvo de debates e estudos pelo nosso setor da Defesa.
É digno de nota que o Blog vem alertando para uma possível militarização do Atlântico Sul, ainda mais no período em que estamos vivendo - era da competição entre as grandes potências (EUA, China e Rússia), onde falamos que a China tem pretensões de implementar bases navais na África Ocidental, que faz parte do nosso Entorno Estratégico, como dissemos no nosso artigo "Entorno Estratégico Brasileiro: estabelecimento de bases chinesas e seus possíveis desdobramentos", que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/entorno-estratégico-brasileiro-estabelecimento-de-bases-chinesas-e-seus-possíveis-desdobramentos. Além disso, temos vários artigos nas nossas Seções Brasil e Poder Naval que abordam a possível militarização do Atlântico Sul e disputas marítimas, bem como a importância de termos uma Estratégia Marítima para o Século XXI, e que sugerimos a releitura.
Nesse cenário os nossos leitores acreditam que é importante que o nosso Poder Político destine mais recursos para a defesa da nossa soberania na fronteira oriental, como podemos observar:
Como atualmente a MB está sem as devidas condições para fazer frente a uma potência extra-regional com um poder naval forte, a maior parte dos leitores acredita que a posse pela MB das aeronaves P3AM da Força Aérea Brasileira - FAB, com os seus mísseis Harpoon, contribuiria em sua tarefa de efetuar a dissuasão na fronteira oriental, conforme vimos na primeira questão da pesquisa de 2022.
Cabe pontuar que várias Marinhas no mundo possuem em seu inventário tal aeronave, em virtude da sua vocação para a Guerra Naval, como: Marinha dos EUA (US Navy), Armada do Chile, Marinha da Alemanha, Força de Autodefesa Marítima Japonesa (Marinha Japonesa).
Outrossim, a MB, de posse dessas aeronaves, poderia formar um esquadrão de patrulha marítima, alarme aéreo antecipado e antissubmarino que seria o embrião dos pilotos de aeronaves turbo hélices da MB, que operariam no futuro porta-aviões brasileiro, como os antigos P-16 da FAB. Tal raciocínio seria análogo ao do Esquadrão VF-1, criado em 1998.
É digno de nota que a MB possui em andamento o programa das aeronaves KC-2 Turbo Trader, que seriam empregadas para o reabastecimento em voo das aeronaves AF-1, lançamento de paraquedistas até a altitude de 25.000 pés (aproximadamente 7,2 Km), evacuação aeromédica, apoio Nuclear, Biológica, Química e Radiológica, apoio às operações de busca e salvamento e transporte de cargas e passageiros, conforme noticiado em: https://www.marinha.mil.br/noticias/diretoria-de-aeronautica-da-marinha-realiza-primeiro-acionamento-dos-motores-de-um-aviao-kc.
A transferência das aeronaves P3AM para a MB seria a medida mais rápida para que a nossa força naval pudesse ter alguma capacidade de dissuasão nos dias de hoje. Entretanto, tais aeronaves possuem um alto custo de manutenção, bem como seria necessário a formação de pilotos aeronavais para guarnecê-las, o que demandaria mais recursos para a MB.
No longo prazo, os nossos leitores civis e militares, que representaram na pesquisa a sociedade brasileira, disseram o que seria ideal para que a MB possa cumprir o seu dever que está previsto no EMA-322, e que foi objeto da primeira questão da pesquisa de 2022: "É dever da MB dissuadir a concentração de forças hostis nos limites das águas jurisdicionais brasileiras e, em caso de crise ou de conflito armado, impedir a aproximação de uma força naval adversária, que tenha a intenção de pressionar com sua presença, ou efetuar ataques provenientes do mar contra o território brasileiro, o mais longe possível das costas brasileiras."
Podemos inferir, por meio das escolhas acima, que faz-se necessário um olhar atento do nosso Poder Político que é o responsável por destinar os recursos, haja vista que será necessário um planejamento orçamentário confiável, sem contingenciamentos, para dotar o nosso país de uma Esquadra equilibrada e forte, visando dissuadir uma possível contestação da nossa soberania por uma potência extra-regional com poder naval forte, num período em que as disputas marítimas estão crescendo no mundo.
Portanto, é fundamental que o apoio político ao fortalecimento do nosso Poder Naval se inicie logo, pois como dissemos: a escalada da violência é rápida e a reação para os que não estão preparados é muito lenta, como vemos no conflito da Ucrânia, onde os ucranianos contam com o apoio ocidental, o que não sabemos se teremos.
Apesar do esforço da MB em se preparar para as possíveis ameaças advindas do mar, sem o devido aporte de recursos pelo Estado tal tarefa fica muito comprometida.
Ademais, também urge estudarmos uma Estratégia A2/AD, no menor tempo possível, com o intuito de defendermos a nossa fronteira oriental - o mar.
Assim, mais uma vez recorremos as sábias palavras de Ruy Barboza, que continuam atuais e que são observadas por vários países:
"Esquadras não se improvisam, e as nações que confiam mais em seus diplomatas do que nos seus marinheiros e soldados estão fadadas ao insucesso. Temos excelentes diplomatas, mas uma esquadra moderna leva mais de dez anos para ser projetada e construída, quando se tem os recursos materiais, financeiros e a tecnologia necessária.”
Qual a sua opinião? Temos recursos materiais, financeiros e tecnologia necessária? Em sua análise, quanto tempo levará para termos uma Esquadra forte e equilibrada? Será que os representantes do povo brasileiro no Congresso Nacional, e que fazem parte das Comissões responsáveis pela Defesa Nacional se debruçam sobre essa vulnerabilidade e dão a devida atenção?
No passado o nosso país teve a quinta marinha do mundo, e com isso é inadmissível não termos mantido o legado.
Assim, esta pesquisa e a de 2021 se propuseram a fornecer alguns elementos para uma séria reflexão sobre a necessidade de termos uma mentalidade marítima e um Poder Naval condizente com a extensão das nossas águas jurisdicionais - Amazônia Azul e importância no cenário internacional, e assim sermos um Estado respeitado, próspero e seguro.
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