O Líbano tem vivido momentos de muita tensão e preocupação por parte da sua população e lideranças do governo. Isso se deve a recente escalada da violência que se iniciou no dia 14 de outubro, por ocasião de uma manifestação organizada pelos dois principais partidos políticos de etnia xiita, o Hezbollah e o Amal.
A manifestação xiita foi em direção do Palácio da Justiça, localizada num bairro cristão em Beirute, e quando estava nas proximidades desse local foi alvo de franco atiradores, onde teve como resultado 7 mortes e cerca de 32 pessoas feridas. A escalada da violência não foi maior devido a intervenção do exército libanês que chegou ao local para controlar o embate.
Tanto o Hezbollah, quanto o Amal acusam o partido cristão Libaneses Forces como o responsável pelo ataque, o que foi veemente negado por ele. Dessa forma, existe uma grande dúvida quanto a organização e o motivo do ataque.
Em que pese a passeata ter uma conotação pacífica, havia vários integrantes armados que revidaram o ataque imediatamente, transformando o local num cenário de conflito, similar ao período da guerra civil libanesa entre cristãos e muçulmanos (1975-1990), e que envolveu outros Estados da região como Israel e a Síria, além dos EUA. Tal conflito levou a criação, em 1978, das Forças de Paz no Líbano ou United Nations Interim Force in Lebanon (UNIFIL), que se encontra em atuação até os dias de hoje.
O motivo da organização da manifestação está relacionado a explosão ocorrida no porto de Beirute (agosto de 2020), que destruiu cerca de um terço da cidade e que vitimou mais de 200 cidadãos libaneses, pois os partidos xiitas exigem a retirada do juiz, Tarek Bitar, que está a frente do processo de apuração do ocorrido ou o término das suas investigações. Eles alegam que o processo investigatório estaria sendo conduzido com motivos políticos, e assim estaria intencionalmente direcionado para culpar figuras políticas importantes ligadas a esses partidos e que faziam parte do governo à época.
É digno de nota que várias lideranças e parte da população no país defendem o juiz e são favoráveis a uma investigação séria e que apure os culpados, sendo que isso tem afetado a governabilidade.
Esse cenário levou a sensação de incerteza quanto ao futuro da tênue estabilidade política no país, ainda mais quando o Líbano está mergulhado num caos econômico e social, bem como é um palco de disputas geopolíticas.
O Blog vem acompanhando a situação do Líbano desde julho de 2020, antes da explosão que piorou a situação interna do país que está praticamente colapsada, e que tem levado a uma parte da população em migrar para outros países em busca de melhores condições de vida, principalmente para a Europa.
Dessa forma, apresentamos aos nossos leitores um resumo dos artigos, com o intuito de melhor contextualizar o problema. Outrossim, sugerimos a leitura dos mesmos em sua íntegra:
- "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-do-líbano-colapso-à-vista-possibilidade-de-aumento-da-instabilidade-na-região, onde foi afirmado que a problemática econômica e social enfrentada pelo governo libanês, antes da explosão no porto de Beirute, era resultante de sua política sectária, com a grande disputa de poderes interno e externo (atores geopolíticos buscando consolidar suas esferas de influência), bem como pela preocupação dos grupos políticos dominantes em atingir os seus interesses em detrimento do bem estar da população, o que acaba dificultando a governança do país. Além disso, o colapso do Líbano, com grande caos social, poderá criar oportunidades para o estabelecimento de grupos extremistas, que poderão complicar, ainda mais, a situação interna, e talvez aumentar a instabilidade no Oriente Médio;
- "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região. Parte II", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-do-líbano-colapso-à-vista-possibilidade-de-aumento-da-instabilidade-na-região-parte-ii , em que foi dito que a crise econômica e social, descrita acima, estava sendo aprofundada pela decisão dos EUA em realizar sanções econômicas contra o regime sírio de Bashar al-Assad, por meio do Caesar Syria Civilian Protection Act of 2019, ou mais conhecido por Caesar Act, que tem por objetivo pressionar uma mudança do governo, "estrangulando-o"economicamente, onde pessoas, organizações ou governos sofreriam sanções por parte estadunidense, caso dessem apoio ao atual governo sírio. Dessa forma, além desse país, seriam atingidos, também, o Irã (aliado militar e financiador), Rússia (aliado militar), e o Líbano, atingindo secundariamente o grupo Hezbollah. A explosão no porto de Beirute potencializou o drama libanês, e com isso a China se apresentaria como uma possível "tábua de salvação" para o Líbano, e que caso haja um acordo entre esses países, será uma derrota geopolítica muito forte para os EUA, bem como um alívio para o Irã, a Síria e o Hezbollah. Outrossim, caso não haja ajuda financeira ao Líbano, continuamos a afirmar que o país mergulhará num caos, e estarão sendo criadas oportunidades para o surgimento de grupos extremistas, devido ao extremo problema social, que poderão mergulhar o país num região turbulenta.
- "A crise do Líbano: colapso à vista. Possibilidade de aumento da instabilidade na região. Parte III", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-do-líbano-colapso-à-vista-possibilidade-de-aumento-da-instabilidade-na-região-parte-iii, em o Blog manifestou o receio que os interesses geopolíticos criem cada vez mais no país um cenário de maior instabilidade, que possa mergulhar o Líbano em um cenário de confronto.
Cabe destacar que a população libanesa vem enfrentando um sério problema de insegurança alimentar, e que há um alto índice de armamento em posse dos cidadãos, o que são ingredientes importantes para a elevação da violência interna. Ademais, existe uma sensação de cansaço de parte da população com a postura do Hezbollah em tentar, por meio da ameaça do uso da força, em atingir os seus objetivos políticos internos, embora ainda seja considerada como uma força de dissuasão contra agressões externas.
Essa visão tem sido predominante entre os cristãos, drusos e sunitas, o que somado ao recente acontecimento faz com que haja o receio de uma nova guerra civil no Líbano, o que poderá mergulhar a região num novo cenário conflituoso com a participação de atores internacionais, como no passado.
O Blog é de opinião que atualmente o Líbano enfrenta o pior cenário interno desde a sua guerra civil, e que o Hezbollah vem perdendo a simpatia, legitimidade e o prestígio político internos, aumentando a divisão e a instabilidade no país. Dessa forma, avalia-se como uma situação extremamente crítica, pois possibilita a oportunidade a ser explorada por atores externos, o que poderá levar o país a sua total desestabilização.
Nesse sentido, ratifica-se as análises dos artigos do Blog sobre o Líbano, e na visão deste autor é de suma importância saber quem realizou o ataque à manifestação xiita, e entender qual o seu motivo.
Como o Brasil possui cerca de 10 milhões de descendentes de libaneses (população maior que a do próprio Líbano), é provável que haja a chegada de mais deles ao nosso país fugindo do atual problema daquele país.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 14/10/2021:
Matéria de 25/10/2021:
Matéria de 27/10/2021:
Matéria de 15/10/2021:
Matéria de 19/10/2021:
Matéria de 22/10/2021:
Matéria de 15/10/2021:
Matéria de 22/10/2021:
Matéria de 20/10/2021:
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