O Oriente Médio é uma região muito volátil e de difícil previsão geopolítica, em virtude de suas constantes oscilações políticas, como pudemos ver na recente reaproximação da Arábia Saudita e do Irã.
No artigo "Emirado Islâmico do Afeganistão: fator de instabilidade regional?, de 04 de setembro de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/emirado-islâmico-do-afeganistão-fator-de-instabilidade-regional, afirmamos que existia uma grande probabilidade do Afeganistão se tornar um fator de instabilidade para a região, e que devido a problemática interna de perseguição às minorias étnicas, bem como de interesses econômicos e geopolíticos de atores regionais, o país continuaria mergulhado no caos político e de segurança interna.
A perseguição citada acima teve como consequência um grande fluxo de afegãos, tentando fugindo do atual regime de Cabul, em direção ao Irã, criando um atrito entre os dois governos.
Nesse contexto, ao analisarmos a história do relacionamento entre o Irã e o Afeganistão, notadamente desde que o grupo Talibã ascendeu ao poder, podemos verificar que possui uma imprevisibilidade, assim como todo o Oriente Médio, com vários episódios de agressão entre forças iranianas e grupos talibãs em regiões de fronteira desses Estados.
Convém mencionar, que os iranianos auxiliaram o Talibã na contenção de uma possível expansão do Estado Islâmico em território afegão. Lógico que havia o intuito de preservar a segurança do Irã, valendo-se assim de um pragmatismo que poderia aproximar os governos de Cabul e de Teerã. Entretanto, os dois países vêm tendo desavenças que têm aumentado, a cada dia, a tensão entre eles.
Assim, no dia 27 de maio de 2023 houve um confronto entre uma força de segurança iraniana, que estava no posto de fronteira que separa a província iraniana de Sistan e Baluchistan e a província afegã de Nimroz, e um grupo Talibã.
O embate teve como "pano de fundo" a acusação do presidente iraniano Ebrahim Raisi de que o governo de Cabul não estaria cumprindo o acordo de 1973 sobre o fornecimento de água do rio afegão Helmand para as províncias orientais iranianas, restringindo, assim, o fluxo de água.
É digno de nota que a província iraniana de Sistan e Baluchistan possui várias questões críticas, como econômica, sectária, política, sendo a climática a principal problemática, devido ao clima altamente seco desta região, conforme podemos observar na matéria do The Iran Primer, intitulado Iran´s Troubled Provinces: Baluchistan, de 24 de fevereiro de 2021, disponível em https://iranprimer.usip.org/blog/2020/aug/06/irans-troubled-provinces-baluchistan.
Tal situação climática dessa região proporciona tensões constantes com o Afeganistão, em virtude da dependência da água proveniente do rio afegão Helmand, e cujo fluxo é controlado por represas construídas ao longo dele, no território do Afeganistão, como podemos ver abaixo:
Sistan and Baluchistan’s environmental problems are a product of climate change, government mismanagement and tensions with neighboring Afghanistan. [...] A province long dependent on agriculture nurtured by both irrigation and natural rain has been hard hit by the drought. [...] Iran has also blamed the province’s problems on Kabul’s decision to increasingly dam the Helmand River, which flows into Iran. Starting in the 1950s, Afghanistan built two dams on the Helmand river, the Kajaki and the Grishk. The Helmand River in Iran has run increasingly dry for the past two decades. Parts of the river have run dry for up to 10 months out of the year. “We cannot remain indifferent to what is damaging our environment,” President Rouhani said in 2017. “The construction of several dams in Afghanistan – the Kajaki, Kamal Khan and Selma dams and other dams in the north and south of Afghanistan – impacts our Khorasan and Sistan and Baluchistan provinces.” By 2020, irrigated farming in Sistan and Baluchistan had become almost impossible, according to Habibollah Dahmardeh, a member of parliament from Zabol.
Logo, a crise entre o Irã e o Afeganistão, com esse recente conflito, ratifica as nossas análises do artigo "A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial. Parte II: Conflitos", de 07 de maio de 2021, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-emergência-climática-e-os-seus-possíveis-impactos-na-geopolítica-mundial-parte-ii-conflitos. Assim, destacamos:
"[... ] O Oriente Médio é outra região que carece atenção no tocante ao aumento das tensões em consequência dos impactos da Emergência Climática, [...] as áreas citadas no artigo que estão vivenciando, de forma mais evidente, a mudança climática possuem em comum: governos instáveis, crises humanitárias, elevada migração, disputas entre agricultores e criadores de animais por terra fértil, aumento de grupos insurgentes, incremento da violência interna, insegurança alimentar. Tais elementos possuem o efeito de provocar possíveis choques entre países vizinhos."
O Blog é de opinião que novos confrontos entre o Irã e o Afeganistão são bastante prováveis, em virtude da necessidade da água afegã por parte dos iranianos, e que devido a emergência climática os casos de seca na região poderão ser mais comuns, o que poderá catalisar a tensão entre esses países.
Outrossim, o Blog já fez vários alertas, por meio de seus artigos, que o governo brasileiro deve observar com muita atenção o que acontece no exterior em relação a emergência climática. Ademais, apesar de constar em nossa Política Nacional de Defesa a preocupação com essa questão, não vemos políticas concretas nesse sentido, e que em futuro próximo poderemos ser impactados por ela.
Qual a sua opinião?
Seguem algumas sugestões de vídeo para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 28/05/2023:
Matéria de 28/05/2023:
Matéria de 28/05/2023:
Matéria de 23/05/2023:
Matéria de 28/05/2023:
Matéria de 20/05/2023:
Parabéns pela análise.
Um grande abraço!