A Rússia é um dos principais fornecedores de armamento para os países africanos, e em especial para o Sudão com quem possui boas relações. Desde 2017 os líderes desses países vêm estreitando laços, Putin e o ex-presidente sudanês Omar al-Bashir, principalmente no tocante a cooperação militar, havendo visitas protocolares entre as respectivas autoridades.
Convém mencionar que atualmente o Sudão sofre com uma grande instabilidade política e econômica que teve como origem um conflito interno e que culminou com a deposição de al-Bashir, e com a assunção de um governo militar, que deveria realizar a transição para um civil, o que até o momento não ocorreu. Tal fato tem levado a população às ruas, com protestos bastante violentos.
É digno de nota que o governo russo tentou ajudar al-Bashir a se manter no poder. Porém, mesmo com a sua deposição, os governos permaneceram próximos, e continuaram tratando, de forma bem estreita, os assuntos de defesa.
Nesse sentido, o governo provisório sudanês vem tentando mitigar o caos econômico, que foi potencializado pela pandemia do COVID-19, com a realização de manobras geopolíticas, como podemos ver abaixo:
acordo de normalização de relações com Israel, que foi analisado pelo Blog no artigo "Israel e Sudão: terceiro acordo de normalização de relações em pouco tempo. Coincidência?", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/israel-e-sudão-terceiro-acordo-de-normalização-de-relações-em-pouco-tempo-coincidência , em que os EUA se comprometeram a retirar o país da lista de países apoiadores de terroristas, o que permite a entrada de investimentos estrangeiros no país. Em que pese os sudaneses estarem bem divididos sobre esse acordo;
esfriamento das relações com o Irã, e uma maior aproximação com a Arábia Saudita.
Nesse cenário, as tratativas entre Moscou e Cartum resultaram em um acordo para implementar uma base naval russa, nas proximidades da cidade de Porto Sudão, que proverá apoio logístico para os meios navais russos, e com capacidade para receber até 04 navios, e um nuclear, confirmando a influência russa sobre o Sudão. Além disso, são previstos:
cessão da área para os russos por até 25 anos;
suprimento de armamentos e meios russos para o Sudão;
treinamento russo para as forças armadas sudanesas;
construção de uma base com instalações para até 300 pessoas, entre civis e militares;
permissão para que tropas russas possam se estabelecer no exterior da futura base.
O acordo é estratégico para os russos, pois é a primeira base russa na África, após o fim da União Soviética e a segunda fora do território russo, depois de Tartus na Síria, além dos seguintes fatores:
permitirá a presença constante de meios navais russos no Mar Vermelho, e com possibilidade de apoio em operações no Oceano Índico, no norte da África, e Golfos de Omã e Pérsico. Além disso, serve como alternativa ao apoio logístico para os seus navios operando no Mediterrâneo, contribuindo, assim, para uma presença global russa;
possibilitará apoiar logisticamente o seu aliado no conflito da Líbia, o Libyan National Army - LNA, representado pelo General Haftar;
aumentará a sua influência no continente africano e no Oriente Médio;
a base ficará localizada num ponto focal do tráfego marítimo, onde produtos da Índia e do Sudeste asiático fluem para a Europa, e vice-versa;
manter o status de grande potência, pois a China, os EUA, e outros países relevantes possuem presença militar em Djibouti;
servir como hub logísitico para as suas tropas terrestres que por ventura operarem na região do entorno;
possibilita um melhor apoio aéreo para os seus meios e tropas;
porta de acesso para as empresas russas realizarem negócios com o Sudão e com os países vizinhos, notadamente nas áreas de energia e de segurança;
o aprimoramento do apoio logístico russo para os seus meios navais no Mediterrâneo, aumenta a sensação da ameaça russa aos interesses dos países da OTAN;
consolida a sua influência no Sudão;
analistas relatam que a base poderá fortalecer os laços entre a Índia e a Rússia, por meio de uma maior cooperação militar com o apoio logístico aos meios navais indianos.
O Blog é de opinião que o estabelecimento de uma base no Sudão é geopoliticamente muito importante para a Rússia, pois aumentará o alcance do seu poderio político-militar na região do Mediterrâneo, Oriente Médio e África, o que coloca pressão na OTAN. Além disso, fornece a Moscou uma saída para melhorar a sua economia, que sofre sanções por parte do EUA e da União Europeia, por possibilitar uma porta de entrada na África para as empresas russas de energia e de segurança. Além disso, mantém firme a rivalidade com os EUA. Também concordamos que é uma oportunidade para o estreitamento de laços indo-russo.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para as nossas análises:
Matéria de 16/11/2020:
Matéria de 25/01/2020:
Matéria de 22/11/2020:
Matéria de 13/-01/2019:
Matéria de outubro de 2020:
Matéria de 20/03/2020 (aborda a importância da região do Mar Vermelho):
Parabéns por não tornar a Geopolítica entre uma novela entre mocinhos e malvados. Cansado de ler que a Rússia "está trazendo o caos para o continente africano" como se o especialista em levar caos para os 4 cantos do mundo pra depois se apresentar como a solução não fosse o Capitão América.
Cada um no mundo que defenda seus interesses. Quem se deixou-se abduzir ideologicamente, culturalmente, cognitivamente, quem tornou sua esquerda um puxadinho dos democratas, a direita dos republicanos... que se resignar a tornar -se a plantation do futuro quando os recursos do primeiro mundo minguarem e a tornar- se rodapé da história.