A Importância Estratégica do Brasil na América do Sul: Uma Análise Geopolítica Baseada no MIAG e na Teoria do Heartland.
- Alexandre Tito Xavier
- 28 de mar.
- 4 min de leitura

Introdução
A análise geopolítica da América do Sul não pode prescindir do estudo da posição estratégica do Brasil. Este artigo emprega o Método Integrado de Análise Geopolítica (MIAG) e adapta a teoria do "Heartland" de Halford John Mackinder para compreender a relevância do Brasil no tabuleiro geopolítico continental e global. A partir de uma abordagem sistêmica, exploramos os aspectos geográficos, econômicos, militares e políticos que fazem do Brasil um pivô na segurança e no desenvolvimento da região.
1. O MIAG e a Geopolítica Sul-Americana
O MIAG é um modelo analítico estruturado em cinco dimensões: espaço, tempo, força, risco geopolítico e inteligência estratégica que permitem compreender a dinâmica geopolítica de um Estado, e com isso contribuir na formulação de geoestratégias. Tal metodologia é ensinada no Curso de Análise Geopolítica e foi criada pelo autor. No contexto do Brasil, sua aplicação permite identificar a interconexão entre elementos internos e externos que condicionam sua posição estratégica
2. Mackinder e a Adaptação da Teoria do Heartland para a América do Sul
A teoria do Heartland, formulada por Mackinder, sustenta que quem controla o “coração do mundo”, que foi idealizado por ele como sendo a Eurásia ou “ilha mundial tem uma vantagem estratégica global, podendo controlar o mundo, fazendo com que a Rússia fosse considerada como o pivô geográfico. Além disso, ele acreditava que a supremacia do poder naval estava chegando ao seu fim, em virtude do desenvolvimento tecnológico que estava possibilitando o deslocamento por vastos territórios continentais por meio das ferrovias e dos veículos com motores à combustão. Dessa forma, poderíamos concluir, que na visão de Mackinder, o poder naval começaria a ser ofuscado pelo poder terrestre.
Embora concebida para a Eurásia, acreditamos que essa ideia pode ser transposta para a América do Sul, com o Brasil ocupando um papel central.
Portanto, em nossa análise, a vasta extensão territorial, os recursos naturais abundantes e a posição geográfica conferem ao Brasil a capacidade de influenciar os fluxos políticos e econômicos da região.
3. O Brasil como o Heartland Sul-Americano
Para adaptar a teoria de Mackinder, consideramos os seguintes elementos que consolidam o Brasil como o centro de gravidade geopolítico da América do Sul:
• Dimensão Territorial: A ocupação da maior parte do continente confere ao Brasil uma posição privilegiada em relação às principais rotas terrestres e fluviais da região.
• Recursos Naturais: A abundância de minérios, água doce, terras agriculturáveis e biodiversidade tornam o Brasil um ativo estratégico para o mundo.
• Capacidade Militar: Embora não seja uma potência militar global, o Brasil possui Forças Armadas capacitadas para exercer certa projeção de poder regional.
• Influência Política e Econômica: O Brasil é a maior economia da América do Sul, fator que lhe permite exercer grande influência nos blocos regionais, como o MERCOSUL.
4. Risco Geopolítico e o Heartland Sul-Americano
A aplicação da teoria do Heartland ao Brasil também impacta a análise do risco geopolítico, que pode ser avaliado segundo a relação entre ameaças, vulnerabilidades e capacidades. O Brasil, ao ser considerado o pivô geopolítico da região, está sujeito a desafios significativos em cada uma dessas dimensões.
• Ameaças: O Brasil enfrenta desafios como a presença de atores extrarregionais influenciando seus vizinhos como a Rússia, a China e os EUA; o crime organizado transnacional; e disputas comerciais que podem comprometer sua posição econômica.
• Vulnerabilidades: A falta de investimentos adequados em infraestrutura de defesa; a deficiência em mecanismos de inteligência estratégica; as grandes distâncias a serem deslocadas no território brasileiro sem uma malha ferroviária, e até mesmo rodoviária, eficiente; e a instabilidade política interna, devido a alta polarização, impactam negativamente a capacidade do Brasil de atuar como o eixo de estabilidade da América do Sul.
• Capacidades: Apesar das vulnerabilidades, o Brasil conta com uma base industrial considerável em relação aos seus vizinhos; uma posição geográfica privilegiada, com grandes riquezas naturais e energéticas; e um potencial de projeção de poder que pode ser expandido com estratégias adequadas.
5. O Impacto da Mentalidade Continental na Mentalidade Marítima Brasileira
Ao analisarmos a teoria do Heartland, podemos compreender o motivo do pensamento político e social brasileiro possuir uma visão predominantemente continental. No livro "A Força do Mar: Estratégias e Desafios para o Poder Naval do Brasil" também afirmamos que falta, infelizmente, ao povo brasileiro uma mentalidade marítima.
O Brasil tem historicamente voltado sua atenção para questões territoriais e fronteiriças terrestres, relegando a estratégia marítima a um segundo plano. Essa abordagem impacta diretamente:
• A formulação de políticas de defesa, que priorizam a segurança terrestre e negligenciam o poder naval.
• O desenvolvimento econômico, pois a exploração do potencial marítimo é subutilizada.
• A percepção estratégica da população, que não reconhece plenamente a importância do mar para a segurança e prosperidade do país.
6. Considerações Finais
O Brasil é um ator chave na estabilidade e no desenvolvimento da América do Sul. A aplicação do MIAG e a adaptação da teoria de Mackinder evidenciam que sua posição é central na geopolítica continental. Entretanto, a análise do risco geopolítico mostra que, apesar das vantagens naturais e econômicas, o Brasil ainda precisa fortalecer suas capacidades para enfrentar ameaças e reduzir vulnerabilidades. Para mitigar o impacto da mentalidade continental e fortalecer a mentalidade marítima, o Brasil, em nossa visão, deve:
• Reformular sua doutrina estratégica, equilibrando as abordagens terrestre e marítima.
• Investir na educação e conscientização da população sobre a importância do mar.
• Ampliar os investimentos na Marinha do Brasil para garantir maior projeção naval.
Somente com uma visão integrada, que reconheça o mar como um ativo estratégico, o Brasil poderá consolidar sua posição geopolítica e garantir sua segurança e prosperidade no século XXI.
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