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A Importância dos Jogos de Guerra Profissionais nas Operações de Influência e Operações Psicológicas.


Imagem gerada por Inteligência Artificial
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O emprego de estratégias militares e políticas no contexto contemporâneo não se limita apenas ao uso de armamentos ou à simples projeção de força. Em um ambiente internacional cada vez mais complexo, a capacidade de moldar percepções, influenciar comportamentos e conduzir operações de forma sutil e eficaz assume um papel de destaque na busca de objetivos estratégicos. Nesse sentido, as chamadas operações de influência e operações psicológicas (OpPsc) são cada vez mais reconhecidas como componentes fundamentais da ação militar e de segurança. Paralelamente, o uso de jogos de guerra profissionais emergiu como uma metodologia de valor inestimável para analisar problemas complexos, verificar cenários e, sobretudo, aperfeiçoar o processo de tomada de decisão.

Assim, este artigo tem como objetivo aprofundar o debate acerca de como os jogos de guerra profissionais, em conjunto com as operações de influência e as operações psicológicas, podem aperfeiçoar o processo decisório em âmbitos militares, governamentais e corporativos. Além disso, será analisado o papel desses jogos não apenas como forma de aperfeiçoamento dos participantes, mas principalmente como instrumento de análise de problemas complexos. Ao longo do texto, serão apresentados conceitos, fundamentos teóricos e aplicações práticas, sempre apoiados no documento oficial do Ministério da Defesa do Reino Unido intitulado “Influence Wargaming Handbook”, disponível em:

Será feita, primeiramente, uma apresentação dos conceitos fundamentais de operações de influência e operações psicológicas, evidenciando suas diferenças e semelhanças. Em seguida, discutiremos os jogos de guerra profissionais, seu histórico, suas características centrais e, principalmente, sua utilidade como ferramenta de análise. Posteriormente, aprofundaremos as implicações para a tomada de decisão, bem como os desafios e as possibilidades de uso dessa tríade (jogos de guerra – operações de influência – operações psicológicas) em cenários complexos.

Por fim, serão apresentadas considerações sobre a relevância ética, legal e estratégica desses instrumentos, enfatizando a necessidade de uma postura responsável e transparente na condução de tais operações. Acreditamos que o presente trabalho poderá servir como um referencial teórico e prático para profissionais que atuam ou desejam atuar na esfera de segurança, defesa e política internacional, além de oferecer subsídios para a compreensão mais ampla da dinâmica que permeia a aplicação de influências e persuasões em conflitos modernos.

Historicamente, o termo “operações de influência” não era tão difundido quanto se observa atualmente. Contudo, a prática de moldar opiniões e comportamentos remonta a tempos imemoriais. Desde a Antiguidade, grandes líderes e estrategistas, como Sun Tzu e Tucídides, reconheciam a importância de influenciar aliados e adversários por meio de narrativas, boatos e manipulação de informações.

No século XX, com o advento das grandes guerras mundiais, a propaganda estatal e as técnicas de persuasão de massas ganharam contornos mais sistemáticos. Governos perceberam que não bastava apenas vencer batalhas no campo militar; era igualmente essencial conquistar “corações e mentes”. As “operações de influência” tornaram-se, então, instrumentos cruciais para legitimar ações militares, isolar inimigos e mobilizar a opinião pública interna e internacional.

Atualmente, com a disseminação das mídias sociais e a crescente conectividade global, as operações de influência ganharam novos contornos, tornando-se ainda mais complexas e sofisticadas. O uso estratégico de desinformação, o monitoramento de tendências sociais e a capacidade de segmentar mensagens para públicos específicos transformaram esse campo em uma área de estudo e atuação multidisciplinar, que envolve militares, diplomatas, sociólogos, psicólogos, especialistas em comunicação e em tecnologia da informação.

As operações psicológicas (também chamadas de “guerra psicológica” em alguns contextos) têm origem igualmente antiga, podendo ser rastreadas em registros de conflitos da China Antiga e do Império Romano. Entretanto, foi ao longo do século XX que essas operações se institucionalizaram, especialmente durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais, quando diversos países criaram setores específicos para disseminar propaganda direcionada ao inimigo e influenciar populações civis em territórios ocupados.

A formalização conceitual das OpPsc ocorreu, em grande parte, graças à OTAN e aos exércitos de países ocidentais, que passaram a incluir tais operações em suas doutrinas militares oficiais. De forma resumida, podemos dizer que as operações psicológicas têm como objetivo influenciar as emoções, motivações e o comportamento de grupos-alvo, por meio da disseminação de mensagens cuidadosamente planejadas. Tais mensagens podem ser veiculadas por panfletos, transmissões de rádio, televisão, internet e até mesmo por contato interpessoal.

Apesar de estarem intimamente relacionadas, as operações de influência e as operações psicológicas apresentam diferenças importantes em termos de escopo e abordagem:


Amplitude de Escopo:

A) As operações de influência abrangem um espectro mais amplo de ações, que podem incluir desde esforços de diplomacia pública, comunicações estratégicas, relações públicas, até campanhas de informação mais sutis.

B) As operações psicológicas, por outro lado, são focadas de forma mais direta na manipulação de percepções e comportamentos, utilizando técnicas de propaganda, desinformação ou reforço de crenças específicas.


Objetivos Imediatos vs. Objetivos de Longo Prazo:

A) As operações de influência podem visar mudanças graduais de percepção ou atitudes, geralmente planejadas para um horizonte temporal mais longo, envolvendo a construção de narrativas consistentes e de reputação favorável.

B) As operações psicológicas podem ter objetivos mais imediatos, como a desmoralização do inimigo em um cenário de conflito ou a geração de dúvidas rápidas em um público-alvo.


Ferramentas e Métodos:

A) Operações de influência podem recorrer a uma variedade de métodos, desde a simples diplomacia até campanhas de marketing político.

B) Operações psicológicas frequentemente utilizam técnicas de propaganda mais direcionadas, que podem incluir mensagens de teor emocional e táticas de persuasão específicas.


Em comum, ambas têm como cerne a comunicação estratégica e a compreensão aprofundada do comportamento humano, com ênfase em como as pessoas recebem, processam e reagem às informações.


Os jogos de guerra (wargames) são simulações estruturadas de cenários de conflito de interesses, historicamente utilizados para preparação das tropas antes das campanhas militares. A prática de jogos de guerra remonta ao século XIX, quando o exército prussiano desenvolveu o “Kriegsspiel” — uma forma de simular batalhas em tabuleiros para preparar oficiais na arte da guerra. Desde então, os wargames evoluíram e passaram a incorporar elementos políticos, econômicos e, mais recentemente, cibernéticos e psicológicos.

No entanto, é fundamental destacar que os jogos de guerra profissionais não se restringem ao treinamento de pessoal. Embora o treinamento seja um objetivo importante, o cerne desses jogos é a análise de problemas complexos. Por meio de cenários realistas, que contemplam incertezas, múltiplas variáveis e diversos atores (estatais e não estatais), os jogos de guerra permitem que tomadores de decisão explorem diferentes linhas de ação, analisem hipóteses e avaliem consequências, tudo isso em um ambiente controlado que imita, de maneira aproximada, as pressões e ambiguidades do mundo real.

É nesse contexto que o presente artigo se insere: analisar como a convergência entre jogos de guerra profissionais, operações de influência e operações psicológicas pode aperfeiçoar o processo de tomada de decisão em diferentes níveis — tático, operacional e estratégico.

Um jogo de guerra profissional é, em essência, uma simulação interativa que reproduz, de forma mais ou menos detalhada, elementos de um conflito real, hipotético ou fictício. Ele envolve pelo menos dois lados — que podem ser forças militares, grupos insurgentes, atores estatais, coalizões internacionais, empresas concorrentes entre outros — e segue um conjunto de regras que estabelecem como as ações podem ser tomadas, bem como quais são as consequências dessas ações.

Ao contrário de jogos recreativos, os jogos de guerra profissionais tendem a ser mais complexos, podendo abranger não apenas manobras de tropas e movimentações logísticas, mas também elementos políticos, diplomáticos, econômicos, culturais e psicológicos. Em muitos casos, contam com equipes multidisciplinares, sistemas computacionais avançados e bases de dados que fornecem informações realistas sobre terrenos, clima, capacidades militares e até mesmo perfis socioculturais de populações-alvo.

Convém mencionar que nos Jogos de Guerra profissionais não há o emprego de meios reais. Logo, deve-se ter cuidado para não os confundir com exercícios de treinamento ou adestramento de grupos, sejam eles militares ou civis.

Embora o treinamento seja um aspecto relevante, como mencionado anteriormente, o principal objetivo de um jogo de guerra profissional é a análise de problemas complexos. Isso significa que generais, analistas de inteligência, pesquisadores e outros profissionais envolvidos buscam, por meio da simulação, obter insights sobre:

1. Vulnerabilidades e oportunidades: Identificar pontos fortes e fracos de estratégias, sistemas de defesa, processos de logística, alianças políticas, etc.

2. Dinâmicas de interação: Observar como diferentes atores (inimigos, aliados e neutros) reagem uns aos outros, considerando interesses e capacidades assimétricas.

3. Efeitos de eventos inesperados: Testar a resiliência dos planos frente a incidentes críticos, como ataques cibernéticos, crises humanitárias ou catástrofes naturais.

4. Identificação de lacunas: Destacar áreas onde há falta de recursos, informação ou coordenação, fornecendo subsídios para a correção de rota.

5. Avaliação de custos e riscos: Projetar os impactos financeiros, políticos e humanitários de um determinado curso de ação, permitindo decisões mais informadas.

Logo, podemos verificar acima os benefícios que os Jogos de Guerra profissionais apresentam ao seu final.

Para que um jogo de guerra profissional seja efetivo na análise de problemas complexos, alguns elementos são essenciais:

1. Realismo Adequado: O nível de detalhamento deve ser suficiente para reproduzir as principais variáveis do cenário real, mas não a ponto de tornar a simulação inadministrável ou inviável em termos de tempo e recursos.

2. Regras Claras e Flexíveis: Embora as regras sejam necessárias para dar consistência ao jogo, é fundamental permitir ajustes caso novas informações ou hipóteses surjam ao longo da simulação.

3. Participação Multidisciplinar: A complexidade dos cenários modernos exige a presença de especialistas em diferentes áreas — militares, diplomatas, economistas, psicólogos, analistas de inteligência, especialistas em direito entre outros.

4. Retroalimentação (Feedback) e Documentação: Registrar as decisões, ações e resultados de cada rodada do jogo é crucial para que se possa analisar posteriormente o que deu certo, o que deu errado e por quê.

5. Moderação e Facilitação Competentes: Um moderador experiente é capaz de conduzir o jogo de maneira equilibrada, garantir a participação de todos e direcionar as discussões para os objetivos propostos.

Ainda que os benefícios apresentados ao se realizar Jogos de Guerra profissionais sejam claros, há diversos desafios:

• Limitações de Tempo e Recursos: Jogos de guerra podem ser extremamente exigentes em termos de planejamento, coordenação e infraestrutura.

• Viés Cognitivo dos Participantes: Os jogadores podem projetar suas crenças, preferências e experiências anteriores na simulação, influenciando os resultados.

• Incerteza Inerente: Mesmo o melhor dos jogos de guerra não consegue prever com exatidão o comportamento humano e as contingências do mundo real.

• Sigilo e Sensibilidade de Informações: Alguns cenários podem exigir a manipulação de dados confidenciais, o que impõe restrições legais e de segurança.


O documento oficial “Influence Wargaming Handbook”, disponibilizado pelo Ministério da Defesa do Reino Unido em https://assets.publishing.service.gov.uk/media/6494481b9e7a8b00139329d8/Influence_Wargaming_Handbook_web.pdf, é uma referência fundamental para todos que desejam compreender como integrar efetivamente as dimensões de influência em jogos de guerra profissionais. Conforme indicado no próprio manual:


“O comportamento humano é uma preocupação central de grande parte das atividades de Defesa e segurança, e o sucesso operacional frequentemente depende de influenciar as atitudes, percepções e comportamentos de diferentes audiências.” (Fonte: Influence Wargaming Handbook, p. 5)


Esse trecho ilustra de forma cristalina a relevância de incorporar aspectos psicológicos e de influência em qualquer exercício de simulação que vise capturar a complexidade do ambiente operacional contemporâneo.

O Influence Wargaming Handbook foi concebido para orientar planejadores, analistas e facilitadores na criação de jogos de guerra que reflitam não apenas aspectos cinéticos (manobras, poder de fogo, logística etc.), mas também os elementos de informação, percepção e influência que permeiam conflitos modernos.

Conforme consta na publicação, há diversos componentes de influência que podem ser incorporados a um jogo de guerra profissional, tais como:

• Narrativas e Mensagens: Quais são as histórias, argumentos e informações que cada lado busca disseminar? Como essas mensagens são construídas e veiculadas?

• Percepção de Legitimidade: Como cada ator busca legitimar suas ações perante a população local, a comunidade internacional ou mesmo suas próprias tropas?

• Redes Sociais e Meios de Comunicação: Quais plataformas são usadas para alcançar os públicos-alvo? Como a tecnologia afeta a velocidade e o alcance das mensagens?

• Fatores Culturais e Religiosos: Em muitos cenários, a compreensão das tradições, valores e crenças locais é fundamental para uma estratégia de influência bem-sucedida.

• Reações e Resistências: Como os públicos-alvo podem reagir? Quais contramedidas podem ser adotadas para neutralizar ou minimizar os efeitos de uma campanha de influência adversária?

A principal contribuição do Influence Wargaming Handbook está em demonstrar que, ao incorporar sistematicamente elementos de influência em jogos de guerra, os tomadores de decisão ganham uma visão mais ampla e profunda dos riscos, oportunidades e possíveis consequências de suas ações. Assim, decisões estratégicas podem ser embasadas não apenas em dados de força bruta, mas também em análises de percepção, legitimação e apoio popular — fatores cruciais em conflitos de alta intensidade, missões de estabilização e operações de manutenção da paz.

Um dos principais desafios na tomada de decisão em contextos militares e de segurança é a incerteza. Em ambientes voláteis, marcados por informações incompletas e dinâmicas em constante mudança, qualquer decisão envolve riscos significativos. As operações de influência e psicológicas adicionam uma camada extra de complexidade, pois lidam com fatores subjetivos, como percepções, emoções e crenças.

Nesse cenário, os jogos de guerra profissionais funcionam como laboratórios, onde líderes e analistas podem experimentar diferentes abordagens sem incorrer nos custos e perigos de uma ação real. Essa capacidade de simular cenários e ações permite que se identifiquem antecipadamente pontos cegos e se desenvolvam planos de contingência.

Outro aspecto relevante é a tendência humana a sofrer de viés cognitivo, projetando preferências, medos e crenças pessoais na avaliação de cenários. Em um jogo de guerra bem estruturado, com regras claras e observadores imparciais, torna-se mais difícil (embora não impossível) que tais vieses dominem o processo decisório, daí mostrando a importância de se conhecer e aplicar o pensamento crítico no que couber aos participantes. Ademais, a presença de diferentes perspectivas profissionais e culturais, aliada a mecanismos de validação dos resultados, ajuda a reduzir os efeitos perniciosos do viés na tomada de decisão.

Ao incorporar elementos de influência e operações psicológicas, os jogos de guerra permitem explorar consequências que vão além do conflito imediato. Por exemplo:

• Uma campanha de desinformação bem-sucedida pode minar a confiança da população local no governo aliado, levando a protestos ou mesmo a uma crise de legitimidade.

• Uma operação psicológica que humilhe publicamente líderes rebeldes pode gerar reações violentas de retaliação, agravando o conflito.

• Uma narrativa de “libertação” pode, por outro lado, angariar apoio internacional e facilitar acordos diplomáticos.

Essas consequências de segunda e terceira ordem (ou seja, impactos que ocorrem indiretamente e em cadeia) são particularmente difíceis de prever sem uma simulação que leve em conta a dimensão humana e informacional do conflito.

O processo de tomada de decisão em ambientes complexos exige flexibilidade e adaptabilidade constantes. As informações podem mudar de forma abrupta, e a capacidade de reagir rapidamente a novos dados ou eventos é crucial. Nos jogos de guerra que incluem operações de influência e psicológicas, os participantes são constantemente desafiados a revisar suas estratégias, seja para explorar oportunidades, seja para mitigar ameaças emergentes.

Portanto, esse exercício de replanejamento contínuo ajuda a desenvolver, nos tomadores de decisão, a agilidade mental e a cultura de experimentação, reduzindo a probabilidade de estagnação em planos obsoletos.

Entretanto, por mais elaborados que sejam, os jogos de guerra continuam sendo simulações. Eles não conseguem reproduzir perfeitamente todas as nuances do comportamento humano, especialmente quando se trata de operações de influência e operações psicológicas, que dependem de variáveis culturais, emocionais e cognitivas extremamente complexas. Há sempre o risco de sub ou superestimar certas reações ou de não captar fatores sutis que poderiam alterar radicalmente o curso de um evento real.

Para tornar um jogo de guerra mais realista, muitas vezes é necessário utilizar informações sensíveis, como estimativas de inteligência ou planos de contingência. Isso levanta questões de sigilo e segurança. Há o risco de vazamento de informações confidenciais, bem como a possibilidade de que adversários venham a conhecer aspectos cruciais do planejamento. Nesse sentido, deve-se estabelecer protocolos rigorosos de segurança da informação, bem como limitar o acesso a determinados dados a um círculo estritamente necessário.

As operações de influência e psicológicas, por sua própria natureza, envolvem a manipulação de percepções e comportamentos. Embora possam ser consideradas legítimas em contextos de guerra ou de ameaças à segurança, é fundamental observar limites éticos. A disseminação de desinformação, a exploração de vulnerabilidades emocionais de populações e o uso de táticas coercitivas podem gerar consequências negativas duradouras, além de violar normas internacionais e direitos humanos.

Quando tais operações são simuladas em jogos de guerra, é importante discutir abertamente as implicações éticas, para que os participantes entendam não apenas como conduzi-las de maneira eficaz, mas também de maneira responsável e em conformidade com leis e convenções internacionais.

Por fim, mesmo que o jogo de guerra seja conduzido de forma exemplar, há a possibilidade de que os tomadores de decisão não aceitem ou não levem em conta os resultados obtidos. Razões políticas, institucionais ou até mesmo pessoais podem levar líderes a ignorar as recomendações geradas pela simulação. Portanto, o processo de comunicação dos resultados e a forma como são integrados à formulação de políticas e estratégias também são elementos cruciais para o sucesso.

Com o avanço de tecnologias de simulação, inteligência artificial e análise de big data, é provável que os jogos de guerra do futuro sejam ainda mais sofisticados na representação de variáveis de influência e psicológicas. Ferramentas de análise preditiva podem auxiliar na detecção de padrões de comportamento, enquanto simulações de realidade virtual podem tornar a experiência mais imersiva e realista. É importante, porém, que o fator humano continue sendo valorizado, pois decisões sobre conflitos e vidas humanas não podem ser inteiramente delegadas a algoritmos. Sugerimos a leitura do artigo "O Papel da Inteligência Artificial na Construção de Cenários e Desafios em Jogos de Guerra Profissionais", de 02 de novembro de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-papel-da-inteligência-artificial-na-construção-de-cenários-e-desafios-em-jogos-de-guerra-profissio.

Organizações não governamentais, grupos insurgentes, corporações multinacionais e até mesmo hackers independentes podem desempenhar papéis decisivos em cenários de conflito. Os jogos de guerra precisam refletir essa realidade, incorporando tais atores de forma realista. Isso exige, em muitos casos, a participação de especialistas em setores como tecnologia, comunicações e política internacional, que compreendam as motivações e capacidades desses atores não estatais.

A medição dos efeitos de uma operação de influência ou psicológica ainda é um desafio. Indicadores como “moral”, “apoio popular” e “percepção de legitimidade” podem ser difíceis de quantificar de forma objetiva. Investir em pesquisas que desenvolvam modelos mais precisos de avaliação e métricas de impacto é fundamental para tornar os resultados dos jogos de guerra mais confiáveis e úteis para a tomada de decisão.

Assim sendo, a convergência entre jogos de guerra, operações de influência e operações psicológicas fortalece, portanto, o processo decisório em várias frentes:

1. Reduz a Incerteza: Ao oferecer um espaço seguro para analisar diferentes abordagens, diminui-se a probabilidade de surpresas estratégicas.

2. Aprimora a Coordenação: Ao reunir diversos atores e perspectivas, promove-se uma visão mais holística dos problemas e estimula-se a cooperação interinstitucional.

3. Identifica Vulnerabilidades e Oportunidades: Permite mapear com maior precisão onde estão os pontos de ruptura e as chances de sucesso, considerando o comportamento humano e as dinâmicas informacionais.

4. Estimula a Reflexão Ética: Traz à tona as implicações morais e legais do uso de técnicas de manipulação psicológica, o que é fundamental para manter a legitimidade das ações.

Portanto, em nossa análise, o aperfeiçoamento do processo de tomada de decisão por meio da combinação de jogos de guerra profissionais, operações de influência e operações psicológicas representa um passo essencial na evolução das estratégias de segurança e defesa. Ele reflete a conscientização de que a dimensão informacional e psicológica é tão importante quanto a dimensão militar. À medida que nações e organizações continuarem a se deparar com cenários incertos e voláteis, aqueles que dominarem as técnicas de influência e souberem aplicá-las de forma integrada e ética em suas simulações e planejamentos terão uma vantagem significativa na busca pela estabilidade e pela proteção de seus interesses.

O Blog é de opinião que a crescente complexidade dos cenários de segurança e defesa no mundo contemporâneo exige uma abordagem multidimensional, na qual a capacidade de projetar força militar se combina com a habilidade de moldar percepções, narrativas e comportamentos. Nesse contexto, as operações de influência e as operações psicológicas assumem papel de destaque, pois vão além do campo de batalha convencional e impactam diretamente a legitimidade, a moral, o apoio popular e a dinâmica de poder entre os atores envolvidos.

Nesse sentido, os jogos de guerra profissionais emergem como ferramentas inestimáveis para analisar problemas complexos que envolvem esses aspectos de influência. Diferentemente de uma visão leiga que os enxerga apenas como instrumentos de treinamento, a verdadeira vocação dos wargames profissionais está na capacidade de simular cenários multifacetados, analisando hipóteses e permitindo que líderes e analistas identifiquem vulnerabilidades e oportunidades em um ambiente controlado. Esse processo de simulação fornece insights valiosos para a tomada de decisão, especialmente quando se trata de antecipar consequências de segunda e terceira ordem e de mitigar riscos, além de alinhar estratégias entre diferentes organizações privadas ou governamentais.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 06/07/2023:

Matéria de 17/07/2020:

Matéria de 12/01/2022:

Matéria de 23/10/2019:



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© 2020 por Alexandre Tito. Feito Wix.com

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