A guerra em curso na Ucrânia, que se intensificou após a invasão russa em 2022, continua a causar devastação e instabilidade na região. A busca por um cessar-fogo duradouro é essencial para aliviar o sofrimento humano e restaurar a paz. No entanto, a história de acordos anteriores, como os Acordos de Minsk I e II, que foram violados, levanta preocupações sobre a confiabilidade da Rússia em honrar futuros compromissos de paz. Além disso, eventos recentes, como o encontro tenso entre o presidente dos Estados Unidos da América - EUA, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, complicam ainda mais o cenário geopolítico. Assim, este artigo pretende analisar a importância de um cessar-fogo confiável entre a Rússia e a Ucrânia, explorando o papel potencial dos EUA e da Europa como garantidores desse acordo, à luz de eventos passados e recentes.
Convém mencionar que o Blog possui vários artigos que analisam a atual Guerra da Ucrânia que podem ser acessados nas abas Rússia e Europa, os quais recomendamos a leitura pelo leitor para melhorar a sua contextualização da situação.
Histórico dos Acordos de Minsk e Suas Violações
Em 2014 e 2015, foram estabelecidos os Acordos de Minsk com o objetivo de cessar as hostilidades no leste da Ucrânia entre forças governamentais e separatistas pró-Rússia. O primeiro acordo, Minsk I, assinado em setembro de 2014, incluía 12 pontos, como cessar-fogo monitorado pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), troca de prisioneiros e retirada de formações armadas. No entanto, este acordo falhou em estabilizar a região, levando à assinatura de Minsk II em fevereiro de 2015, que propôs medidas adicionais, incluindo reformas constitucionais na Ucrânia e maior autonomia para as regiões de Donetsk e Luhansk.
Apesar desses esforços, ambos os acordos foram repetidamente violados. Em fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin declarou os Acordos de Minsk inexistentes, justificando o reconhecimento das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk como Estados independentes. Putin afirmou que a falta de implementação dos acordos por parte da Ucrânia levou a essa decisão, embora muitos observadores internacionais considerem que a Rússia também não cumpriu suas obrigações, contribuindo para a escalada do conflito.
As figuras abaixo mostram o acordado no Minsk I e a situação com o Minsk II, 3 dias antes da invasão russa de 24 de fevereiro de 2022:
A Necessidade de Garantias Confiáveis em Futuros Acordos de Paz
A experiência com os Acordos de Minsk destaca a necessidade de garantias robustas e mecanismos de verificação em qualquer futuro acordo de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia. Sem tais garantias, há um risco significativo de que a Rússia possa violar os termos do acordo, como ocorreu no passado. Portanto, a comunidade internacional, especialmente os EUA e a Europa, deve desempenhar um papel ativo na facilitação e garantia de qualquer acordo de paz.
Nesse sentido, podemos entender o motivo de Zelensky pontuar que uma garantia confiável seria um pré-requisito para um futuro acordo de cessar fogo.
A Vulnerabilidade da Ucrânia na Dependência de Apoio Militar Externo para Negociações de Paz com a Rússia
A Ucrânia, desde o início do conflito com a Rússia, tem dependido significativamente do apoio militar e econômico de aliados ocidentais, especialmente dos EUA e da Europa. Essa dependência, embora essencial para a resistência ucraniana, também expõe vulnerabilidades estratégicas que afetam sua capacidade de negociar um acordo de paz favorável e sustentável.
A assistência militar e econômica fornecida pelos países ocidentais têm sido cruciais para a capacidade da Ucrânia de resistir à agressão russa. Conforme destacado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), "as tropas de Kiev [...] confiam sua capacidade de resistência no impressionante apoio econômico e militar da OTAN", conforme podemos ver em https://cebri.org/revista/en/artigo/46/the-war-in-ukraine-a-geopolitical-analysis. Sem esse suporte, a Ucrânia enfrentaria dificuldades significativas em manter suas operações de defesa.
Portanto, podemos concluir que a dependência de apoio externo influencia diretamente a posição da Ucrânia nas negociações de paz. A vulnerabilidade decorrente dessa dependência pode ser explorada pela Rússia para pressionar a Ucrânia a aceitar termos menos favoráveis. Além disso, a continuidade e a intensidade do apoio ocidental são fatores críticos que moldam as estratégias de negociação ucranianas.
O Papel dos EUA como Garantidor de um Acordo de Paz
Os EUA têm sido um aliado crucial da Ucrânia, fornecendo assistência militar e suporte diplomático. No entanto, eventos recentes levantam dúvidas sobre o compromisso dos EUA em garantir um acordo de paz eficaz. Em fevereiro de 2025, uma reunião na Casa Branca entre o presidente Trump e o presidente Zelensky terminou de forma abrupta e tensa. Trump acusou Zelensky de "jogar com a terceira guerra mundial" e interrompeu um acordo de minerais que estava sendo negociado, ressaltando a falta de cartas na mão da Ucrânia nas negociações.
Logo, podemos ver que Trump está claramente explorando a vulnerabilidade ucraniana apontada acima, visando atingir os seus objetivos geopolíticos.
Outrossim, essa deterioração nas relações entre os EUA e a Ucrânia pode comprometer a capacidade dos EUA de atuar como um garantidor confiável em futuros acordos de paz. A falta de apoio consistente e a pressão para que a Ucrânia faça concessões sem garantias de segurança sólidas podem levar a acordos frágeis e suscetíveis a violações.
O Papel da Europa como Garantidora de um Acordo de Paz
A Europa, especialmente a União Europeia, tem um interesse direto na estabilidade da Ucrânia devido à proximidade geográfica e aos laços econômicos e políticos. Após o encontro tenso entre Trump e Zelensky, líderes europeus reafirmaram seu apoio à Ucrânia. Por exemplo, o presidente francês Emmanuel Macron destacou a resistência ucraniana e reiterou que a Rússia é o agressor.
A solidariedade europeia é crucial para garantir que qualquer acordo de paz seja respeitado. A presença de forças de paz europeias, sanções econômicas coordenadas e suporte político podem servir como dissuasores contra possíveis violações por parte da Rússia. No entanto, a eficácia dessas medidas depende da unidade e determinação dos países europeus em enfrentar possíveis agressões russas.
Além das incertezas nos EUA vistas acima, há divergências significativas entre os aliados europeus quanto ao apoio militar à Ucrânia. Por exemplo, a Eslováquia, membro da OTAN e da União Europeia, decidiu não enviar ajuda militar e financeira à Ucrânia. O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, argumentou que a estratégia de "paz mediante a força" é irrealista e apenas prolonga o conflito. Além disso, outros países europeus, como a Polônia, afirmaram que não contribuiriam com o envio de militares para uma possível força de paz.
Assim sendo, essas divergências internas na aliança europeia contribuem para enfraquecer a posição da Ucrânia nas negociações de paz, aumentando, ainda mais, a sua vulnerabilidade.
Considerações Estratégicas
A dependência da Ucrânia no apoio militar externo limita sua autonomia estratégica. Como observado por alguns analistas, sem o suporte ocidental, a capacidade de resistência da Ucrânia seria significativamente comprometida, possivelmente levando a uma vitória russa inevitável.
Portanto, essa realidade coloca a Ucrânia em uma posição delicada, onde suas decisões de negociação são influenciadas não apenas por suas necessidades e objetivos, mas também pelas prioridades e limitações de seus aliados.
Dessa forma, vemos que a dependência da Ucrânia do apoio militar e econômico de aliados ocidentais é uma espada de dois gumes. Enquanto esse suporte é vital para sua defesa contra a agressão russa, também expõe vulnerabilidades que podem ser exploradas nas negociações de paz. A volatilidade do compromisso dos aliados e as divergências internas entre eles complicam ainda mais a posição da Ucrânia. Para mitigar essas vulnerabilidades, a Ucrânia precisaria diversificar suas alianças, fortalecer suas capacidades internas e buscar garantias de segurança mais robustas e independentes, o que no momento vem se tornando cada vez mais difícil.
Em nossa visão essa é uma lição que deve ser aprendida por países que não possuem um poder militar que possa garantir a sua soberania e os seus interesses nacionais.
Dessa forma, confiar somente na diplomacia é uma miopia estratégica, especialmente num mundo que vem ficando, no sistema internacional, mais realista, fazendo com que vivamos num cenário mais imprevisível e menos seguro como sempre temos afirmado.
O Blog é de opinião que somente com um compromisso internacional sólido e coordenado será possível alcançar uma paz duradoura na Ucrânia.
Além disso, a diferença na postura estadunidense de negociação respeitosa com os russos, considerados agressores pelo direito internacional, e desrespeitosa com os ucranianos, considerados como agredidos, demonstra que está acontecendo um "racha" no mundo Ocidental entre os EUA e os seus aliados europeus.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 25/02/2025:
Matéria de 28/02/2025:
Matéria de 28/02/2025:
Matéria de 28/02/2025:
Matéria de 27/02/2025:
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